No início do século XV, quando Portugal deu início à Era dos Descobrimentos, o conhecimento europeu sobre o Oceano Atlântico era muito limitado. Foi nesse contexto que o Infante D. Henrique, em 1412, enviou as suas embarcações em direção ao sul, com o objetivo de ultrapassar o temido Cabo Bojador, que muitos consideravam o fim do mundo conhecido. Esta ousada iniciativa marcou o nascimento das famosas caravelas portuguesas.
Inicialmente, os navegadores portugueses utilizaram pequenas embarcações, semelhantes às usadas em rios e navegação costeira. Eram barcas com apenas um mastro e uma vela, com capacidade para transportar cerca de 30 tonéis — o equivalente a barris de aproximadamente 1,5 metros de altura e 1 metro de largura. Foi num desses barcos que, doze anos após o início das viagens, Gil Eanes conseguiu finalmente dobrar o Cabo Bojador, provando que era possível continuar a explorar o oceano sem os perigos lendários que se temiam, como águas demasiado rasas ou correntes invencíveis.
Este feito abriu caminho para a utilização de navios maiores, como o barinel, uma embarcação sobre a qual existem poucas informações detalhadas. Contudo, à medida que as viagens se tornavam mais longas e desafiantes, tornou-se evidente a necessidade de um novo tipo de navio, mais robusto e adaptado às explorações oceânicas. Assim, surgiram as caravelas portuguesas, um marco da engenharia naval nacional, como avança a VortexMag.
A caravela era uma embarcação de cerca de 50 tonéis de capacidade, com dois mastros e uma vela latina triangular, ideal para navegar à bolina, ou seja, contra o vento em movimentos de ziguezague. O convés corria desde a popa até à proa, abrigando debaixo dele mantimentos e mercadorias, ainda que o espaço fosse reduzido. A sua estrutura leve e esguia permitia uma navegação mais rápida e eficaz, especialmente junto à costa e até nas embocaduras dos rios, facilitando a exploração de territórios interiores.
A partir de 1440, a caravela tornou-se o navio de eleição das explorações portuguesas, sendo essencial nas viagens até 1488, quando Bartolomeu Dias conseguiu dobrar o Cabo das Tormentas, mais tarde rebatizado de Cabo da Boa Esperança. Este feito confirmou a ligação entre os oceanos Atlântico e Índico e abriu caminho para a expedição de Vasco da Gama e a descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Contudo, as caravelas portuguesas começaram a revelar limitações. Após atravessar os mares agitados do Índico, os navegadores alertaram D. João II de que estas embarcações não eram suficientemente robustas para as condições adversas que enfrentavam. Assim, foram progressivamente substituídas pelas naus, navios maiores e mais resistentes, adequados para longas viagens oceânicas com maior carga e tripulação.
Apesar dessa evolução, as caravelas continuaram a ser utilizadas na navegação atlântica até ao século XVIII, mantendo-se como um símbolo incontornável da história portuguesa. Estas embarcações permitiram aos navegadores aprender a navegar em mar alto, recorrendo à observação das estrelas, o que impulsionou o desenvolvimento da navegação astronómica, prática essencial até ao surgimento das tecnologias modernas.
A eficiência das caravelas era amplamente reconhecida, inclusive por navegadores estrangeiros como o italiano Alvise Cadamosto, que afirmou serem as melhores embarcações da época. A sua superioridade devia-se principalmente à grande área vélica, significativamente superior à média da altura, aliada ao casco comprido e estreito, o que tornava a caravela veloz e fácil de manobrar. Essas características tornaram-na a embarcação ideal para a ousada missão de explorar o desconhecido.
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