A era do trabalho que caracterizou o mundo até ao aparecimento e forte expansão das novas tecnologias, articulada com o sucesso das medidas económicas de excepção introduzidas na Europa a seguir à Segunda Grande Guerra, o Plano Marshal, assim como a implementação de novas políticas sociais deram lugar a uma nova civilização – a do lazer. A civilização do século XXI ficará certamente para a História como a civilização do lazer.
E isto porque o trabalho/esforço, embora nunca vá acabar na sua totalidade, está a ser substancialmente reduzido, atendendo a que o número de pessoas libertas é cada vez maior, as máquinas fazem tudo, incluindo pensar por nós.
Os horários de trabalho vêm sendo diminuídos, as reformas já se concedem na juventude e a esperança de vida aumenta todos os dias. Num prazo não muito distante, a inactividade será a constante e o trabalho a excepção.
Todos os algarvios devem viver bem e com uma exclusão cultural, social e económica esbatida ao mínimo
A sociedade do futuro terá assim tendência para ser cada vez mais rica, menos ocupada, mais estandardizada e consumista. Tudo isto vai contribuir para o crescimento dos fluxos turísticos internacionais e domésticos, o que vai obrigar a um maior investimento em infra-estruturas, transportes, alojamento, etc.
A nova dinâmica económica mundial é agora turística, tal como no passado foi agrícola e industrial.
O turista do futuro, um consumista consciente dos seus direitos, será um turista exigente e precisará ocupar o tempo, obrigando os destinos turísticos a novos desafios, designadamente no que se refere à instalação de uma rede de turismo ocupacional.
Esta rede deverá integrar, entre muitas outras, actividades culturais, de animação e desportivas, como campos de golfe, por exemplo, em oposição a explorações agrícolas deficientes, pouco ou nada rentáveis, e terrenos abandonados sem qualquer utilização.
A civilização do lazer é, pois, um negócio em franca expansão. Ora, e uma vez que as regiões e os países se desenvolvem em função das suas vocações, teremos de concordar que o Algarve, incluindo naturalmente o interior e a serra, se encontra especialmente bem posicionado para responder com sucesso a estes desideratos.
A preservação dos equilíbrios ecológicos e ambientais e a recuperação, conservação e valorização dos diversos patrimónios, ricos em toda a serra algarvia, são indispensáveis para a afirmação e consolidação de toda a actividade turística do Algarve, assumindo-se ainda como elementos decisivos numa estratégia de diferenciação e competição face a outros concorrentes.
O pilar principal e base de motivação da indústria turística assenta numa mensagem de paz e humanismo, e no princípio da cooperação, elementos essenciais à interligação entre os povos, condições sem as quais o turismo não se expande nem se desenvolve.
Daí que as Nações Unidas, na sua “Declaração do Milénio”, tenham apontado, muito justamente, o turismo como um sector económico decisivo e fundamental para a redução da pobreza nas zonas rurais e agrícolas, as mais ameaçadas pelo declínio das actividades tradicionais.
A realização de Estudos Científicos Independentes, como a substância e dinâmica da actividade turística, o turismo na economia e nas transformações sociais e a implantação territorial, são indispensáveis para ajudar a definir e implementar políticas mais positivas e tomar decisões mais serenas, qualificando quer o ensino e a acção dos decisores, quer as populações e os agentes económicos em geral.
O turismo precisa de um ambiente positivo na política, na administração e na opinião pública para se poder desenvolver de uma maneira sustentável.
O Algarve tem de passar a ser uma região coesa, solidária e fraterna. Em graus diferentes, todos os algarvios devem viver bem e com uma exclusão cultural, social e económica esbatida ao mínimo.
O turismo não só não é a panaceia de todos os males do Algarve, como muitos pretendem fazer crer, como é uma boa solução, talvez a única, para atingir esse grande desiderato e que, por isso mesmo, nos deve mobilizar a todos, tanto mais que os valores turísticos não são fisicamente transferíveis, exigindo a deslocação dos utilizadores/consumidores ao local de produção dos serviços.
O facto do turismo ser uma actividade de pessoas para pessoas casa bem com a civilização do lazer em construção.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia