1143, 1385, 1640, 1822, 1910, 1974… datas, efemérides, acontecimentos marcantes da História de Portugal.
A primeira das datas refere-se à fundação de um novo Reino peninsular, o único que sobreviveu à pressão unificadora e garantiu a sua soberania. Ao longo de sete séculos Portugal conheceu um regime monárquico com trinta e quatro reis e duas rainhas, quatro dinastias com diferentes características e desígnios.
A monarquia, na sua forma absoluta, liberal a partir de 1822, durou até 5 de outubro de 1910, data da instauração do regime republicano ou 1ª República. Este foi derrubado por um golpe militar conservador em 1926 que instaurou o regime autocrático, o Estado Novo. Vigente entre 1926 a 1974 foi incapaz de democratizar o País, de o desenvolver e de descolonizar, o bloqueio de soluções políticas e a guerra colonial levaram à tomada de poder pelas forças armadas em 25 de Abril de 1974, foram devolvidas as liberdades cívicas e instituições democráticas eleitas.
Após cinco séculos de colonização nasceram em 1975 sete países soberanos de língua oficial portuguesa, os quais, a par de dezenas de comunidades lusófonas, representam mais de 300 milhões de falantes da língua portuguesa. Monumentos e centros históricos de origem portuguesa, reconhecidos pela UNESCO, existem em todos os continentes, bem como múltiplas expressões do património imaterial.
A 7 de Setembro deste ano comemoraram-se 200 anos da independência do Brasil, País imenso e quase metade da América do Sul. Resultou do encontro, a partir de 1500, entre populações originárias e colonos portugueses, da ida de milhares de escravos africanos embarcados para trabalhar nas plantações e minas, das migrações europeias dos séculos XIX e XX.
O Brasil soberano nasceu da vontade da elite aristocrática de origem portuguesa, que recusou o “Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves” decidido em 1815. Foram razões de autonomia decisória e vantagens económicas que levaram ao “grito do Ipiranga”, Portugal estava enfraquecido, saqueado pelos exércitos franceses, D. João VI não desejava voltar a Portugal, foi obrigado a cumprir as ordens liberais deixando no Brasil D. Pedro como regente.
Portugal era no início do séc. XIX um quase “protetorado”, os britânicos exploravam os recursos nacionais, pressionavam a abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional, diminuindo a importância de Lisboa e das rotas portuguesas.
Portugal fará em breve 900 anos de existência como Estado soberano, uma longa história que oscilou entre as luzes e o progresso, o obscurantismo e estagnação.
A cultura e a língua são a grande herança patrimonial do Pais, a par da diversidade biológica e natural hoje em sério risco.
Em São Paulo, a maior cidade do Brasil, surgiu em 2006 o Museu da Língua Portuguesa, reestruturado em 2021 após incêndio, definindo a língua comum como “bem cultural contemporâneo” orientando-se por um Plano Museológico revisto a cada cinco anos.
É difícil entender que Portugal com uma história tão prolongada e rica de acontecimentos de importância universal, não tenha sido capaz de produzir o mais importante dos museus nacionais, o da sua própria história, patrimónios e língua. Qualquer cidadão consciente, professor ou educador, aluno ou visitante, sente necessidade desse instrumento de conhecimento abrangente e visita, se cientificamente bem estruturado, pedagógico, dinâmico e aberto a actualizações. Espólios e competências não faltam, mas visão estratégica de política cultural.
Celebrar 50 anos de democracia, preparar os 900 anos da Fundação, deveria ter como desígnio e corolário a concepção e abertura do Museu da História, Cultura e Língua Portuguesa.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico