O presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) defendeu esta quarta-feira a necessidade de Portugal ter uma estratégia de transportes a longo prazo que reforce a aposta numa ferrovia rápida para melhorar ligações e a competitividade.
Álvaro Beleza, presidente da SEDES, tomou esta posição em declarações à Lusa, à margem de um debate sob o tema “O futuro da ferrovia”, que o núcleo regional algarvio da associação promoveu esta quarta-feira, em Portimão.
“O Algarve em ferrovia é um desastre. Portugal em ferrovia está muito atrasado e a ferrovia é de longe a aposta mais necessária em termos de transportes para o país, sejam transportes urbanos, suburbanos, regionais, nacionais ou internacionais, por várias razões, a começar na ambiental, mas também do conforto das pessoas, da mobilidade e do transporte de mercadorias”, justificou.
A mesma fonte considerou que o “Algarve necessita de facto de investimentos em ferrovia”, porque é uma região onde “se anda muito exageradamente de automóvel e muito pouco de comboio”, e argumentou que, “se houvesse uma ferrovia regional a sério, de Lagos a Vila Real de Santo António, com uma ligação a Beja e a Lisboa, as coisas seriam diferentes”.
“É evidente que este assunto é importante e a SEDES, em termos nacionais, está a pensar fazer uma conferência sobre a questão dos transportes – aeroportos, portos, rodovia e ferrovia – porque isto tem de ser tudo pensado em conjunto e tem de se ter uma estratégia para a rede de transportes”, acrescentou.
Álvaro Beleza sublinhou que a “questão dos aeroportos está intimamente ligada” à ferrovia, sustentando que a existência de uma rede de alta velocidade em Portugal permitiria ter “uma estratégia diferente para as necessidades aeroportuárias”, uma vez que a “transição ambiental” vai levar a que “se use cada vez menos o avião”.
O presidente da SEDES lembrou que Espanha já desenvolveu a ferrovia de alta velocidade com ligação aos restantes países europeus, enquanto Portugal permanece como “uma ilha na alta velocidade”, e isso retira competitividade ao país em termos económicos e de exportação.
“Isto é um desastre para a competitividade do país e é preciso atalhar este assunto a todos os níveis”, afirmou, assinalando também a necessidade de ligar a ferrovia aos portos de Matosinhos, a Aveiro, Figueira da Foz, Lisboa, Setúbal e Sines.
O debate sobre a ferrovia vai contribuir para uma visão estratégica a longo prazo, que definirá depois “quais os investimentos que o país vai ter de fazer na ferrovia, nos portos, nas vias rodoviárias e nos aeroportos, nas próximas décadas”, explicou.
“[O país] Tem de ter ambição, metas e objetivos e depois vai-se fazendo as coisas gradualmente, porque Portugal não pode ser governado dia a dia, tem de haver uma estratégia”, apelou, destacando que a “rapidez” do transporte ferroviário é também importante em termos de mercadorias e de exportação e é um fator que pode afetar a “competitividade” do país.
Álvaro Beleza deu o exemplo de “Sines, que é o segundo maior porto de águas profundas na Europa, depois de Roterdão”, cidade situada nos Países Baixos.
“Espanha não tem [um porto deste tipo], mas se Sines não tiver ligação ferroviária para a Europa e autoestrada, não serve de muito, porque não basta ter o porto, é preciso ter também as ligações”, acrescentou.
Álvaro Beleza defendeu, por isso, que “tem de haver ambição para definir objetivos e planear a 20 anos”, trabalho que a SEDES vai agora fazer, “ouvindo os especialistas sobre este assunto” e “ajudando a pensar numa estratégia” a longo prazo para os transportes e a ferrovia.