O cinema, conhecido como a sétima arte, sempre foi encarado como uma expressão artística influente e um meio de comunicação de enorme alcance. Desempenhou um papel crucial na forma como a sociedade representa e interpreta o mundo real. Contudo, durante décadas, a sua narrativa predominou sob uma ótica masculina que, muitas vezes, reduziu a mulher a estereótipos ou a papéis secundários.
Ao analisar a representação feminina na indústria cinematográfica, é evidente uma longa história de desigualdade. Cargos como realização ou produção cinematográfica eram predominantemente exercidos por homens, com escassa participação feminina. A disparidade não se limitava ao ecrã, estendendo-se aos bastidores, onde as mulheres estiveram sub-representadas em funções como realização, produção, guionismo e direção. Além de serem pouco retratadas ou representadas por personagens superficiais, raramente viam as suas histórias contadas por elas próprias.
Atualmente, o panorama é diferente. As mulheres estão cada vez mais presentes em posições de criação e produção no cinema. Hoje, debate-se abertamente a desigualdade de género na indústria cinematográfica a nível internacional, incluindo em Portugal.
Iniciativas como a FICUA – Festa Internacional de Cinema Universitário do Algarve, que decorreu no passado dia 23 de maio, promovem e celebram a mulher e a sua arte. Um dos destaques foi o ciclo “FEMINAE”, que reuniu curtas-metragens onde o papel da mulher é central, tanto na narrativa como na produção. Entre os filmes exibidos, contaram-se “Gloria” (Espanha), de Cristina Briones, “We Need To Talk” (Estónia), de Selma Sirin, e “Pop” (Grécia), de Lina Kountoura.
O evento incluiu ainda a apresentação do projeto “Speculum”, por Ana Isabel Soares, co-investigadora responsável. Desenvolvido por uma equipa internacional, o projeto visa aprofundar a reflexão sobre o documentário autobiográfico realizado por mulheres em Portugal e no Brasil. Segundo a página oficial, o objetivo é “estimular a criação de filmes deste género, dirigidos por outras mulheres, bem como promover eventos científicos e sociais, publicações e intercâmbios entre documentaristas consagradas e novas vozes”. Foi também divulgado o podcast Speculum, disponível no Spotify.
Devido à temática, o Núcleo Feminista da Universidade do Algarve marcou presença na FICUA. Em declarações, o grupo afirmou: “Dois meses após a fundação, já contamos com cerca de 50 pessoas envolvidas. O nosso propósito é promover a igualdade de direitos na universidade, combater a discriminação, empoderar as mulheres e acolher minorias. Queremos criar um espaço seguro para todos, dando voz a quem é marginalizado por um sistema patriarcal e machista.”
Assim, o cinema, enquanto espelho da sociedade, começa a refletir uma mudança necessária – uma narrativa mais inclusiva, onde a mulher não só é representada, mas também assume o controlo da sua própria história.
Texto Marta Santos / Henrique Dias

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