Desde os primórdios da humanidade, quando o homem ainda não tinha um domínio completo da linguagem e da escrita, que a arte esteve presente nas manifestações simbólicas, em particular nas pinturas rupestres localizadas nas cavernas. Mas, para além da dimensão comunicacional, a arte tem tido uma dimensão emocional nas expressões humanas.
Inclusivamente, por vezes parece que sentimos na pele a emoção induzida por uma obra de arte. Nesses momentos, há que saber apreciar, fruindo com a sensação corporal produzida.
A fruição e a produção artística parecem encontrar no Algarve condições climatéricas excelentes. Com uma luz que permite uma cor e um brilho especiais, vários artistas de renome, portugueses e estrangeiros, têm vindo residir para o Algarve nos últimos anos. Desta forma o Algarve tem sido, não apenas local de fruição, mas também espaço e tempo de produção artística no âmbito das Artes Visuais.
Num projeto iniciado já no século XXI, no Algarve começou-se também a desenvolver o conhecimento e a investigação no domínio das Artes Visuais, tendo a Universidade do Algarve (UAlg) sido essencial para isso, com a abertura da licenciatura em Artes Visuais, permitindo a existência no Algarve dum ambiente formal para aprendizagem no âmbito das artes visuais. Com um corpo docente constituído sobretudo por artistas, os alunos têm tido oportunidade de vivenciar de perto o mundo da arte na sua complexidade e articulação entre a teoria e a prática. Além disso, beneficiam duma formação multidisciplinar, em que o desenho, a pintura, a escultura, a fotografia, a videoarte e a arte digital/multimédia se complementam na sua formação.
A criação do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) foi também essencial neste processo, sobretudo do ponto de vista da investigação em Artes Visuais, permitindo a construção do conhecimento neste domínio, mas estando este muito associado à própria formação dos alunos, sobretudo ao nível do mestrado e do doutoramento no âmbito das Artes Visuais, que abriram mais recentemente na UAlg. Assim, o centro de investigação e a formação em Artes Visuais interligam-se quase como um laboratório de criação e aprendizagem neste domínio científico/artístico, em que a arte e a ciência se entrecruzam, tornando-se a arte ciência e a ciência arte.
A relação com a comunidade tem sido desde o início um dos aspetos muito valorizado pela equipa de docentes, sendo constantemente feitas mostras ou exposições do trabalho artístico produzido nas atividades letivas, em particular pelos próprios alunos. Muitas das atividades de mostra do trabalho produzido, permitindo a fruição por parte dos “espetadores”, têm sido realizadas na Galeria Trem, em Faro, ou no Convento de Santo António, em Loulé, expressando o reconhecimento e o apoio que ambas as autarquias têm proporcionado às Artes Visuais na UAlg.
Mas não é apenas ao nível do Ensino Superior que as artes têm tido um incremento no Algarve. Também ao nível do Ensino Básico e Secundário têm ocorrido iniciativas que procuram sensibilizar os estudantes para as artes e cultura, bem como têm sido realizadas atividades que pretendem contribuir para o desenvolvimento cultural na comunidade.
Neste âmbito destacaria a iniciativa “PELE – Percurso Artístico Faro”, lançado oficialmente no dia 29 de março e inserido na Bienal Cultura e Educação do Plano Nacional das Artes. Trata-se de um percurso que apresenta o trabalho desenvolvido nas diferentes escolas do Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa durante o ano letivo, tendo como impulso a PELE: estímulo para a criação e fruição artísticas, explorando todas as suas possibilidades, conceito para uma mudança das metodologias utilizadas em sala de aula (sentir na pele).
A Bienal Cultura e Educação 2023 decorre de 1 de março a 30 de junho de 2023, tendo uma dimensão nacional e sendo dirigida à infância e juventude, visando refletir e disseminar o lugar das expressões e das linguagens artísticas na educação, formal e não formal, através de uma programação cultural integrada e diversa, com o grande objetivo de transformar as instituições culturais em território educativo e as escolas em pólos culturais. Trata-se de um movimento para reconhecer quem está a trabalhar para o público infanto-juvenil e reforçar redes de colaboração e circulação.
A cidade de Faro acolheu este evento na semana do 24 a 28 abril, com um programa que incluiu exposições, espetáculos, concertos, visitas, conferências, oficinas, entre outros, para valorizar a criação e a programação para a infância e a juventude, os artistas, os professores e os mediadores, quer nas instituições culturais, quer nas educativas.
Com a PELE pretendeu-se trazer a escola para a rua, derrubando os seus “muros” e abrindo-a para os espaços da arte, cultura e lazer da cidade, permitindo que a Rua de Santo António, a Alameda João de Deus, etc, se enchessem de ritmo, cores, sabores e, sobretudo, gentes.
O Agrupamento Pinheiro e Rosa tem sido pioneiro numa série de iniciativas e mais uma vez revelou o seu potencial e constituiu exemplo ao nível do papel da escola nas artes e na cultura, envolvendo as associações culturais e artísticas locais.
Cada vez mais a escola deve estar inserida na comunidade e esta na escola, numa interação constante, permitindo que os espaços e os tempos de aprendizagem e desenvolvimento sejam constantes e diversificados.
Naquele que foi o meu primeiro artigo científico, ainda como estudante finalista na Universidade de Coimbra, intitulado “O sentido da Escola”, em 1989, salientava que a escola deveria ser cada vez mais um espaço e tempo de aprendizagem e desenvolvimento com prazer para quem aprende e para quem ensina.
A arte, enquanto catalisadora de emoções positivas, pode constituir um instrumento importante neste sentido…