Contra a Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros, de Jorge Carrión, com tradução de Margarida Amado Acosta, foi recentemente publicado pela Quetzal. Do autor de Livrarias, chega-nos este pequeno e precioso manifesto, com textos especialmente preparados para a edição portuguesa, que inclui uma nota de autor da edição portuguesa e onde se podem ler algumas passagens, nalguns dos ensaios, que consideram a realidade das livrarias portuguesas.
Publicado pela primeira vez, em versão online, na Jot Down Magazine, em 2017, o primeiro ensaio, que dá nome ao livro, é um manifesto, com sete pontos, contra a multinacional de Jeff Bezos em defesa dos leitores, das livrarias e das bibliotecas, em oposição ao poder crescente dos algoritmos globais, em que as sugestões das máquinas parecem sobrepor-se aos nossos próprios gostos. Naturalmente que, aventamos nós, também se pode ler esta atitude como extremista, pois o algoritmo pode trazer surpresas inesperadas, com sugestões de autores e obras que não conheceríamos de outra forma.
“Porque, embora dependamos de ecrãs, não somos robôs. E precisamos das livrarias de cada dia para que possam continuar a gerar as cartografias de todas essas distâncias sem as quais não saberíamos encontrar o nosso lugar no mundo.” (p. 24)
Ao longo dos quase 20 textos que compõem este livro, num misto de ensaio literário e relato de viagem, onde confluem ainda entrevistas (a Alberto Manguel) e textos evocativos de autores (como Borges), Carrión visita bibliotecas (as pessoais e as coletivas, as reais e as literárias), livrarias independentes e alfarrabistas, um pouco por todo o mundo.
Um livro que se pode ler ao sabor do vento ou de uma assentada, cuja mensagem principal que perpassa à natureza variada dos ensaios é a de que ler (ler aquilo que nos apetece e não o que nos é imposto) e escrever são valiosas ferramentas de empoderamento e que o livro é não só um pilar da nossa educação como também uma fonte de inspiração e uma confirmação do futuro da nossa humanidade.