As recentes declarações da Ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, têm suscitado preocupação entre especialistas e sindicatos. Numa conferência na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a ministra abordou a possibilidade de acumular prestações sociais com rendimentos do trabalho. O objetivo é evitar que alguns indivíduos prefiram receber o subsídio de desemprego ao invés de aceitarem ofertas de emprego.
Miguel Teixeira Coelho, economista, acredita que as possíveis mudanças podem incluir a redução do prazo e do montante do subsídio de desemprego, ou impor restrições severas aos trabalhadores. Estas medidas obrigariam os desempregados a aceitar ofertas de emprego que não correspondem às suas qualificações, localização ou expectativas salariais.
Eugénio Rosa, outro economista consultado pela CNN Portugal, sublinha que muitas ofertas de emprego oferecem salários muito baixos, incompatíveis com as qualificações dos trabalhadores, o que pode levar a uma “despromoção” profissional. “Se tirarem do emprego conveniente as exigências que o trabalhador pode recusar, forçam o trabalhador a aceitar uma proposta com um salário extremamente baixo”, afirma Rosa.
Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP, criticou duramente a proposta da ministra, acusando-a de transformar a Segurança Social num mecanismo de financiamento para empresas que pagam baixos salários. Oliveira questiona também a eficácia das mudanças propostas em termos de criação de emprego, sugerindo que estas podem perpetuar a precariedade e os baixos salários no mercado de trabalho português.
As propostas levantam uma questão central sobre o equilíbrio entre incentivar a aceitação de emprego e garantir condições de trabalho justas. A acumulação de rendimentos do trabalho com prestações sociais poderia, em teoria, ajudar a transição para o emprego. No entanto, as preocupações de que estas medidas possam forçar trabalhadores a aceitar salários indignos são legítimas e merecem atenção.
A discussão sobre o subsídio de desemprego e as condições do mercado de trabalho não é nova, mas as propostas atuais da ministra reavivam um debate crítico sobre a dignidade do trabalho e a proteção social. Será essencial que o governo considere os impactos de qualquer mudança nas políticas de subsídio de desemprego, garantindo que estas promovam emprego de qualidade e não apenas a redução das despesas sociais à custa dos trabalhadores mais vulneráveis.
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