O autor português José Ruy, com um longo e pioneiro percurso na criação e divulgação da banda desenhada portuguesa, morreu esta quarta-feira aos 92 anos, na Amadora, revelou hoje à agência Lusa fonte da câmara municipal.
“O conjunto do seu trabalho, a qualidade do seu desenho e cor, é um reflexo de décadas de criatividade, de conhecimento e de dedicação. A sua vida cruza-se com a história da cidade – a escola com o seu nome, o AmadoraBD, os Troféus Zé Pacóvio e Grilinho, prémios e homenagens”, lê-se, por seu turno, na página oficial da autarquia.
Na rede social Facebook, o festival AmadoraBD também escreveu que “faleceu o mestre José Ruy, um dos pioneiros da nona arte em Portugal, cujo legado é indissociável da Amadora”.
José Ruy, que nasceu na Amadora em 1930, colaborou com muitas publicação periódicas, nomeadamente “Mosquito”, “Mundo de Aventuras” e “Cavaleiro Andante”, num tempo em que a banda desenhada era lida sobretudo em revistas, convivendo com outros nomes históricos da BD como Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005) e José Garcês (1920-2020).
Na longa e produtiva carreira, José Ruy trabalhou em várias áreas ligada ao desenho, mas foram os álbuns informativos de banda desenhada, de pendor histórico, e as adaptações de obras literárias, sempre com um traço realista e detalhado, que lhe deram visibilidade.
José Ruy transpôs para a BD a epopeia “Os Lusíadas”
Destacam-se a transposição para BD da epopeia “Os Lusíadas”, das biografias sobre Aristides de Sousa Mendes, de Humberto Delgado e de Beatriz Ângelo, e a série “Aventuras de Porto Bomvento”, que evoca os marinheiros anónimos da época dos Descobrimentos.
Com obra traduzida e publicada em vários países, José Ruy era muito ativo na divulgação desta arte, uma presença regular em escolas e também no festival AmadoraBD.
A dedicação à banda desenhada valeu-lhe a medalha de ouro de mérito e dedicação da Câmara Municipal da Amadora.
Em 2010, numa entrevista à agência Lusa, José Ruy, então com 80 anos, dizia que o seu trabalho assentava “mais na parte histórica de um povo”, porque tinha facilidade em lidar com o tema”, e afirmava estar atento à evolução tecnológica da BD portuguesa: “Também eu tive de me adaptar às novas ferramentas colocadas ao dispor. (…) Com os novos métodos de trabalho, para além de mais limpo, o trabalho final torna-se mais colorido e pormenorizado”.
Na mesma entrevista lamentava a ausência no mercado de revistas dedicadas à banda desenhada: “Estas publicações fazem falta para lançar novos talentos. Hoje impera o livro, o que torna mais difícil a publicação dos trabalhos dos autores mais jovens”.