Cerca de uma centena de pessoas concentrou-se este sábado em Faro no início do protesto pelo direito à habitação, pela redução do custo de vida e pelo aumento dos salários.
A concentração iniciou-se por volta das 15:00, no jardim Manuel Bivar, no centro da capital algarvia, e cerca de uma hora depois eram já mais de cem as pessoas, de cerca de nove movimentos cívicos, no protesto promovido pelo Movimento “Porta a porta“.
A representante do Porta a Porta, Ana Tarrafa, disse à agência Lusa que a afluência de manifestantes “superou as expectativas, numa região onde o turismo acentua a falta de casas para arrendamento, para médicos, professores e estudantes, entre outros”.
Para Ana Tarrafa, a falta de casas para arrendamento anual, a preços comportáveis, “é uma realidade que se acentua cada vez mais no Algarve, que se reflete no problema de atrair e fixar profissionais para diversos setores de atividade”.
“Essas pessoas, algumas com salários até acima da média nacional, não conseguem encontrar habitação a preços razoáveis e consentâneos com os seus rendimentos”, notou.
A representante do Porta a Porta considera que a falta de casas para arrendamento, com “a especulação imobiliária refletida no custo com a habitação, é um dos maiores problemas deste século”.
“Estamos a enfrentar um grave problema, porque a habitação é neste momento uma necessidade urgente para milhares de pessoas em todo o país”, apontou.
Ana Tarrafa adiantou que a urgência do problema “reflete-se na presença de dezenas de pessoas de todas as faixas etárias e profissões na manifestação, porque os pais não conseguem ajudar os filhos e ao mesmo tempo, os filhos não conseguem ajudar os pais”.
“Muitas famílias estão confrontadas com encargos elevados de juros com prestações de casas aos bancos e não conseguem ajudar na independência dos filhos, nomeadamente para se estabelecerem em casas próprias para prosseguirem as suas vidas”, concluiu.
Os manifestantes seguiram depois em cortejo por algumas artérias da cidade de Faro, ostentando cartazes onde se podia ler “baixem as rendas, subam os salários”, “O custo de vida aumenta, o povo não aguenta” ou “Basta de alojamento local, libertem casas para as famílias”.
Ao mesmo tempo, entoavam palavras de ordem como: “A habitação acessível é um direito” e “Estamos fartos de escolher, pagar casa ou comer”.
Centenas de pessoas iniciam protesto em Lisboa pelo direito à habitação e justiça climática
Várias centenas de pessoas começaram a juntar-se, em Lisboa, para o protesto pelo direito à habitação e pela justiça climática.
Pelas 15:00, centenas de manifestantes aglomeravam-se na Alameda D. Afonso Henriques, aproveitando as poucas sombras disponíveis, munidos com faixas, tambores, bandeiras e casas de cartão.
As plataformas Casa para Viver e ‘Their Time to Pay’ promovem este sábado um conjunto de manifestações pelo direito à habitação e pela justiça climática.
“Lutamos pelo direito à habitação e por permanecer nos espaços, por uma vida digna para todas as pessoas e por medidas que travem a crise climática. Estas são duas lutas contra o capital, que coloca a especulação e o lucro acima da vida”, lê-se na informação difundida pelas duas plataformas.
Os protestos começaram esta manhã no Barreiro, Beja, Évora, Portalegre e Tavira.
Da parte da tarde, além de Lisboa, estão agendadas manifestações no Porto, Aveiro, Braga, Coimbra, Covilhã, Guimarães, Lagos, Leiria, Portimão, Viseu, Samora Correia e Alcácer do Sal.
Habitação: Como elementos centrais, é exigido
— Acabar com os despejos, as desocupações e as demolições sem alternativa de habitação digna que preserve o agregado familiar na sua área de residência;
— Baixar as rendas e fixar os valores, indexando aos rendimentos dos agregados familiares, nunca excedendo os 20%, e garantir a renovação dos contratos em vigor e a estabilidade residencial;
— Controlar preços nos sectores essenciais (alimentação e água; electricidade e aquecimento; arrendamentos de casas; saúde e cuidados);
— Baixar as prestações do crédito à habitação para um valor suportável nos orçamentos familiares, nos rácios internacionalmente estabelecidos, como é o caso das indicações da ONU, bem como fixar pelo banco público um spread máximo de 0,25%, e recorrer a medidas de urgência como as tomadas no tempo da pandemia nesta matéria;
— Rever as licenças para especulação turística: alojamentos locais, hotéis e apartamentos turísticos, garantindo a entrada desses imóveis no arrendamento urbano;
— Promover medidas céleres e funcionais para integrar no mercado de arrendamento os imóveis devolutos das empresas imobiliárias, fundos de investimento e grandes proprietários existentes no país, incluindo os imóveis do Estado nesta situação;
— Criar rapidamente mais alojamento estudantil e tomar medidas de urgência para garantir que todas as pessoas colocadas no ensino superior não abandonam o mesmo por falta de condições para ter acesso à habitação;
— Aumentar a habitação pública, social e cooperativa de qualidade;
— Acabar, de facto, com os vistos gold, com o estatuto do residente não habitual, com os incentivos para nómadas digitais e com as isenções fiscais para o imobiliário de luxo e para as empresas e fundos de investimento;
— Acabar com os paraísos fiscais;
— Adoptar energia renovável descentralizada, baseada na comunidade e controlada democraticamente, para atingir os 100% de eletricidade renovável até 2025;
— Tornar os transportes públicos gratuitos para toda a gente.
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