Cem anos depois da sua construção, a Casa 1923 volta a abrir portas, renovada, com novas valências, mas fiel ao desenho original, aos materiais e aos elementos decorativos da época.
Foi amor à primeira vista pela fachada de azulejos coloridos, do número 53, da Rua Almeida Garrett. Vânia Brito Fernandes, algarvia, arquiteta, quis fazer desta a sua morada, consciente do desafio que seria a recuperação do edifício raro na cidade de Faro.
A casa de estilo Arte Nova, com elementos decorativos Art Déco, mas também do que representava o resgate deste património centenário, fica a poucos metros de distância da Marina e da Vila Adentro, o centro histórico.
A PAr – Plataforma de Arquitectura, a qual a proprietária integra, com as sócias Joana Carmo Simões e Susana dos Santos Rodrigues, assinou o projecto de renovação e ampliação do edifício. Não comprometeu a sua identidade e recurreu aos saberes e materiais tradicionais da região. É este o foco do trabalho do atelier, que privilegia a reinterpretação das culturas arquitectónicas locais e vernaculares por lógicas contemporâneas, dinamizando a economia local e valorizando ofícios e artesãos.
Mantém-se a volumetria do edifício e a distribuição
Manteve-se a volumetria do edifício e a distribuição, a partir de um generoso corredor central, a espinha dorsal da casa, tal como na planta original. No piso térreo, surge a casa nuclear, constituída por cozinha equipada, salas de estar e de jantar e dois estúdios (T0 e T1). No pátio, preservou-se o poço e plantou-se uma horta, onde as couves e os brócolos já estão viçosos.
Assim, nopiso superior, contam-se mais dois quartos e uma assoalhada comum, transformada numa cozinha e sala polivalente (T2). É aí que está instalada a piscina, no mesmo local onde, outrora, foi o tanque da Horta do Colégio dos Jesuítas. O branco das paredes contrasta com a hera e os canteiros que ladeiam os muros do edifício.
A paleta de cores respeitou assim as tonalidades originais dos interiores, em rosa velho, branco e com apontamentos preto e bordeaux.
A decoração é minimalista e acolhedora e sobressai o mobiliário desenhado pela PAr
A decoração é minimalista e acolhedora e sobressai o mobiliário desenhado pela PAr, assim como a iluminação, que contrastam com os elementos de época reconstituídos. Tais como as portas e janelas, as serralharias trabalhadas com desenhos orgânicos. Não esquecendo os vitrais, os frisos e florões em gesso, a escaiola nas paredes, os azulejos com motivos geométricos ou florais. Assim como os ladrilhos hidráulicos, o mármore com veios rosados, as ferragens de latão. No isolamento, recorreu-se à cortiça. Não faltam igualmente comodidades, como o ar condicionado, televisão e wifi.
A Casa 1923 ganhou assim versatilidade, os ambientes adaptam-se às necessidades da vida quotidiana ou do trabalho. O aproveitamento dos materiais – azulejos, pedras, madeiras – e o recurso aos fornecedores e artesão locais são determinantes para a sustentabilidade do projecto.
Esta orientação em todos os projectos da PArPlataforma de Arquitectura valeu-lhe o Archiczer Awards Jury Winner e o Best for Green Praccces & Sustainability Award, da Condé Nast Johansens.
“Do chão fazemos casa, com a cultura arquitectónica e os saberes construtivos tradicionais, com os materiais e as gentes de um lugar”, defendem as sócias.
Acima de tudo, uma arquitectura com propósito e que valoriza o lugar e as pessoas. O resultado desta recuperação foi tão gratificante que, no final do Verão, a PAr – Plataforma de Arquitectura vai instalar-se no piso térreo e fazer desta também a sua casa.
Mais informações em www.casa1923.pt