“Albufeira é a melhor solução para receber a Central de Dessalinização” a sul do país, revelou António Miguel Pina, presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), à Renascença.
Depois do estudo do impacto ambiental da Central de Dessalinização ter começado com 12 localizações no Algarve, o resultado da melhor opção aponta para “o concelho de Albufeira, próximo do limite com o concelho de Loulé”.
O presidente da AMAL salienta que “é com base nessa expetativa que avança o estudo de impacto ambiental sobre essa proposta”, até março do próximo ano, sendo que daqui a três meses têm de estar prontos os estudos prévios.
“A central ficará onde seja melhor, segundo os estudos de impacto ambiental“
António Miguel Pina
Sobre possíveis riscos com a instalação da dessalinizadora, António Miguel Pina discorda que existam tais riscos. “Fomos ver uma central em Alicante que o débito dessa salmoura se efetua a centenas de metros de uma zona marinha protegida numa convenção europeia que é altamente seguida pela comunidade europeia e por um conjunto de ONGs ambientais e as coisas correm bem. Ao longo da história temos sempre os nossos Adamastores e agora temos esse Adamastor, mas são feitos por pessoas que desconhecem efetivamente aquilo que se passa no mundo”, disse à Renascença, garantindo que “a central ficará onde seja melhor, segundo os estudos de impacto ambiental”.
Autarcas preocupados
Com água nas barragens para assegurar o abastecimento público apenas durante um ano, os autarcas algarvios mostram-se preocupados e a criação de uma central de dessalinização é vista como uma solução para a falta de água, mas o final da construção de uma central de dessalinização só está previsto para 2025.
Se este inverno não chover, há o receio de que, no final de 2023, a água nas torneiras possa sofrer cortes.
“O impacto da falta de água terá efeitos nefastos para o turismo na região”
José Carlos Rolo
Em declarações à SIC, o presidente da Câmara de Albufeira, José Carlos Rolo, já alertou que a dessalizadora para o ano de 2025 será demasiado tarde e “o impacto da falta de água terá efeitos nefastos para o turismo na região”. Enquanto não houver uma solução concreta, é necessário aplicar medidas de poupança dos recursos hídricos. Em Albufeira, à semelhança de vários pontos do país, a Câmara procede à mudança de vários jardins, promovendo a substituição da relva por outras espécies de vegetação que exijam um consumo menor de água. Os sistemas de rega estão também a ser atualizados para rega gota a gota.
Ilha da Culatra vai produzir água doce
Entretanto, na região, a Ilha da Culatra vai ter uma dessalinização não intrusiva para produzir água doce. O projeto venceu recentemente o concurso “SMILO – Zenon Islands fund call” e intitula-se “Culatra2030 – Non intrusive water desalination”. Tem a coordenação de Cláudia Sequeira, André Pacheco, Manuela Moreira da Silva e Ewan Rochard, investigadores do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve,
“A SMILO, Sustainable Islands lançou um concurso internacional para propostas inovadoras de sustentabilidade em ilhas. O CIMA, em colaboração com a Associação de Moradores da Ilha da Culatra, propôs o desenvolvimento de um protótipo de dessalinização não intrusiva, ou seja, dessalinizar água do mar para produzir água doce não potável com recurso a excedentes de produção fotovoltaica”, explicou na altura Cláudia Sequeira.
Sobre as mais-valias deste projeto para a Ilha da Culatra, a investigadora do CIMA e docente do Instituto Superior de Engenharia, considerou que “a grande vantagem será estudar novas soluções modulares de fácil implementação, baixo custo, que não requeiram filtros, membranas, nem produtos químicos e que apresentem baixa manutenção”. Um dos objetivos deste projeto, “será conseguir utilizar o excedente de energia produzida na ilha, e integrá-lo no novo sistema de dessalinização, o que irá permitir um aumento no rendimento na produção de água doce e a redução dos custos de transporte de água para a ilha e, consequentemente, a redução da pegada de carbono”.
Já sobre os resultados esperados, Cláudia Sequeira referiu que os principais impactos serão: “a diminuição do consumo de energia para transporte de água, aumento da disponibilidade hídrica na irrigação das áreas verdes da ilha, lavagem de espaços comuns, produção de gelo para o pescado e produção de sal, bem como melhorar a eficiência do uso da água”.
O projeto vai ser implementado no Centro Social, pelo que é esperado um forte envolvimento da comunidade na gestão sustentável da água, que será acompanhado por ações de compostagem, criação de hortas comunitárias, reativação do armazenamento de água da chuva em cisternas e produção de energia fotovoltaica. “Tudo que contribua para a inserção do Homem no meio ambiente de forma sustentável e equilibrada”, relembrou a investigadora.