“Os governos têm função primordial na promoção e no fortalecimento de uma Cultura de Paz”.
Artigo 5º da Declaração sobre uma Cultura de Paz, ONU 13 de setembro de 1999.
A história da humanidade evidencia uma permanente e incessante luta de grupos pelo domínio e alargamento de territórios e apropriação de recursos. Quais as causas?
A origem das guerras tem motivado investigação em diversas áreas disciplinares, surgiram teorias filosófico-morais e religiosas, biológicas sobre selecção e sobrevivência (Lorenz), demográficas centradas na sobrepopulação (Malthus), económicas que analisam a apropriação da riqueza por grupos dominantes, culturalistas centradas na transmissão e ritualização de comportamentos, psicossociológicas sobre os instintos agressivos e patologias ligadas ao exercício do poder.
Toda a relação social é cultural, consubstanciada em valores. O ser humano não é naturalmente bom ou naturalmente mau, a educação e cultura determinam as concepções da vida social, a relação com os outros, o conflito e a cooperação.
O antagonismo e o conflito surgem quando grupos humanos desejam os mesmos recursos. A palavra tem nesses contextos função decisiva, Lord Bertrand Russel aconselhava a evitar discursos públicos emotivos. Formas de organização dos sistemas políticos podem prevenir ou evitar a concentração de poder num individuo ou grupo.
Actuar preventivamente sobre as causas dos conflitos é desenvolver valores de paz.
Sociedades educadas para a competição, interna e externa, não só consideram normal a desigualdade social, as supremacias nacionais, económicas, sociais e raciais, como são estruturadas para a exclusão e o uso da agressividade.
As culturas de guerra e de paz estão em oposição, patentes na luta de Ghandi pela descolonização e independência da India, de Mandela na Africa do Sul para acabar com o “apartheid”, ambos apelaram à resistência pacifica e alteraram situações de injustiça.
A Europa do humanismo, do património e das artes, das obras e monumentos que atraem milhões de visitantes, é também uma Europa belicista. Ocorreram no continente devastadoras guerras entre impérios, movimentos civis e religiosos, no século XX duas guerras provocaram no mundo 38 milhões de mortos (1914-18) e 72 milhões (1939-45).
A Europa nunca foi ou sequer é uma unidade cultural, linguística ou religiosa. O continente possui 50 Estados, com percursos históricos, conflitos étnico-culturais, de fronteiras e por recursos, preferível seria um modelo de integração inclusivo, imune a blocos geopolíticos e militares, privilegiando ambiente, economia, cultura e ciência.
A desvalorização das culturas é um rastilho, discursos de superioridade moral, cultural e económica separam os povos, humilham outros e dificultam relações de paz..
A cultura da paz, compreendida e usada nas políticas publicas e na diplomacia, induz vantagens económicas, ambientais e de desenvolvimento social.
Os acontecimentos que vivemos justificam reflexão e discussão aberta, sem preconceitos ideológicos, em particular sobre as causas das guerras, o armamentismo como doutrina geopolítica e de mercado, o papel dos media e da cultura, as fragilidades do sistema alimentar global.