A Deceuninck-QuickStep manteve-se fiel à tradição de vencer a primeira etapa da Volta ao Algarve, ‘levando’ Sam Bennett ao triunfo num final frenético que confirmou o favoritismo do ciclista irlandês, primeiro camisola amarela da 47.ª edição.
Há três anos que assim é: no primeiro dia da ‘Algarvia’, o triunfo e a liderança pertencem aos homens da melhor equipa do mundo, com o vencedor da camisola verde da última Volta a França a suceder no palmarés ao companheiro Fabio Jakobsen, depois de hoje, numa acidentada chegada a Portimão, superar uma investida final do holandês Danny van Poppel (Intermarché-Wanty-Gobert-Materiaux) para impor-se ao ‘sprint’.
“Não foi bem como tínhamos planeado, na verdade foi um ‘sprint’ muito disputado e mais duro do que o esperado. A equipa levou-me ao limite na aproximação da meta. Gastei muita energia para recuperar posições no final, sobretudo porque estava algum vento frontal na reta da meta, mas acabei por ser o mais forte. Não sei qual o corredor que estava à minha esquerda no final, mas medi forças até ao risco”, descreveu o vencedor, que cortou a meta com o tempo de 4:37.41.
Van Poppel, segundo à frente do espanhol Jon Aberasturi (Caja Rural), esteve perto de ‘estragar’ o planeamento perfeito da formação belga, mas Bennett aguentou a explosão final do holandês para assegurar que a tradição ainda é o que era para a equipa estrangeira com maior número de presenças na prova (16 consecutivas), que pôde festejar pela sexta vez nas últimas sete edições – só falhou em 2018 – a vitória na primeira etapa.
A história do final da jornada inaugural estava escrita ainda antes das pedaladas iniciais do pelotão nesta ‘Algarvia’, contudo havia 189,5 quilómetros para percorrer entre Lagos e Portimão e, cientes da visibilidade que uma transmissão planetária pode trazer aos seus patrocinadores, cinco aventureiros saltaram para a frente da corrida ao quilómetro 11.
Carlos Canal (Burgos-BH), Jon Irisarri (Caja Rural-Seguros RGA), Hugo Nunes (Rádio Popular-Boavista), o duplo vencedor da Volta a Portugal Gustavo Veloso (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) e César Nicolás Paredes formaram o grupo de fugitivos do dia, que rapidamente perdeu o ciclista da Louletano-Loulé Concelho.
O quarteto chegou a dispor de uma vantagem de três minutos, ‘autorizada’ pela omnipresente Deceuninck-QuickStep, que comandou o pelotão durante toda a jornada, primeiro a solo e, depois, na companhia da Bora-hansgrohe, para anular a fuga já dentro dos 20 quilómetros finais.
Na aproximação à meta, alguns corredores tentaram destacar-se, mas o seu esforço inglório foi rapidamente anulado, com a W52-FC Porto a aparecer na cabeça do pelotão, numa clara declaração de intenções daquela que pode ser a equipa surpresa desta edição.
Uma queda a quatro quilómetros da meta, na qual ficou envolvido Jakobsen – é a sua segunda prova desde a queda violenta na Volta à Polónia que o afastou oito meses do pelotão -, partiu o pelotão, que se reunificou para um final desorganizado, já depois de uma moto da organização aparecer inexplicavelmente entre os ciclistas da dianteira.
“Os meus colegas trabalharam todo o dia e, no final, lidaram muito bem com as várias quedas na aproximação à meta e protegeram-me”, elogiou Bennett, a figura mais proeminente desta ‘Algarvia’.
Numa cidade de Portimão em confinamento, devido à pandemia de covid-19, faltou o público para aplaudir os ciclistas, nomeadamente os portugueses, com os ‘meninos da pista’ Iúri Leitão (Tavfer-Measindot-Mortágua), quinto, Rui Oliveira (UAE Emirates), oitavo, e o seu irmão e companheiro de equipa Ivo, 14.º, a darem nas vistas no ‘top 15’ da etapa e da geral.
Na quinta-feira, a amarela envergada pelo ‘sprinter’ irlandês trocará de corpo, uma vez que a segunda etapa vai ligar Sagres ao alto da Fóia, onde está instalada a única contagem de montanha de primeira categoria da 47.ª edição, após 182,8 quilómetros de tirada.