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Pós-doutorado em Artes Visuais pela Univ. de Évora;
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Os níveis de stresse das pessoas têm vindo a aumentar nos últimos anos, devido a múltiplas alterações na vida profissional, familiar, social, etc, que representam um aumento dos níveis de exigência e de incerteza.
Em geral, quando é utilizado o termo stresse é-o no sentido negativo, pelas consequências que a vários níveis podem ocorrer no organismo, sobretudo quando as situações representam níveis de exigência muito elevados para o sujeito ou quando persistem durante muito tempo na sua vida, ultrapassando os seus limites de tolerância.
No entanto, o stresse pode ser positivo, distinguindo-se entre as situações de distress, em que o nível de exigência é claramente superior à capacidade do sujeito para responder, e as situações de eustress, em que o sujeito consegue responder de forma adequada à exigência que sobre ele é colocada, podendo desta forma as situações aparentemente difíceis até contribuir para o seu desenvolvimento e realização.
No sentido de tentar expressar ambas as valências do stresse, a negativa e também a positiva, procurando sintetizar a essência deste conceito, realizámos o trabalho “Distress e Eustress (síntese)”.
Neste, procurámos expressar a diferença entre as duas valências do stresse, utilizando duas telas de dimensões diferentes, representando níveis de exigência diferentes para o sujeito, que aqui é representado pelo pincel, enquanto os seus recursos para responder às exigências são representados pelas tintas utilizadas.
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A situação em que a tela é maior, representando uma exigência superior, provoca distress, pelo que a tinta não é suficiente para uma resposta adequada à tarefa de realizar um traço na tela. O traço revela-se inconstante e os pelos do pincel estão abertos como que alarmados com a situação. A tinta vermelha representa simultaneamente a agressividade e o receio no traço realizado, isto é, as respostas de luta e de fuga de que já Canon falava, em 1935.
Por seu turno, na situação em que a tela é de menor dimensão, a tarefa de realizar um traço corresponde a um nível de exigência ao qual consegue ser dada uma resposta adequada, representando uma situação de eustress. A situação não foi um problema, mas sim um desafio, sendo o traço realizado de forma confiante e serena, o que é representado pela cor azul, e a resposta adequada, como se revela pelo traço direito e constante, bem como pelo pincel com os pelos na dimensão do traço que realizou.
A partir deste trabalho “Distress e Eustress”, produzimos ainda um outro trabalho sobre o conceito de stresse que utilizou meios digitais. Assim, foi criado um ambiente digital, procurando responder à questão “what is stress?”.
Nesse sentido, foram utilizadas as imagens produzidas no trabalho “Distress e Eustress” e conjuntos de palavras que se organizam para permitir clarificar o conceito de stresse.
Em termos de software informático para a realização deste trabalho foram utilizados os programas on-line Prezi e Wordle.
Aproveitando as potencialidades destes programas informáticos, procurámos criar um ambiente digital que integra as imagens das telas “Eustress e Distress”, colocando no meio a questão “What is stress?”
Desta forma, procuramos expressar que o stresse é algo que se situa entre estes dois conceitos mais específicos, representando também que se trata de duas possibilidades alternativas de desenvolvimento quando o sujeito é confrontado com exigências que constituem fatores de stress.
Integrámos na imagem diversos termos-chave que permitem responder à questão colocada e compreender como é que as situações de distress e de eustress podem ocorrer e desenvolver-se.
Esses termos-chave são os seguintes e apresentados nesta sequência: stress, factors, distress, symptoms, coping, resilience e eustress.
A imagem que destaca a questão colocada constitui o primeiro de vinte passos apresentados neste trabalho. A sequência de passos foi organizada de forma a que primeiro surjam imagens de cada uma das telas com a respetiva designação de distress ou eustress, consoante o caso, para fomentar a curiosidade no espetador e para que este se possa aperceber das duas possibilidades deste termo.
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Depois a sequência segue com a apresentação de cada um dos termos-chave, encontrando-se num ponto de cada um deles um conjunto de palavras que ajuda a compreender o seu sentido. As palavras relativas a cada termo-chave foram selecionadas a partir de uma revisão da literatura da especialidade sobre cada um dos termos, permitindo um conjunto de palavras para cada termo.
As palavras escolhidas para cada um dos termos-chave foram as seguintes:
1) Stress: Selye, elasticity, demands, tension, activation, fight-or-flight, pressure, hypothalamus, adrenaline, cortisol;
2) Factors: conflicts, problems, too busy, work overload, uncertainty, pessimism, perfectionism, illness;
3) Distress: deadlines, emergency, urgent, danger, persistent stress, negative events, bad stress, vulnerability;
4) Symptoms: indecisions, apathy, heartbeat, colds, headaches, infections, fatigue, hypertension, irritability, unhappiness, diseases, insomnia, nightmares;
5) Coping: strategies, skills, social support, time management, assertiveness, share feelings, humor, healthy lifestyle;
6) Resilience: resistance, optimism, hardiness, protective factors, realistic goals, self-confidence, flexibility;
7) Eustress: positive response, good stress, concentration, energy, fulfill goals, adaptation, challenge, solve problems.
Estes conjuntos de palavras foram organizados no Wordle e transpostos para o Prezi, possibilitando este a sua observação através do efeito zoom que permite efetuar.
A sequência dos termos foi a referida atrás porque o desenvolvimento do distress numa situação de stresse (termo 1) depende dos fatores (termo 2) presentes nessa situação. Do distress (termo 3) resultam vários sintomas (termo 4). A resolução de situações de distress depende das estratégias de coping (termo 5) e das competências de resiliência (termo 6) do sujeito, possibilitando o desenvolvimento do eustress (termo 7).
A apresentação termina com um afastamento da imagem, possibilitando uma visão panorâmica das telas e dos termos-chave distribuídos nestas.
Sendo programado para uma sequência de 4 segundos por passo, a apresentação do trabalho demora 1 minuto e 20 segundos.
No entanto, o Prezi também permite que o ritmo de passagem entre cada passo da sequência seja decidido pelo espetador, no momento em que está a apreciar o trabalho.
Assim, neste trabalho também procuramos aproveitar a vertente de interatividade permitida pela arte digital (Lieser, 2009), pois o espetador pode gerir o tempo que demora em cada passo da sequência de imagens. Assim, a participação ativa do espetador e a interação permitida pela arte que recorre ao potencial das novas tecnologias tem também esta vantagem de permitir ambientes de apreciação artística ou de aprendizagem através da arte mais atrativos e cujo ritmo é gerido pelo próprio sujeito que aprecia ou aprende.
Desta forma, este último trabalho procurou explorar as relações de convergência entre a arte, a ciência e a tecnologia, encontrando-se a relevância da sua componente pedagógica patente na necessidade da participação ativa do espetador, pois este terá de fazer um percurso de vinte passos que pode gerir segundo o seu próprio ritmo de aprendizagem.
Este trabalho encontra-se disponível no youtube, no link http://www.youtube.com/watch?v=uwK8ih4FPFs.
Nota: Algumas das reflexões apresentadas neste artigo encontram-se no livro “Construção de um percurso multidisciplinar, integrativo e de síntese nas Artes Visuais”.
(Artigo publicado na última edição do Caderno de Artes Cultura.Sul)