A Câmara de Faro apresentou na passada sexta-feira o programa estratégico e funcional para a requalificação da Fábrica da Cerveja.
“O programa estratégico de reabilitação da antiga Fábrica da Cerveja resultou da participação pública de muitas dezenas de pessoas e entidades e de uma parceria com um consórcio liderado por Gonçalo Louro & Cláudia Santos – Arquitetos, Lda., em cooperação com a Opium, Lda., de Carlos Martins, antigo coordenador da Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012 e ainda com Pablo Berástegui, destacado produtor cultural espanhol e ex-coordenador do centro de criação contemporânea Matadero, em Madrid”, explica a autarquia farense em comunicado.
De acordo com este programa, esta intervenção profunda vai ser dividida em quatro fases. A primeira fase prevê a requalificação do corpo nascente do edifício e Largo, com a intervenção na parte do edifício sob gestão direta do Município e intervenção na zona exterior, nomeadamente derrubando os muros para a rua do Castelo que atualmente criam um pátio interior.
A ideia passa por criar uma nova praça e uma nova centralidade nesta zona. Esta primeira fase tem uma estimativa de investimento de 2,1 milhões de euros, tendo expectativa de concretização até 2026/ 2027.
Já a segunda fase deste projeto prevê a intervenção no espaço de jardim contíguo à Fábrica da Cerveja e a construção de dois novos edifícios de apoio, nomeadamente um novo edifício na retaguarda da Fábrica e a construção de um novo edifício junto à Praça D. Afonso III.
O primeiro destes novos espaços deverá ser incluir salas de apoio à produção musical – com capacidade para se transformarem noutras valências – e o segundo edifício deverá servir de apoio na relação entre o Museu Municipal e a Fábrica da Cerveja. Ao todo, esta segunda fase tem uma estimativa de investimento de 2,6 milhões de euros e deverá avançar, idealmente, em simultâneo com a primeira fase, prevendo-se igualmente a sua concretização até 2026/ 2027.
A terceira fase do projeto prevê a intervenção do corpo Sul e Nascente do edifício, atualmente sob gestão da Associação Recreativa Cultural de Músicos. Esta fase terá uma estimativa de orçamento de 3,5 milhões de euros e tem uma expectativa de concretização até 2027, caso Faro venha a acolher o título de Capital Europeia da Cultura.
Já a quarta fase do projeto deverá avançar de acordo com a evolução das fases anteriores, prevendo a ampliação do Museu Municipal de Faro e zonas adjacentes. A estimativa de investimento desta fase é de 5,1 milhões de euros.
Após apresentação das várias fases do projeto, por parte da vereadora Sophie Matias e pelo vice-presidente Paulo Santos e contextualização do trabalho realizado por parte de Gonçalo Louro, Carlos Martins e Pablo Berástegui, o presidente da Câmara de Faro recordou que, em 2010, a Autarquia foi obrigada “a introduzir este edifício no Plano de Reequilíbrio Financeiro que foi necessário fazer, mas felizmente, as duas hastas públicas ficaram desertas e foi possível retirar a Fábrica da Cerveja dessa obrigatoriedade de ser alienado”.
“Teria sido mais fácil vender, mas entendemos que não o devíamos fazer, e isso trouxe-nos a responsabilidade de ter que pensar o que iriamos fazer com este edifício, de forma sustentável nas suas várias formas, incluindo a financeira. A dado momento, questionámo-nos se deveríamos falar apenas da Fábrica ou também da sua relação com a envolvente, com a cidade, com a Ria Formosa, por isso associámos a este projeto o Museu e outros espaços, que serão dados para a utilização dos farenses e de todos os que nos visitam e que servirão para contribuir para a afirmação do nosso concelho no contexto nacional e internacional”, referiu o presidente da Câmara de Faro.
“Queremos que este projeto seja vivo e portanto vamos começar desde já para que este projeto possa vir a ser uma realidade. É um investimento de mais de 13 milhões de euros, que será feito em várias fases ao longo dos anos e é um dos investimentos estruturantes que temos previstos para o concelho. O edifício é público, a nossa missão é mantê-lo na esfera pública com uma função cultural, mas o objetivo é que a gestão deste edifício não caiba só ao Presidente da Câmara Municipal ou aos órgãos municipais”, acrescentou ainda Rogério Bacalhau, deixando a certeza de que este é um processo sem retorno: “Este é um projeto englobado na candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura e seguramente que, se o formos, a Fábrica da Cerveja será a sua ‘sede’, mas se não formos, este projeto será para continuar e para se desenvolver”.
História da fábrica que nunca produziu sequer um litro de cerveja
Situado na Vila Adentro, junto à muralha da cidade de Faro, frente à Ria Formosa, o edifício hoje conhecido como Fábrica da Cerveja foi construído entre 1930 e 1940 numa zona antes ocupada por instalações fabris, nomeadamente uma fábrica de destilação de álcool.
No entanto, este espaço, que apesar de entre 1968 e 1992 ter sido ocupado pela sociedade distribuidora de cerveja e vinhos do Sul, “nunca foi usado para fabrico ou sequer chegou a produzir sequer um litro de cerveja”, como recordou o vice-presidente da Câmara Paulo Santos.
Classificado como imóvel de interesse público, o edifício foi adquirido pela Autarquia em 1998. Devido à situação financeira precária da Autarquia, acabou por estar em hasta pública, por duas vezes, sem que tivessem havido compradores.
Depois deste espaço ter sido também usado como paiol do Exército, houve ainda vários projetos para este espaço que tiveram “falsas partidas”, que passavam pela criação de um centro de arte contemporânea ou de um hotel.
Em 2013, a Autarquia decidiu finalmente manter o edifício na esfera pública e atualmente, uma das alas da Fábrica da Cerveja é gerida pela Associação Recreativa e Cultural de Músicos, que tem dinamizado este espaço, que funciona atualmente como um pólo fundamental da cultura e da criação artística na cidade de Faro. Agora, o Município de Faro prepara uma nova vida para este edifício icónico da cidade.