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Quem não se recorda das lojas emblemáticas das cidades onde moramos, algumas das quais ainda em atividade? Ou daquelas outras, localizadas em aldeias mais no interior, onde íamos por razões familiares ou de lazer?
A partir dessas recordações, a Câmara Municipal de Lisboa criou um programa de promoção do comércio tradicional, fomentando a tomada de consciência sobre o papel que o comércio e o consumo locais desempenham na economia, cultura, vida e história da cidade(1) . O programa(2) procura distinguir lojas com caraterísticas únicas e reconhecido valor para a identidade local, isto é, espaços comerciais com particularidades arquitetónicas e/ou decorativas relevantes, para as quais se exige a preservação da autenticidade arquitetónica e decorativa nas operações urbanísticas, nomeadamente as que visam a modernização ou alteração de uso. Procura igualmente distinguir as lojas que sejam únicas no quadro das atividades económicas (muitas delas pioneiras) associadas ao seu uso original e especializadas na venda a retalho, na restauração e bebidas ou na prestação de um serviço pessoal. E outras, ainda, por serem as últimas do seu ramo de negócio. Ou mesmo aquelas que introduziram novos conceitos na sua atividade para responder às necessidades do público e/ou que mantêm ateliês de manufactura dos seus produtos.
A partir desse exemplo de Lisboa, a Direção Geral do Património Cultural desafiou as Direções Regionais de Cultura para alargarem a nível nacional e dinamizarem um programa conjunto. Este inicia-se com a identificação e mapeamento dos espaços comerciais a distinguir. Neste propósito, a Direção Regional de Cultura terá como parceiros os Municípios e a Comunidade Intermunicipal (AMAL), a CCDR e associações comerciais da região (ACRAL, AIHSA).
Focar-se desta forma no passado torna muito presente a necessidade de salvaguardar estes espaços, desencadeadores de memórias, mas também o reconhecimento da sua dinâmica económica enquanto atividades geradoras de emprego, de relações sociais e do seu valor histórico e cultural para as comunidades onde se inserem. Para além de o pensarmos enquanto programa a dinamizar, vale a pena um momento de reflexão sobre a importância de salvaguardar esses lugares, relembrando que no Algarve somente dois espaços de comércio tradicional se encontram classificados: o “Café Aliança”, em Faro, e o “Café Calcinha”, em Loulé.
Olhar para outros espaços comerciais que, por razões diversas, não vão conseguindo acompanhar o desenvolvimento das novas exigências de consumo, deve ser gerador de ação e promoção da sua dinamização económica antes que desapareçam. Simultaneamente, devemos pensar no papel de cada um de nós enquanto atores neste propósito, pois como consumidores devemos ter consciência de que só com a participação de todos é possível salvaguardar espaços, empregos e economias locais.
Na passada quarta-feira, dia 5 de Abril, teve lugar na sede da Direção Regional de Cultura do Algarve o primeiro encontro regional no âmbito deste programa, no qual estiveram presentes os parceiros regionais e os nacionais, assim como os responsáveis por este projeto na Câmara Municipal de Lisboa.
(1) http://www.belasartes.ulisboa.pt/lojas-com-historia/
(2) De acordo com o Boletim Municipal de Lisboa, de 25/02/2016
(Artigo publicado na última edição do Caderno de Artes Cultura.Sul)