A fábrica de conservas de peixe em azeite de Olhão, estava localizada no sítio denominado do Costado, freguesia de Marim, concelho de Olhão, distrito de Faro. Destinava-se a conservas de peixe em azeite, terminando a sua instalação a 20-3-1913 e através de um pedido de alvará de licença para exploração da fábrica passado pela Câmara Municipal de Olhão a 10-9-1917 e laboração pelo Administrador do Concelho em 22-9-1917, tendo concessão de alvará n.º 939 de 17-5-1923.
Em 20-3-1913, este estabelecimento continha: «3 geradores de vapor; 1 motor a vapor; 5 máquinas cravadeiras; 2 aparelhos de iluminação “F P”; 3 bombas de alimentação; 2 (…) de puxar água; 2 cofres de ferro para cozer peixe; 1 estufa para ebulição. Pessoal todos nacionais: 1 mestre fabricante de conservas; 3 empregados de escritório; 25 trabalhadores; mulheres, conforme o peixe que houver».1
Na vistoria realizada à fábrica de Olhão pela Inspeção Geral de Fiscalização do Consórcio Português de Conservas de Sardinha a 14-2-1933, constavam 3 caldeiras a vapor (2 do tipo D Babcok e 1 C-F Fourcy Fils), 2 cozedores (1 de 1m,23 de comprimento, 1m,27 de largura e 1m,52 de altura e outro de 1m,25 de comprimento, 1m,26 de largura e 1m,55 de altura) e 1 esterilizador (de 3m,87 x 1m,25 x 1m,78), 2 caldeiras para peixe grande (1m54 de diâmetro e 0,46 de altura), 6 cravadeiras (5 Karges Hammer (Matador) e 1 de formato redondo). As áreas calculadas nessa vistoria para esta fábrica eram em solo coberto de 9.726m2 e terreno livre 13.282m2. Produzia 848 caixas com o peso líquido de 20.352 kl em 1929, 11.518 caixas com o peso líquido de 276.42 kl em 1930, 21.261 caixas com o peso líquido de 510.264 kl em 1931, 5.925 caixas com o peso líquido de 142.200 kl em 1932, no total de 39.552 caixas e peso líquido de 949.248 kl entre 1929-1934.2
Por despachos ministeriais do Subsecretário de Estado ou do Ministro do Comércio e Indústria era esta fábrica autorizada: a 15-3-1935, a instalar uma máquina de azeitar; a 8-5-1939, a instalar um cozedor simples igual ao aí existente e uma cravadeira Sudry B.C. 15, publicado no Diário do Governo n.º 120 de 25-5-1939; a 5/7-12-1945, a instalar uma máquina de vazio, que estava isenta de autorização do condicionamento industrial ao abrigo do decreto n.º 32.742 de 8-12-1942.3
Nesta fábrica, existiam os seguintes equipamentos, máquinas e produção de energia em 1939: «Recebia energia para iluminação, da Empresa de Electricidade Olhanense Limitada, possuía 3 geradores de vapor e 1 motor de vapor de 18 C.V. Em relação às máquinas para fabricação de conservas existiam 5 cravadeiras Matador, 1 cravadeira para lata redonda, 2 cofres simples, 1 bateria de duas caldeiras de fogo directo, 5 carros para cozedura, 6 carros para estufagem, 1 filtro de pressão normal para azeite, 1 máquina de azeitar. Para fabricar guano havia 2 prensas manuais para aperto de desperdício e 2 dornas para os cozer. Como utensílios diversos eram discriminados, 2 caldeiras de lavagem de grelhas, 1 caldeira para estranhar grelhas, 1 caldeira para fazer solda, 1 engenho de furar, 1 forja de fole e 2 bombas de vapor horizontais para tirar água».4
A fábrica de Olhão, produzia 299 caixas em 1933, 6588 caixas em 1934, e o seu melhor ano de produção foi o de 1927 com 20.000 caixas, conseguindo produzir 25 caixas com as cravadeiras existentes na fábrica.5
Segundo Ana Rita Silva de Serra Faria, esta unidade fabril produzia 10.160 caixas de conservas de peixe em 1938, 12.449 em 1939, 10.430 em 1940, 284 em 1941, 1602 em 1942, 4.032 em 1943, 4.547 em 1944, 2.046 em 1945, 6.802 em 1946, 6.626 em 1947, 4.238 em 1948.6
Luciano Cativo, refere que a fábrica de conservas de peixe em azeite de Júdice Fialho em Olhão, situava-se «a seguir aos antigos estaleiros dos irmãos António e José da Graça, hoje Doca Nova, a que corresponde, mais ou menos, a localização da firma Sopursal. Esta fábrica tinha uma ponte de madeira que entrava pelo mar dentro e se destinava à acostagem das enviadas e buques para descarrego do peixe, e também das barcas para embarque das conservas».7
Em 21-11-1931, esta fábrica recebia a visita de António de Oliveira Salazar, Ministro das Finanças, sendo acompanhado na mesma pelo genro do proprietário: «Vindo de Vila Real de Santo António, chegou aqui [Olhão] o sr. Ministro das Finanças, que era acompanhado pelo seu chefe de gabinete, pelo sr. governador civil e por algumas individualidades daquela vila (…) Na fábrica Júdice Fialho, cujo proprietário se encontra no estrangeiro, foi o ministro acompanhado na visita pelo genro daquele D. António de Sousa Coutinho e pelo sr. Emiliano Ramos (…)».8
Foi a fábrica Júdice Fialho de Olhão, expropriada para obras de alargamento do porto de pesca da localidade, por despacho do Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria a 10-11-1951, conforme circular n.º 786 do Instituto Português de Conservas de Peixe de 16-5-1952, rondando o montante de indemnização, o valor de 701.712$00 escudos.9
Segundo a planta da fábrica de conservas de peixe da Júdice Fialho em Olhão esta era constituída em 1924: 1 – estrada que liga o terreno da fábrica com a vila, 2 – residência do guarda, 3 – poço que fornece água à fábrica, 4 – armazém para desperdício de peixe: prensas para prensar o desperdício de peixe, 5 – casa de ebulição: estufa (1), máquinas certisseuse de K H (3), motor a vapor (1), árvores de 30.000 de cumprimento e 0,05 de diâmetro (1), prensas à volante SS, tesoura mecânica de K H (1), mesa de soldadores para 18 lugares (1), abatage (2), balancés (4), fieira (4), tesoura de mão (1), aparelho de gasolina completo (1), 6 – casa de enlatar: mesas (12), bancos (12), 7 – casa de azeitar: tinas (6), 8 – casa para as grelhas, 9 – adega do azeite, 10 – casa de descabeçar: geradores de vapor de 27 cavalos tipo Babcot (2), bombas Wortington (2), cosedor para peixe (1), tinas de ferro para lavar as grelhas (2) e mesas para descabeçar (12), 11 – casa do sal, 12 – oficina do serralheiro, 13 – casa do carvão, 14 – chaminé, 15 – hangar para enxugar peixe, 16 – escritório e residência do mestre da fábrica, 17 – servidão para o rio, 18 – retretes, 19 – tanque de ferro depósito para água: A – logradouro da fábrica, a – casa do gasómetro de gasolina, b – casa da estanhagem das grelhas.
[1] cf. Para a fábrica de conservas de peixe em azeite de Olhão, consulte-se a monografia de Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes – João António Júdice Fialho (1859-1934) e o Império Fialho (1892-1981), Lisboa: Academia dos Ignotos, 2022, pp. 50-53; e Arquivo Distrital de Faro (ADF), Cota: 5ª CIProc. 1037: Processo n.º 42 Unif. – Alvará n.º 939, documento 1, de 10-9-1917 e documento s/n de 18-5-1950: Relatório do agente fiscal da 5ª Circunscrição Industrial; Arquivo Municipal de Olhão, Licença de Laboração da Fábrica de Olhão de 22-9-1917, Fundo documental do Concelho de Olhão, Série D/C 4, registos de alvarás e licenças 1899-1938; e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra – O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 65-66.
[2] cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Portimão (S. José). Fab. 4.701.109, 1934.
[3] cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL., Olhão, Portimão, Sines, 1936 e Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934.
[4] cf. ADF, Cota: 5ª, CIProc. 1037: Processo Nº 42 Unif. – alvará n.º 939, documento 6 v.º, de 10-2-1939.
[5] cf. ADF, Cota: 5ª CIProc. 1037: Processo Nº 42 Unif. – Alvará n.º 939, documento s/n de 21-2-1935 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 100.
[6] cf. Ana Rita Silva de Serra Faria – A organização contabilística numa empresa da indústria de conservas de peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do séc. XX: o caso Júdice Fialho”, Tese de Mestrado, Universidade do Algarve / Universidade Técnica de Lisboa, Faro, 2001, Anexos, quadro II. 7, op. cit., p. 15.
[7] cf. Luciano Victor Cativo – Ainda Olhão e a Indústria de Conservas de Peixe, 1ª edição, Olhão: Câmara Municipal, 2001, pp. 26 e 105.
[8] cf. Diário de Notícias, ano 67º, n.º 23640 de 22-11-1931, p. 1, Diário da Manhã, ano 1, n.º 232 de 21-11-1931, p. 1 e Século, ano 51, n.º 17853 de 22-11-1931, p. 7.
[9] cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL., Olhão, Portimão, Sines, 1936 e Diário de Notícias de 12-1-1952.