Ana Marques Gonçalves (texto) da agência Lusa
Basta um passeio descontraído nos ‘bastidores’ da 84ª edição da prova ‘rainha’ do calendário nacional, entre os autocarros das equipas, para encontrar estas ‘armas anti-calor’, com os coletes de gelo a serem os mais populares e mais acessíveis a qualquer bolso, sobretudo nesta travessia do Alentejo rumo a Loulé. Mas, este ano, a grande novidade são as banheiras de crioterapia, usadas quer pela Efapel, quer pela Glassdrive-Q8-Anicolor.
“Está comprovado que o arrefecimento do corpo é importante. Não só em competição, [para] manter o corpo com a temperatura o mais regulada possível, mas no final do esforço, já no processo de recuperação, é importante também conseguir baixar a temperatura corporal, para além dos benefícios que tem a nível de inflamações e outras coisas mais específicas. Era algo que eu estava a pensar já, mas o problema era como é que se conseguia trazer uma estrutura que pudesse acompanhar a equipa, principalmente agora na Volta, que é quando estão temperaturas mais elevadas”, revelou José Azevedo.
A solução encontrou-a na Effekt, a empresa que montou uma carrinha especial, com duas banheiras de crioterapia, para acompanhar a Efapel durante toda a 84.ª edição da prova ‘rainha’ do ciclismo português, que este sábado reservou para os ciclistas uma longa e quente jornada de 191,8 quilómetros entre Sines e Loulé, para a qual são esperadas temperaturas superiores a 40 graus em algumas partes do percurso.
O gelo vai ser o melhor amigo dos ciclistas rumo a Loulé
“Há quem faça com banheiras e coloca gelo, é uma forma de o poder fazer, mas nunca se tem uma temperatura controlada”, referiu o diretor desportivo da equipa laranja, detalhando que os seus corredores testaram a ‘inovação’ no estágio pré-corrida: “Começámos todos os dias a experimentar, para ver a reação dos corredores, ver a temperatura que cada um conseguia suportar, porque não íamos experimentar numa Volta a Portugal algo de novo, apesar de todos os benefícios que isto tem”.
Estas banheiras são uma “mais-valia”, segundo Azevedo, por conseguirem “baixar a temperatura corporal de uma forma muito rápida”, uma benesse para dias de calor como o esperado para este sábado, premissa defendida igualmente por Jorge Martins.
“Conseguimos encontrar e fazer um protocolo com esta empresa de banho de gelo, em que eles fazem umas banheiras que têm o motor incorporado e que baixa automaticamente a temperatura da água até os quatro graus e mantém-na nessa temperatura, e é muito mais eficaz, muito menos logística, e é só entrar, fazer o banho e sair”, notou o fundador da Effekt.
As duas piscinas têm temperaturas diferentes – uma está a quatro, outra a sete ou oitos graus – para que os ciclistas possam eleger aquela a que melhor se adaptam, consoante a sensibilidade que têm, embora Martins revele à agência Lusa que os homens da Efapel “têm escolhido sempre a fria”.
“No primeiro dia, como era novidade, estranharam, mas depois o feedback quando saíram foi ‘estou muito mais leve, estou muito mais solto, tenho mais energia’. No segundo dia, até fizemos de propósito, baixámos mais a temperatura de uma das banheiras e a outra ficou mais alta, e eles escolheram sempre a mais baixa, porque dizem que realmente ficam muito mais leves e acelera muito mais a recuperação”, acrescentou.
Banheiras custaram cerca de 250 euros cada
Mas a equipa de José Azevedo não é a única a usar esta inovação do ciclismo moderno. Também a Glassdrive-Q8-Anicolor tem banheiras – e coletes – “iguais às da UAE Emirates”, celebrizadas na última Volta a França pelo esloveno Tadej Pogacar, que se sagrou vice-campeão.
“Quando, no final das etapas, estamos perto do hotel, montamos no hotel. Quando temos viagens longas, montamos na chegada para os corredores usaram logo”, esclareceu Rúben Pereira, indicando à Lusa que as banheiras custaram cerca de 250 euros cada.
Mas as medidas anti-calor da equipa do campeão em título Mauricio Moreira não se ficam por aí: além dos coletes de gelo, essenciais no processo de arrefecimento do pulso, sobretudo nas etapas de calor, a formação de Águeda tem ‘botas’, cuja temperatura desce aos zero graus.
“Nós fazemos roupa específica para este calor. A nossa roupa está toda alterada, com tecidos muito mais frescos. Retiramos peso à roupa – conseguimos baixar bastantes gramas ao fato da montanha. A camisola que usamos é muito mais fresca do que a que usamos ao longo do ano. Preparamos também sacos de gelo para os corredores irem metendo nas costas ao longo da etapa. Também preparamos os ‘ice’, que são bidons completamente em gelo, em que eles vão ingerindo gelo para refrescar o corpo”, elencou o diretor da Glassdrive-Q8-Anicolor.
O gelo será, portanto, o melhor amigo dos ciclistas na jornada deste sábado rumo a Loulé, que assinala o regresso da Volta ao Algarve após quatro anos de ausência.
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