A economia de mercado e a globalização deslocaram a produção cultural para um lugar singular no mundo contemporâneo. O acesso cada vez mais fácil aos bens de consumo incentivou simultaneamente uma geração cada vez mais academicamente preparada a um crescente desejo de acesso aos bens culturais, fazendo com que os múltiplos sistemas de criação artística ganhassem, eles próprios, uma dimensão económica e social cada vez mais relevante.
Quando Pedro Cabrita Reis leva ao Louvre a cortiça portuguesa corporizada nas “três graças”, o encenador Tiago Rodrigues deixa o Teatro Nacional D. Maria para abraçar a direção do Festival D’Avignon, Marcelino Sambé é escolhido para bailarino principal do Royal Ballet de Londres ou quando Lídia Jorge é eleita a autora da Feira Internacional de Guadalajara, é toda uma dimensão criativa, de saber e experiências, de convivências e conhecimento que acumulando gerações e gerações de símbolos culturais, tangíveis e intangíveis, expressam a identidade de um povo e de um território, conferindo-lhe notoriedade e reconhecimento.
Tal como nas últimas décadas, se fez com o ambiente e a necessidade da sua preservação matéria transversal a todas as áreas do desenvolvimento humano e mais recentemente se incorporou a ciência e a investigação como áreas decisivas para a modernização da economia e o crescimento do país também a política cultural deve ser incorporada em todas as áreas do progresso social.
“É uma forma diferente de dar-nos a ver e a conhecer“
Tal desígnio é particularmente importante para o Algarve onde a oferta turística do descanso e lazer muito assente no sol, praia e golfe pode ganhar uma nova dimensão e competitividade com a introdução do conceito de conhecimento e descoberta da história, da arte, do património, das tradições, dos costumes e dos hábitos. Isto é, uma forma diferente de dar-nos a ver e a conhecer através da cultura e da natureza que implique a valorização da criatividade artística e a proteção do património cultural e natural que nos identifica e singulariza.
O programa cultura em rede, promovido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Algarve em parceria com os municípios que já mobiliza 800 mil euros para a programação cultural, o “novo” Museu Municipal de Lagos “Dr. José Formosinho”, a conclusão da museulização da Fortaleza de Sagres e o novo centro interpretativo dos descobrimentos, o projecto “lavrar o Mar”, o “novo” Cineteatro António Pinheiro, em Tavira, são alguns dos projetos que foram apoiados nos últimos anos e que vão no sentido de dotar o Algarve de equipamentos e programação cultural de relevo.
O próximo ciclo de apoios comunitários deve ser a oportunidade de dar um novo impulso a este rumo desde logo com a valorização da impar criatividade artística do LAC, em Lagos, e da 289 em Faro e a sua relação com o curso de artes visuais da Universidade do Algarve e o contributo para a dinamização da arte contemporânea no Algarve, os projectos TASA e Loulé Criativo, o quarteirão cultural em Loulé, a recuperação da antiga fábrica da cerveja, na cidade velha de Faro, o Museu do Mar em Olhão, a valorização do castelo de Aljezur e do Rabat da Arrifana, são apenas alguns dos projectos que podem contribuir para dar corpo a uma oferta turística regional de conhecimento e descoberta cultural se conseguirmos trabalhar em rede somando aos fundos comunitários e aos apoios nacionais uma crescente valorização da cultura nas políticas e da sua representação nos orçamentos dos nossos municípios.