Durante mais de quatro décadas, Marianne percorreu as estradas da Bretanha de bicicleta, com sacos de correio às costas e o tempo quase sempre contra si. Aos 66 anos, já reformada, recorda uma vida dedicada à entrega de cartas e revela quanto recebe hoje de pensão: 1.240 euros líquidos por mês. “Trabalhei toda a vida à chuva”, resume, com a serenidade de quem sabe o valor do esforço.
Natural da região francesa de Ille-et-Vilaine, Marianne começou a trabalhar cedo, primeiro numa exploração leiteira e depois na empresa pública La Poste, onde ingressou em 1979. Na altura, o serviço ainda fazia parte da administração pública e era conhecido como “PTT”. “Eu era funcionária titular”, recorda em declarações citadas pelo portal espanhol Noticias Trabajo.
Aos 20 anos, casou-se e mudou-se para a Bretanha. Foi nessa altura que trocou o campo pela correspondência. “Repartia cartas do lunes ao sábado, fizesse sol, frio ou chuva. Conhecia todos os vizinhos das aldeias por onde passava”, conta.
Uma vida entre cartas e quilómetros
Durante 41 anos, o seu percurso profissional manteve-se praticamente inalterado. A única pausa foram as licenças para cuidar dos três filhos. “Interrompi a carreira três vezes, mas voltei sempre ao mesmo serviço, com as mesmas rotas”, explica.
Ao longo do tempo, assistiu a várias transformações dentro dos Correios. O que antes era uma instituição pública passou a sociedade anónima, com capital estatal. Mesmo assim, metade dos funcionários ainda trabalhava sob o regime da função pública quando Marianne se reformou, em 2020.
O salário final que recebeu rondava os 1.610 euros líquidos por mês. A pensão, tal como nas restantes carreiras públicas francesas, é calculada com base na média dos últimos seis meses de trabalho. “É o sistema justo que tínhamos, embora o valor não seja alto para tantos anos de serviço”, admite.
Reformada, mas ainda ativa
Marianne reconhece que, apesar de tudo, é uma das afortunadas. “Tive estabilidade, algo que hoje quase ninguém tem. Agora a maioria é contratada com regras do setor privado, com menos proteção e menos benefícios”, comenta.
Embora o montante da pensão seja inferior ao que esperava, a reformada valoriza o tempo que ganhou. “Depois de tantos anos a trabalhar, agora posso passear sem pressas e cuidar dos meus netos”, afirma.
A reforma chegou pouco antes dos 62 anos, o que lhe permitiu escapar às mudanças introduzidas pela reforma do sistema francês em 2023. Ainda assim, acredita que “as novas gerações terão de trabalhar mais e por menos”.
O vínculo com o serviço postal
Para Marianne, ser carteira era mais do que uma profissão. “Fazia parte da comunidade. As pessoas confiavam em mim e esperavam-me todos os dias”, diz. Em aldeias pequenas, o carteiro era também o rosto da ligação com o exterior. “Levámos notícias, pagamentos e até palavras de consolo. Era um trabalho humano.”
A rotina, contudo, exigia resistência. “Chuva, vento, calor… todos os dias em cima da bicicleta. E havia épocas em que o correio parecia não ter fim”, recorda, rindo.
Os anos de serviço deixaram marcas, mas também amizades duradouras. “Ainda hoje me escrevem algumas das pessoas a quem entregava cartas. Fazem-me sentir que o esforço valeu a pena”, confessa.
O futuro depois das cartas
Agora reformada, Marianne continua a viver na mesma região e mantém hábitos simples, segundo a mesma fonte. Recebe ainda alguns benefícios simbólicos do antigo empregador, como isenção em serviços bancários e uma assinatura telefónica gratuita. “São pequenas ajudas, mas contam”, reconhece.
Mesmo com a reforma, continua a acompanhar as mudanças nos Correios e lamenta a perda de proximidade entre carteiros e cidadãos. “Hoje há mais máquinas e menos pessoas. Aquilo que tínhamos era uma relação, não apenas um serviço”, reflete.
De acordo com o Noticias Trabajo, o testemunho de Marianne é o retrato de uma geração que cresceu com estabilidade e terminou a carreira num mundo em transformação. O valor da sua pensão pode parecer modesto, mas espelha uma vida inteira de trabalho constante e dedicação ao serviço público.
Com um sorriso discreto, diz que não se arrepende de nada. “Passei a vida a entregar cartas. Agora entrego tempo à família, e isso vale mais do que qualquer aumento.”
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