A pobreza é uma realidade cruel, marcada pela incerteza e pela luta diária pela sobrevivência. No entanto, para muitos brasileiros que chegam a Portugal, e especialmente ao Algarve, essa luta tem um peso diferente. “Entre ser pobre no Brasil ou em Portugal, prefiro Portugal”, dizem muitos, e a razão está na dignidade mínima que o país europeu ainda consegue oferecer.
O Algarve tem sido, ao longo dos anos, uma das regiões mais procuradas por imigrantes brasileiros. O clima ameno, a proximidade com o mar e as oportunidades na hotelaria e restauração tornam a região atrativa. Mas, como em todo o país, a crise habitacional e os baixos salários representam desafios significativos.
Carlos Macedo, de 39 anos, chegou a Faro há três anos com a esperança de uma vida melhor. “No Brasil, além da pobreza, havia o medo constante. Aqui no Algarve, posso andar na rua sem medo de ser assaltado ou de ver os meus filhos envolvidos na violência urbana. O salário é baixo, mas ao menos sei que consigo alimentar a minha família”, conta emocionado ao POSTAL.
O custo de vida e as dificuldades
Apesar de o Algarve ser uma região turística e cheia de oportunidades sazonais, o custo de vida tem aumentado drasticamente. A especulação imobiliária e a grande procura por alojamento fazem com que muitos imigrantes acabem por viver em condições precárias. “É difícil encontrar uma casa para alugar que caiba no nosso orçamento. Muitos proprietários pedem contratos fixos e fiadores, algo que muitos de nós não temos”, explica Ana Souza ao POSTAL, que trabalha num restaurante em Albufeira.
Ainda assim, a segurança e o acesso aos serviços básicos continuam a ser fatores determinantes para a escolha de Portugal como destino. “No Brasil, mesmo trabalhando, muitas vezes não conseguimos sair da pobreza. Aqui, se tiveres força de vontade, consegues encontrar um caminho”, afirma Leonardo, que hoje trabalha na receção de um hotel em Portimão.
Saúde e educação: um futuro melhor
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um dos grandes diferenciais que fazem com que muitos brasileiros prefiram enfrentar dificuldades em Portugal. “Aqui sei que, se um dos meus filhos adoecer, ele será atendido. No Brasil, sem dinheiro, ninguém te trata”, relata Carla Mendes, que vive em Quarteira com dois filhos pequenos.
A educação gratuita também é um fator essencial. “Os meus filhos estudam numa escola pública em Quarteira e eu vejo o cuidado que têm com as crianças. No Brasil, a escola pública muitas vezes é sinónimo de abandono e violência”, acrescenta.
Entre desafios e esperança
A vida no Algarve não é perfeita. Os baixos salários, a dificuldade em encontrar habitação e a burocracia podem tornar a adaptação complicada. Mas, para muitos, o saldo ainda é positivo. “Aqui há esperança, há dignidade. Prefiro viver com dificuldades em Portugal do que enfrentar o desespero no Brasil”, conclui Carlos Macedo.
Embora longe de ser um paraíso, Portugal – e em particular o Algarve – oferece algo que muitos brasileiros já não encontram no seu país de origem: a possibilidade de construir um futuro com segurança e dignidade.
Leia também: Moeda de 1 cêntimo avaliada em mais de 500.000€: tem consigo?