Amílcar Duarte, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve, investigador e doutorado em ciências agrárias, considera que a premissa do abacate ser a causa de todos os males da agricultura do Algarve, nomeadamente porque é uma cultura que consome uma enorme quantidade de água, é uma falácia.
O professor da UAlg considera que essa ideia, “é uma fantasia que alguém inventou e que se multiplica nos cafés, nas redes sociais e, nalguns casos, nos órgãos de comunicação social, e que não corresponde minimamente à verdade”, revela à TSF.
Amílcar Duarte questiona assim a decisão da ministra da Agricultura proibir novas culturas de regadio de abacateiros, frutos vermelhos e olival, enquanto o país estiver em situação de seca.
O investigador, doutorado em ciências agrárias tem trabalhado nesta área e avança que os pomares de abacates representam cerca de 8% de toda a área agrícola na região, o que dá à volta de 2.600 hectares e que pouco mais gastam do que os citrinos, “rosto” da cultura de regadio no Algarve.
Se quisermos ser rigorosos, “o abacateiro pode consumir ligeiramente mais água do que os citrinos, mas quanto muito 10%”, explica à TSF.
Há no entanto pontos positivos, como o facto dos pomares de abacateiros apostarem em sistemas modernos e com mais rigor na rega, pois estas plantas não podem ter água a mais.
O docente, em colaboração com a Direção Regional de Agricultura, está a levar a cabo um estudo para promover uma rega mais eficiente dos pomares de culturas de regadio, analisando as fases de crescimento dos frutos e as necessidades de água para cada etapa.
A ministra da Agricultura anunciou esta quarta-feira, perante o quadro de escassez de água e uma situação de seca severa e extrema que se vive no Algarve e Alentejo, que vai ser publicado, dentro de dias, um despacho que “não autoriza mais culturas permanentes (olival, abacate e frutos vermelhos)” na região algarvia e alentejana.
Para Amílcar Duarte, “o ministério da agricultura e a senhora ministra, em vez de tentar resolver o problema tentando fazer com que haja mais água, (…) resolve o problema proibindo as culturas de regadio. Então onde é que podemos fazer cultura de regadio, nos Açores onde chove?”, ironiza.
O professor da UAlg adianta que não se pode generalizar esta medida e lembra que há locais no Algarve e Alentejo que estão dentro de perímetros de rega e que possuem água suficiente para as culturas permanentes.