A resiliência dos empresários do turismo e dos seus trabalhadores tem sido verdadeiramente notável, ultrapassando dificuldades e não se conformando com o panorama endémico, tendo aproveitado as conjunturas para melhorar e criar riqueza para o País, independentemente dos enormes constrangimentos e vicissitudes a que têm sido sujeitos, sobretudo nos últimos anos.
Todos os elementos estatísticos demonstram a capacidade do turismo para enfrentar ciclos económicos menos bons, com os vários indicadores a dar nota de uma sustentação e estabilização do sector, consubstanciados em resultados operacionais positivos.
Porém, os bons resultados operacionais a nível macro não espelham nem se reflectem na realidade das empresas, ou seja, o aumento do número de turistas, dormidas e gasto médio, não considera outros factores a jusante destas estatísticas.
É verdade que o investimento em Portugal, incluindo o investimento no sector do turismo, foi alavancado maioritariamente em capitais alheios, o que vem impedindo as empresas de recorrer a financiamento externo, atendendo aos desequilíbrios que se verificam na sua situação financeira.
Na falta de crédito e negócio, muitas empresas vêem-se forçadas a encerrar nos períodos de menor procura, afectando o desemprego e impondo às empresas o recurso à contratação laboral a termo e outras formas em lei permitidas.
Encargos fiscais e parafiscais muito elevados, já para não falar dos enormes custos de contexto e burocráticos, falta de capitais próprios e restrição no acesso aos capitais externos, associado ao cariz sazonal e à laboração contínua da actividade turística, colocam problemas acrescidos e muito superiores aos de outros sectores económicos.
O turismo é condicionado pela sazonalidade e, por essa via, pelos picos de negócio que apenas se verificam em alguns períodos do ano, necessitando, por isso mesmo, de recorrer forçosamente a contratos a termo e outras formas de contratação ditas atípicas, enquanto ferramentas de gestão absolutamente vitais para as empresas.
Entre os vários problemas estruturais que o Algarve atravessa, o problema social é, porventura, o que mais deve preocupar os diversos agentes económicos, sociais e políticos regionais e nacionais. Em boa verdade, o Algarve não dispõe de mão-de-obra disponível para responder às necessidades empresariais do sector hoteleiro da região.
É também verdade que alguma da mão-de-obra ocasional e temporária está a ser contratada nas aldeias e vilas alentejanas mais próximas do Algarve, através do recurso a esquemas alternativos de contratação e transporte diário em carrinhas, uma vez que não é previsível a resolução dos actuais estrangulamentos existentes, nomeadamente em matéria de mobilidade entre as zonas de maior concentração de trabalhadores e os respectivos locais de trabalho.
Em termos gerais, podemos afirmar que as profissões hoteleiras são pouco atractivas, na justa medida em que remuneram mal, atendendo à obrigatoriedade em cumprir horários rotativos, carga horária acima da média, contratação a termo, deslocações caras e, por conseguinte, pouca estabilidade laboral e familiar, etc.
Tudo isto aliado à não existência de carreiras profissionais e uma sazonalidade que teima em permanecer e até a acentuar-se, desmotivam os potenciais trabalhadores interessados encaminhando-os para outras áreas de actividade, mais promissoras em matéria de garantias de estabilidade financeira, familiar e profissional.
Por tudo o que fica exposto, os poderes públicos estão obrigados a definir e implementar estratégias de imigração controladas, tendo em vista suprir as necessidades de mão-de-obra existentes, conjugadas e articuladas com as autarquias, especialmente no que se refere à construção de habitação social a custos controlados, sem o que não será possível continuar a atrair trabalhadores e competências para a região.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico