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Pós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora;
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Em vários artigos anteriores explicitámos o nosso entendimento da arte visual como uma forma de comunicação, pois podemos conseguir sintetizar ideias e salientar pormenores da realidade, através de imagens criadas com os diversos meios ou técnicas das artes visuais.
A ilustração enquadra-se neste conceito, pois consiste na imagem que é utilizada para acompanhar, explicitar ou sintetizar um texto. A imagem adquire, por vezes, uma tal relevância que a própria ilustração constitui a informação principal.
Em termos históricos, a partir do século XV, os livros passaram a ser ilustrados em xilogravura. Nos dois séculos seguintes, os principais métodos utilizados para a reprodução de ilustrações foram a gravura e a água-forte. No final do século XVII, a litografia permitiu que as ilustrações fossem ainda melhor reproduzidas.
Embora na atualidade a fotografia possa ser também usada no processo de ilustração, no passado o desenho era a técnica mais usada para criar imagens ilustrativas da realidade.
Dentro da ilustração visual, destacaríamos o contributo que tem tido a ilustração científica. Esta incide em aspetos da ciência, tendo sido mais utilizada sobretudo a partir do Renascimento (séculos XVI e XVII).
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Mas, já muito antes, a ilustração era usada no domínio científico. Por exemplo, Bartholomaeus Anglicus, em 1240, apresentou a sua enciclopédia sobre todas as ciências da época (Teologia, Filosofia, Medicina, Astronomia, Cronologia, Botânica, Geografia, Mineralogia), usando diversas ilustrações ao longo desta publicação.
Não havendo outras formas de “retratar” a realidade, muito do avanço científico ocorrido ao longo dos séculos contou com o suporte essencial da ilustração.
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Isto aconteceu em diversas ciências, em particular nas ciências ditas “da natureza”. Por exemplo, no trabalho de Darwin sobre a teoria da evolução das espécies foi utilizada a ilustração com grande frequência, considerando-se que Darwin deixou mais de mil ilustrações nos seus estudos. Inclusivamente, ocorreu, em 2009, o Colóquio Internacional “Darwin e a Ilustração Científica”.
A medicina foi outro domínio em que ocorreu um uso frequente da ilustração, em particular no estudo da anatomia humana. Temos como exemplo a pintura de Michiel van Miereveld, intitulada “lição de anatomia”, no séc. XVI.
O próprio Leonardo Da Vinci utilizou muitas vezes ilustrações, em particular sobre temas de medicina, como seja nos “Estudos de embriões” (1510-13).
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Neste caso, como em muitos outros, a ilustração pretendeu “retratar” o não observável. Desta forma, a ilustração permite a criação de imagens que possibilitam “visualizar” aquilo que ainda não é visível ao olho humano, mesmo utilizando técnicas que permitem aumentar de forma muito significativa o tamanho da realidade observável, como seja o microscópio ou o telescópio.
As questões ligadas ao universo, e ao tempo x espaço do mesmo, são daquelas sobre as quais atualmente mais ilustrações incidem. Por exemplo, para ilustrar a percentagem daquilo que existe no universo, Pablo Budassi criou uma imagem em que apenas cerca de 5% da densidade do universo é composta por matéria comum (planetas e estrelas), sendo o restante energia escura.
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O futuro, com maior ou menor fição, é também objeto de muitas das ilustrações criadas na atualidade. Por exemplo, os protótipos de novos automóveis são muitas vezes inicialmente apresentados na forma de esboço ilustrativo, antes de serem produzidos e de saírem para o mercado. Um dos temas mais abordados em termos de ilustração sobre o futuro são as cidades, sobretudo no que diz respeito ao aproveitamento do espaço aéreo das mesmas e às acessibilidades e aos veículos para transporte a usar.
Na atualidade, a ilustração é também muitas vezes usada para “retratar” a realidade passada, quer no âmbito arqueológico, quer noutros domínios. Por exemplo, numa notícia recente, que indicava que os cientistas vão perfurar o local onde terá caído, há 66 milhões de anos, um asteróide que extinguiu os dinossauros, foi apresentada uma ilustração que procura mostrar como era o ambiente da vida dos dinossauros nesse período.
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Muitos daqueles que trabalham em ilustração científica na atualidade tendem a especializar-se num domínio científico específico, pois as técnicas utilizadas exigem rigor e um bom conhecimento científico relativamente ao que precisa de ser ilustrado.
Também importa salientar que, não é apenas no domínio das ciências exatas e das ciências naturais que a ilustração é usada, começando as ciências sociais e humanas a beneficiar também do uso da ilustração.
As imagens criadas sobre o conceito de stresse, que apresentámos no último artigo, são disso um exemplo.
(Artigo publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul)