Dino D’Santiago deu uma longa entrevista à revista de fim de semana do “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”, na qual fala sobre a sua infância, passada num bairro pobre de Quarteira, no Algarve, da importância de usar a sua visibilidade para passar uma mensagem e também do concerto que deu, este verão, na Festa do Avante.
O cantor, que este domingo recebeu o prémio de Melhor Intérprete nos Globos de Ouro da SIC, recorda: “Eu via imagens da Unicef em África e dizia: isto é o Bairro dos Pescadores [no qual cresceu]. Porque é que enviam tanta ajuda para fora e nós estamos aqui? Não conseguia compreender. Quando víamos o Bairro de Pescadores na televisão era pelo nível de toxicodependência e de tráfico de droga. Os turistas que vinham para Vilamoura e para a Quinta do Lago traziam-nos roupas, bicicletas, doces e davam-nos dinheiro. Nós crescemos assim.”
“Em criança, que o que mais me custava era ir à bica, não havia água potável e alguns cortavam as mangueiras quando outros estavam há mais tempo e metiam as deles. Três bicas para servir 600 famílias”, exemplifica, fazendo no entanto a ressalva: “Nunca partilhei estas histórias do bairro porque não queria que sentissem pena da minha história, queria que me recebessem pelo que sou e não por onde vim. Eu fui feliz no inferno. Se fui feliz no inferno, tudo o resto é só um vislumbre do paraíso.”
Na mesma entrevista, Dino D’Santiago fala sobre o concerto que deu na Festa do Avante. “Nem consigo chamar-lhe concerto, foi o momento importante da minha vida, enquanto artista”, afirma.“Fui para o palco mesmo a sentir. Posso não concordar com o que tu pensas e sentes, mas hoje vou morrer para que possas pensar e sentir assim. Se tivesse de morrer ali, morria a sentir que cumpri-me enquanto ser porque não tive medo e foram tantas as vozes a dizerem-me o contrário. Eu já não vivo nessa escravatura mental e sei que o Avante, para mim, representa a liberdade.”
Referindo-se às críticas feitas aos artistas que tocaram no Avante, devido ao posicionamento do PCP quanto à Guerra na Ucrânia, diz: “Mal cheguei, estava um rapaz com uma bandeira do Paquistão. Há muitas lutas, não me tentem colocar num sítio. Ok, agora vocês lembraram-se porque é Europa e está a acontecer aqui, mas o mundo está a chorar há muito tempo, então não digas que as tuas lágrimas são mais valiosas do que aquelas.”
- Texto: Blitz do Expresso, jornal parceiro do POSTAL