A China continua a sentir uma forte procura por profissionais que falem português, disseram à Lusa duas das coautoras de uma obra académica sobre os estudantes chineses da língua portuguesa, que será apresentada na sexta-feira.
A obra “Referencial Ensino de Português Língua Estrangeira na China” pretende “traçar um perfil mais atual dos alunos, com bases em dados concretos, através de um inquérito”, explica Catarina Gaspar.
A professora da Universidade de Lisboa diz que os estudantes chineses têm “um contacto bastante assíduo” com falantes de português, nomeadamente através de “experiências profissionais que muitos começam a ter cada vez mais cedo”.
Há alunos chineses que decidiram aprender português já depois de entrarem no mercado de trabalho, porque “querem progredir em termos profissionais”, refere Madalena Teixeira.
“Há a expectativa de terem um emprego até melhor remunerado ou até de virem a ser funcionários públicos”, sublinha a docente da Universidade de Aveiro.
Existe na China “essa procura e esse mercado de trabalho” para pessoas que sabem chinês e português, confirma Catarina Gaspar.
Mesmo os estudantes mais jovens “já estão com perspetivas de trabalho, dando apoio às empresas no âmbito das relações económicas e políticas entre a China e os diferentes países de língua portuguesa”, explica a investigadora.
Outra característica dos alunos chineses é “a experiência de pelo menos um ano em Portugal, no Brasil, ou num outro país de língua portuguesa”, acrescenta Catarina Gaspar.
A oportunidade de “imersão linguística” em português facilita a aprendizagem, mas a pandemia de covid-19 tornou a mobilidade internacional mais difícil, admite Madalena Teixeira.
Catarina Gaspar acredita, no entanto, que é possível colmatar essa dificuldade recorrendo à tecnologia, não apenas na sala de aula, mas também para “seguir programas de rádio ou televisão ‘online’, ou falar assiduamente com amigos em português”.
O livro, que tem ainda como autoras Maria José Grosso e Zhang Jing, professoras da Universidade de Macau, é apresentado pela universidade e pelo Centro Científico e Cultural de Macau, com sede em Lisboa.
A China realizou em junho os primeiros testes de acreditação de tradutores e intérpretes chinês-português e português-chinês. Só quem passa nestes testes pode trabalhar na Administração de Publicações em Línguas Estrangeiras da China.
Em janeiro de 2021, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim abriu o Centro Nacional de Formação de Professores de Espanhol e Português, para reforçar a qualidade do ensino da língua portuguesa na China.
Cerca de 50 instituições chinesas de ensino superior têm cursos de língua portuguesa, disse à Lusa, em novembro de 2020, Gaspar Zhang Yunfeng, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau.