Equipados de negro integral, apelidados de estudantes e sendo uma das raras equipas que, em tempos, mordeu os tornozelos aos três da vida airada a quem se popularizou chamar de três grandes, a Académica é um dos históricos clubes de Portugal e, em 1966/67, chegou a ser vice-campeã nacional, meros três pontos atrás do Benfica de Eusébio da Silva Ferreira com uma turma treinada por Mário Wilson e onde pontificavam Artur Jorge e Toni. Foi um dos pontos altos da sua história. Este sábado, sucumbiu a um dos mais baixos.
O empate sem golos com o Penafiel, acontecido no Estádio Cidade de Coimbra onde a pista de atletismo ainda orbita em torno do relvado, deixou a Académica com 16 pontos na II Liga, parca quantia que lhe retirou hipóteses de fugir a uma queda inédita: à oitava despromoção no seu historial, será a primeira vez que o clube jogará a terceira divisão do futebol nacional, na próxima época, depois de 88 anos seguidos entre os dois degraus do topo da bola em Portugal.
No final do encontro, quem emprestou a voz ao momento e se mostrou às balas das críticas foi o capitão da equipa, Zé Castro, outro histórico da Académica que contou 16 anos dos 39 que tem vividos ao clube. “O futebol ensina-nos muita coisa, é uma aprendizagem para todos. Para o bem e para o mal, os jogadores são os principais culpados. Todos os espetáculos dependem dos artistas e no futebol são os jogadores. Temos de assumir as responsabilidades. Faz parte do futebol, temos de mudar a nossa cultura futebolística, ninguém é melhor por perder ou por ganhar, temos de deixar de pensar assim”, disse o internacional português, na flash-interview da “Sport TV”.
O defesa central que arrancou e fechou a carreira na Académica deixou igualmente críticas à forma como Portugal vive o futebol: “Somos muito ignorantes futebolisticamente falando. Não somos analfabetos, analfabetismo é quem não pode aprender. Quem pode e não quer é ignorante”, disse, agastado e com tristeza nas palavras”.
Quanto ao futuro do clube de Coimbra, cuja aparição mais recente na I Liga foi na época de 2015/16, o jogador que ainda jogou no Atlético de Madrid, Deportivo da Corunha e Rayo Vallecano, lamentou o “passo atrás”, mas indicou por onde a Académica poderá seguir: “O clube pode-se reestruturar e dar dois passos em frente. É o meu único clube e vai ser toda a vida. Oxalá haja força e disponibilidade das pessoas. É o futebol, isto acontece. Já passei por melhores clubes, outros com menos condições. Temos de preparar-nos para mudar. Cada vez há menos gente a gostar de futebol e a querer apenas ganhar, nem sequer gostam dos clubes”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL