O projeto Sardinha 2020, que avalia o ‘stock’, habitat e mortalidade dos peixes pelágicos, vai ser prolongado até 2022, após atrasos devido à covid-19, esclareceu o Ministério do Mar à Lusa, fazendo ainda um balanço positivo desta iniciativa.
“Na sequência de atrasos na execução do projeto, motivados com as medidas de confinamento e outras relacionadas com a pandemia de covid-19, foi solicitada à agência financiadora, Mar 2020, uma reprogramação do projeto, que considerasse uma data de final do projeto a 31 de dezembro de 2022”, adiantou, em resposta à agência Lusa, o Ministério do Mar.
Inicialmente, o encerramento do projeto estava agendado para 31 de dezembro do corrente ano.
O pedido de reprogramação foi submetido, dentro do prazo estipulado, aguardando agora a respetiva aprovação formal.
O projeto Sardinha 2020 conta com 1,2 milhões de euros de fundos europeus para o desenvolvimento de um plano de gestão para a pesca do cerco, em linha com as diretrizes da Política Comum de Pescas.
Para o executivo, este projeto, desenvolvido pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), é “ambicioso, envolvendo uma equipa alargada que faz estudos sobre a biologia, habitat e o ‘stock’ das espécies pelágicas, como a sardinha e o biqueirão.
O Sardinha 2020 analisa ainda a “dinâmica da pescaria”, tendo em vista a gestão bioeconómica da pesca do cerco.
“Em particular, desenvolveram-se vários estudos para poder estimar as principais causas de mortalidade dos peixes pelágicos como a sardinha, como a predação e competição alimentar, impacto das variáveis ambientais como a temperatura, acumulação de contaminantes, incluindo os microplásticos e acumulação de parasitas”, precisou o ministério liderado por Ricardo Serrão Santos.
Por outro lado, foi estudado o crescimento e reprodução das espécies e o impacto dos fatores ambientais, tendo ainda sido desenvolvido um modelo hidrodinâmico da costa continental portuguesa e um modelo de dispersão dos estádios iniciais do desenvolvimento da sardinha, “para poder avaliar os fatores hidrodinâmicos que caracterizam anos de bom e mau recrutamento”.
Por forma a auxiliar na gestão das pescas, estão planeadas “experiências complementares em condições controladas”, realizadas na Estação de Piscicultura de Olhão, com o objetivo de conhecer os fatores que determinam a mortalidade da sardinha e de outros peixes.
De acordo com a informação enviada à Lusa, foram já realizadas quatro campanhas acústicas de avaliação do recrutamento da sardinha, em colaboração com Espanha.
Na sequência destas campanhas, foram analisados os dados recolhidos de modo a obter estimativas de abundâncias e biomassas de outras espécies pelágicas, como a cavala, bem como aplicadas “novas metodologias de estimação e de análise”.
O Ministério do Mar considerou que o conhecimento sobre a pesca do cerco foi “significativamente” melhorado, “com a caracterização detalhada da frota, o mapeamento dos pesqueiros e do respetivo valor económico bruto e a avaliação da importância económica, social e cultural da pesca e da indústria conserveira”.
Paralelamente, foi desenvolvido um modelo do ecossistema da plataforma continental portuguesa, que avaliou cenários de alterações climáticas, relações predador-presa e da da pesca na dinâmica do ecossistema e na população da sardinha.
“Foram desenvolvidos modelos bioeconómicos uni-específicos para a gestão da sardinha, carapau e cavala e um modelo bioeconómico de gestão conjunta das três espécies”, acrescentou.
Está ainda em curso o estudo da integração de variáveis ambientais que ajudem a previsão do recrutamento da sardinha, bem como análises sobre a distribuição espacial dos juvenis de sardinha e de outras espécies, “que venham a auxiliar a identificação de zonas e períodos de proteção do recrutamento”.
Contudo, as restrições impostas para travar a propagação da pandemia de covid-19 travaram os planos para a apresentação dos resultados do projeto ao setor do cerco e para a respetiva discussão, iniciativa que será planeada “para logo que possível”.
Apesar de ser o projeto “mais significativo”, o Sardinha 2020 não é o único que avalia esta espécie, sendo que, segundo o Ministério do Mar, organismos como o IPMA ou a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) mantêm-se envolvidos, “de uma forma praticamente constante”, noutros trabalhos, como o Sardinomics e Sarditemp, financiados pelo Mar 2020 e FCT.
“Quando abrirem chamadas relevantes para projetos, a equipa do IPMA irá concorrer para responder a questões em aberto e poder dar sequência à investigação que tem vindo a realizar, mas neste momento, não existe nenhum projeto novo em concreto a começar”, referiu.
A DGRM, por seu turno, tem participado em projetos relativos aos pequenos pelágicos, em colaboração com Espanha, a Comissão Europeia e o Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES, na sigla em inglês).
O Governo notou que a gestão das principais espécies de pequenos pelágicos (sardinha, biqueirão, sarda, cavala e carapau) está dependente, em grande medida, de iniciativas desenvolvidas por Portugal e Espanha.
Estes dois países, “não só solicitam como financiam diretamente o trabalho do ICES, como ainda solicitam o desenvolvimento de ações de investigação concretas por parte dos organismos científicos dos dois países, e apoiam administrativamente a prossecução dos projetos submetidos ao programa Mar 2020”, concluiu.