O tavirense João Rodrigues (W52-FC Porto) venceu hoje a 47.ª edição da Volta ao Algarve em bicicleta, ao ser segundo na quinta e última etapa, no alto do Malhão, ganha pelo francês Élie Gesbert (Arkéa Samsic).
Gesbert, 25 anos, cumpriu os 170,1 quilómetros entre Albufeira e o alto do Malhão em 4:10.11 horas, o mesmo tempo de João Rodrigues, o primeiro português a conquistar a ‘Algarvia’ desde João Cabreira, em 2006.
Jóni Brandão (W52-FC Porto) foi terceiro na etapa, com o antigo camisola amarela, o britânico Ethan Hayter (INEOS), a ceder 21 segundos, no 10.º lugar, perdendo a prova para o algarvio de 26 anos, campeão da Volta a Portugal em 2019.
Rodrigues agarrou a grande oportunidade de concretizar um sonho
O ciclista algarvio João Rodrigues aproveitou hoje uma oportunidade única para conquistar a ‘sua’ Volta e, magistralmente escoltado pela W52-FC Porto, roubou a amarela a Ethan Hayter (INEOS) no Malhão, ponto final da 47.ª edição.
Há muito que a W52-FC Porto era apelidada de INEOS portuguesa, mas hoje, na subida ao ponto mais alto de Loulé, os ‘dragões’ vulgarizaram a formação britânica – com um Ethan Hayter visivelmente debilitado depois da violenta queda da véspera -, numa demonstração de força e tática, consumada na vitória final de João Rodrigues, a primeira de um português na ‘Algarvia’ desde o já longínquo ano de 2006.
Cortada a meta na segunda posição, com as mesmas 4:10.10 horas do vencedor, o francês Élie Gesbert (Arkéa-Samsic), o ciclista de Faz Fato, de 26 anos, fez um compasso de espera antes de fazer a festa com os seus companheiros, celebrando entre abraços a concretização de um sonho: a 47.ª ‘Algarvia’ era sua, já que o jovem britânico, que tinha 12 segundos de vantagem à partida para a quinta etapa, perdeu 21 no Malhão.
“Estou muito contente, depois de todo o esforço da minha equipa. Para mais, é a Volta ao Algarve e, sendo eu algarvio, é especial. Sempre tive a ambição de vencer aqui. Sabia que era muito complicado com os melhores do mundo, que costumam cá vir no início de temporada. Este ano, tive uma grande oportunidade por a corrida ser disputada mais tarde, e aproveitei da melhor forma possível. Sinto-me muito contente, claro, é incrível”, resumiu, já depois de chorar, emocionado, ao vislumbrar a namorada e a irmã.
A jornada da consagração de João Rodrigues começou 171,1 quilómetros antes, em Albufeira, e decorreu a ritmo apressado, com os ciclistas a cumprirem a primeira hora de corrida a 47,8 km/h, muito por ‘culpa’ da iniciativa de 13 homens, maioritariamente ‘sprinters’, que saltaram do pelotão ao quilómetro 24.
O camisola verde Sam Bennett, acompanhado do seu fiel lançador Michael Morkov (Deceuninck-QuickStep), seguiu no encalço do ‘repescado’ Danny van Poppel (Intermarché-Wanty-Gobert), unindo-se a um grupo no qual seguiam ainda Pascal Ackermann e Michael Schwarzmann (Bora-hansgrohe), Benjamin Thomas (Groupama–FDJ), Ryan Gibbons (UAE Emirates), Oliver Naesen (AG2R), Héctor Sáez (Caja Rural), Mauro Finetto (Delko), Joan Bou (Euskaltel-Euskadi), Luís Fernandes (Rádio Popular-Boavista) e Pedro Pinto (Tavfer-Measindot-Mortágua).
Além da disputa pela camisola dos pontos, na fuga travou-se também a luta pela montanha, com Luís Fernandes (Rádio Popular-Boavista) a vencer as duas primeiras contagens de montanha do dia para garantir a conquista da classificação dos trepadores.
Na sucessão de subidas até à meta, a fuga foi perdendo elementos e acabou mesmo por ‘extinguir-se’ a sete quilómetros do alto, já depois de Kasper Asgreen ter tentado destacar-se, sem grande resultado a não ser o de encolher o pelotão, numa missão na qual foi, posteriormente, auxiliado por Bennett, irrepreensível no trabalho de equipa no dia em que foi anunciada a sua saída da Deceuninck-QuickStep no final da temporada – o dinamarquês acabaria por ver o seu esforço premiado com o terceiro lugar final, a 28 segundos do vencedor.
Mas foi apenas a quatro quilómetros da meta, quando o super-bloco da W52-FC Porto entrou ao serviço, que o desfecho da 47.ª edição começou a desenhar-se: depois de vários ataques e contra-ataques, um Rodrigues de pedalada fácil ficou na frente na companhia de Élie Gesbert, enquanto Ethan Hayter, em evidentes dificuldades, tentava não perder o rasto do português.
Inquieto, o algarvio olhava repetidamente para trás, para controlar o britânico, sempre escoltado por Sebastián Henao – o colombiano teve mesmo de ‘travar’ várias vezes para ‘rebocar’ o seu líder – e por Amaro Antunes que, quando atestou o ‘naufrágio’ do ainda camisola amarela, acelerou para juntar-se ao seu colega.
Com a ajuda do vencedor da edição especial da Volta a Portugal, Rodrigues ganhou mais um punhado de segundos, consumando o assalto bem-sucedido à amarela final, numa jornada que só não foi mais perfeita para os ‘dragões, que ainda conseguiram o terceiro lugar na tirada com Jóni Brandão e a vitória por equipas, porque Gesbert foi mais forte na luta pela quinta e última etapa.
Perante uma plateia de amigos e familiares, que fizeram o seu nome ecoar no Malhão, o algarvio voltou a vestir-se de amarelo numa grande corrida em Portugal, depois de ter conquistado a Volta a Portugal de 2019.
“Todas as camisolas amarelas têm um carinho especial, todas foram conquistadas com muito trabalho e todas elas têm um sentimento especial. A Volta ao Portugal foi algo magnífico nos Aliados, e esta aqui, no Malhão, foi incrível, não consigo escolher”, confessou, sem decidir-se sobre qual dos triunfos foi mais especial.
Volta ao Algarve: Vencedores no alto do Malhão
Lista dos vencedores de etapas da Volta ao Algarve em bicicleta com meta instalada no alto do Malhão (Loulé), após a quinta e última etapa da 47.ª edição, disputada hoje:
– As 17 chegadas ao alto do Malhão:
2021: Élie Gesbert, Fra (Arkéa-Samsic)
2020: Miguel Ángel López, Col (Astana)
2019: Zdenek Stybar, Che (Deceuninck-QuickStep)
2018: Michal Kwiatkowski, Pol (Sky)
2017: Amaro Antunes, Por (W52-FC Porto)
2016: Alberto Contador, Esp (Tinkoff)
2015: Richie Porte, Aus (Sky)
2014: Alberto Contador, Esp (Tinkoff-Saxo)
2013: Sergio Henao, Col (Sky)
2012: Richie Porte, Aus (Sky)
2011: Stephen Cummings, GB (Sky)
2010: Alberto Contador, Esp (Astana)
2009: António Cólom, Esp (Katusha)
2006: João Cabreira, Por (Maia Milaneza)
2005: Hugo Sabido, Por (Paredes Rota dos Móveis)
2004: Floyd Landis, EUA (US Postal)
2003: Pedro Cardoso, Por (Milaneza-MSS)
Volta ao Algarve: 5.ª etapa – Declarações
Declarações após a quinta e última etapa da 47.ª edição da Volta ao Algarve em bicicleta, ganha pelo francês Élie Gesbert (Árkea-Samsic), no final de uma ligação de 170,1 quilómetros, entre Albufeira e o alto do Malhão:
Élie Gesbert, Fra, Árkea-Samsic (vencedor da etapa): “Estou muito feliz pela vitória. Foi uma etapa muito rápida. Durante todo o dia tive boas sensações e pensei que poderia fazer qualquer coisa na subida.
Esta é uma bela corrida, com etapas para todos os gostos. Foi um bom incentivo para o que resta da temporada”.
João Rodrigues, Por, W52-FC Porto (vencedor da geral individual): “Estou muito contente, depois de todo o esforço da minha equipa. Para mais, é a Volta ao Algarve e, sendo eu algarvio, é especial.
Sempre tive a ambição de vencer aqui. Sabia que era muito complicado com os melhores do mundo, que costumam cá vir no início de temporada. Este ano tive uma grande oportunidade por a corrida ser disputada mais tarde, e aproveitei da melhor forma possível.
Sinto-me muito contente, claro, é incrível. Só tenho que agradecer à minha equipa, ao meu treinador a todos que estiveram ao meu lado.
Todas as camisolas amarelas têm um carinho especial, todas foram conquistadas com muito trabalho e todas elas têm um sentimento especial. A Volta ao Portugal foi algo magnífico nos Aliados, e esta aqui, no Malhão, foi incrível, não consigo escolher.
Tem sempre um sabor especial quando ganhamos, não sei se somos a ‘INEOS portuguesa’ ou não, sabemos que fazemos o melhor trabalho possível, foi assim que nos incutiram no FC Porto. Queremos vencer e vencer, não nos contentamos com o pódio.
Partimos com esta missão, a de atacar. Quando estamos de amarelo temos que defender, quando estamos atrás temos que atacar para recuperar segundos e era assim que tínhamos que abordar a etapa.
Foi uma etapa de loucos, de alta velocidade, a fuga nunca teve muito tempo, esteve sempre controlada. Felizmente, conseguimos estar melhor do que os adversários e conquistar esta corrida.
Se perdemos 12 segundos, tínhamos que conquistar 12 segundos, era o tudo ou nada, fazer quinto ou sexto era igual. Assim delineámos esta estratégia, o Amaro [Antunes] esteve incrível, toda a equipa foi incrível”.
Ethan Hayter, GB, INEOS (segunda da geral individual): “Foi um dia duro, hoje. O ritmo estava muito alto no início da subida. Não consegui encontrar o meu ritmo na subida, sempre a batalhar, o que não é o meu estilo. Não correu bem e eles foram muito fortes”.
Kasper Asgreen, Din, Deceuninck-QuickStep (terceiro da geral individual): “Foi muito duro. Não sou exatamente um trepador, por isso sabia que seria difícil. O Rodrigues e o Hayter estavam muito bem na subida e tive dificuldades em seguir. Tentámos antecipar, criar uma vantagem na última subida. Não conseguimos, e tentei ir o mais rápido possível. Não foi suficiente”.
Sam Bennett, Irl, Deceuninck-QuickStep (vencedor da classificação por pontos): “Foi uma boa semana, no geral. Estávamos a tentar manter a corrida e não queria muito estar na fuga, mas queria que a corrida seguisse e acabei por ir lá parar. Tinha um trabalho para fazer quando chegasse a última subida. Cometi um erro ao responder a um ataque, porque pensei que não conseguiria alcançar os da frente quando o pelotão lá chegasse. Queimei ali alguma energia. Depois, dei tudo pelo Kasper quando ele chegou a mim, não sei se fez muita diferença, mas dei o meu melhor.
É estranho, não estava mesmo a tentar entrar na fuga. Se eu tentasse, não conseguiria”.
Luís Fernandes, Por, Rádio Popular-Boavista (vencedor da classificação da montanha): “Tínhamos todas as contas feitas, mas por equívoco pensámos que esta montanha dava mais pontos à chegada, já vinha quase com a derrota na cabeça, um bocado triste depois do trabalho todo, uma queda e um dia mau ontem [no sábado]. Hoje, a única opção que tinha era tentar ganhar a montanha, e ganhei!”.
Volta ao Algarve: 5.ª etapa – Classificações
Classificações da 47.ª Volta ao Algarve em bicicleta, após a quinta e última etapa, uma ligação de 170,1 quilómetros entre Albufeira e o alto do Malhão:
– Classificação da quinta etapa:
1. Élie Gesbert, Fra (Arkéa-Samsic), 04:10.10 horas
(média: 40,797 km/h).
2. João Rodrigues, Por (W52-FC Porto), m.t.
3. Jóni Brandão, Por (W52-FC Porto), a 09 segundos.
4. Jonathan Lastra, Esp (Caja Rural), a 11.
5. Amaro Antunes, Por (W52-FC Porto), a 15.
6. Joaquim Silva, Por (Tavfer-Measindot-Mortágua), a 17.
7. Nicolas Prodhomme, Fra (AG2R), m.t.
8. Kasper Asgreen, Din (Deceuninck-QuickStep), a 19.
9. Sebastián Henao, Col (INEOS), a 21.
10. Ethan Hayter, GB (INEOS), m.t.
– Classificação geral individual:
1. João Rodrigues, Por (W52-FC Porto), 19:03.56 horas.
2. Ethan Hayter, GB (INEOS), a 09 segundos.
3. Kasper Asgreen, Din (Deceuninck-QuickStep), a 28.
4. Jonathan Lastra, Esp (Caja Rural), a 41.
5. Élie Gesbert, Fra (Arkéa-Samsic), a 44.
6. Thibault Guernalec, Fra (Arkéa-Samsic), a 48.
7. Maxime Bouet, Fra (Arkéa-Samsic), a 01.13 minutos.
8. Sebastián Henao, Col (INEOS), a 01.27.
9. Jóni Brandão, Por (W52-FC Porto), a 01.40
10. Daniel Navarro, Esp (Burgos-BH), a 01.54.
– Classificação por pontos:
1. Sam Bennett, Irl (Deceuninck-QuickStep), 50 pontos.
2. Jon Aberasturi, Esp (Caja Rural), 29.
3. João Rodrigues, Por (W52-FC Porto), 25.
– Classificação da montanha:
1. Luís Fernandes, Por (Rádio Popular-Boavista), 16 pontos.
2. João Rodrigues, Por (W52-FC Porto), 15.
3. Michael Schwarzmann, Ale (Bora-hansgrohe), 13.
– Classificação da juventude:
1. Sean Quinn, EUA (Hagens Berman Axeon).
2. Carlos Rodríguez Cano, Esp (INEOS).
3. Pedro Andrade, Por (Hagens Berman Axeon).
– Classificação por equipas:
1. W52-FC Porto, 57:13.47.
2. Arkéa-Samsic), a 14 segundos.
3. INEOS, GB, a 35.