A história de Rafael Zafra tornou-se exemplo de um fenómeno que se repete entre muitos jovens em Espanha e até em Portugal: mesmo após anos de formação académica, encontram no estrangeiro condições salariais e de estabilidade que dificilmente conseguem no país de origem. Formado em medicina, Rafael decidiu deixar temporariamente a profissão e mudar-se para Berlim, onde começou a trabalhar na restauração e viu o salário subir de forma significativa.
De acordo com o jornal El Español, o médico recebia cerca de 1.400 euros mensais enquanto exercia em Espanha. Ao chegar à Alemanha, encontrou rapidamente trabalho fora da área clínica e passou a ganhar cerca de 3.200 euros por mês, valor que descreve como “imprescindível” para se manter enquanto trata da homologação do diploma.
Início de carreira condicionado
Segundo a mesma fonte, Rafael terminou o curso no ano passado e sentiu que o mercado espanhol não oferecia o arranque profissional que procurava. “Terminei a carreira e percebi logo o panorama que se vivia”, afirmou, referindo-se às dificuldades que os jovens médicos enfrentam para conseguir contratos estáveis.
Escreve o jornal que a carga laboral excessiva e a incerteza contratual pesaram na decisão de emigrar. O próprio explicou que não via alternativa imediata: “Decidi que o melhor caminho era sair de Espanha e procurar trabalho no que fosse, enquanto tratava da equivalência do meu título.”
Emigrar, trabalhar e esperar
O jovem escolheu a restauração como solução transitória. Apesar de não ser a área para a qual estudou, a decisão permitiu-lhe obter autonomia financeira. O contraste salarial foi uma das razões que o surpreendeu.
“Com o que ganhava em Espanha, não conseguia avançar. Aqui, pelo menos, tenho margem para me organizar”, refere ao mesmo jornal.
Esta estratégia é comum entre jovens qualificados que chegam a países com mercados laborais mais robustos. Alemanha, Islândia, Suécia e outros destinos europeus têm atraído graduados das áreas de saúde, engenharia e tecnologia, interessados em melhores condições de progressão.
Um país que perde talentos e outro que os absorve
A saída de jovens qualificados representa uma perda significativa para Espanha, que investe na formação académica destes profissionais. A cada ano, dezenas de milhares de jovens com menos de 35 anos procuram oportunidades noutros países, fenómeno que alimenta debates sobre salários, condições laborais e políticas de retenção.
Conforme a mesma fonte, Rafael acompanha este movimento, mas mantém o foco no futuro médico que espera construir na Alemanha. O aumento previsto para o salário após a equivalência do diploma reforça essa expectativa. “Quando estiver a trabalhar como médico, no primeiro ano de residência posso chegar aos 100.000 euros brutos. E depois tende a subir”, afirmou.
Entre o presente e o que ainda está por vir
O El Español explica ainda que Rafael encara o emprego na restauração como etapa temporária, enquanto aguarda a integração no sistema de saúde alemão. A mudança, que começou por necessidade, transformou-se numa oportunidade de reorganizar prioridades e projetar uma carreira que, acredita, poderá desenvolver em melhores condições.
A sua experiência representa um percurso que muitos jovens espanhóis reconhecem: optar por sair do país para encontrar estabilidade profissional, ainda que isso implique começar numa área diferente da que estudaram.















