O Festival Verão Azul está a decorrer desde o dia 17 de outubro e prolonga-se até 2 de Novembro, em Loulé, Faro e Lagos.

Sob o mote “Pela Estrada Fora”, de Jack Kerouac, a 9ª edição do Verão Azul— festival internacional de artes – volta a Loulé, Faro e Lagos, com propostas de teatro, dança, música, performance, artes visuais e cinema. Este ano em formato bienal, artistas nacionais e internacionais convidam o público a pensar o conceito do Antropoceno – época que se caracteriza pelo impacto das acções do Homem no seu habitat.
O Festival vai contemplar um total de 21 espectáculos, dos quais se podem contabilizar quatro estreias — duas nacionais e duas absolutas — e duas co-produções.
Com Direcção artística da dupla Ana Borralho e João Galante e curadoria de Catarina Saraiva, o programa da 9ª edição contempla criadores consagrados do panorama artístico internacional, como o coreógrafo italiano Alessandro Sciarroni, recentemente distinguido com o Leão de Ouro da Bienal de Dança de Veneza 2019; ou Niño de Elche, o enfant-terrible do Flamenco; e nomes nacionais, como Tó Trips, Raquel André ou a rapper algarvia, Russa.
Catarina Saraiva, curadora desta edição, disse ao POSTAL que “o Festival Verão Azul é um festival de artes performativas e não só. É um festival de arte contemporânea que tem na sua programação áreas artísticas tão diversas como a dança, teatro, fotografia, sessões de rua e música”.

“Esta é a 9º edição. A primeira edição começou em Lagos e este ano continuamos a parceria que temos com Faro e Loulé. Estas duas primeiras semanas são entre Faro e Loulé, onde vamos intercalando espetáculos entre as duas cidades e depois na última semana vamos para Lagos”, explica.
Catarina Saraiva salienta que “este é um festival que tem trabalhado muito no apoio à criação, tendo passado a ser um evento bienal. O ano passado tivemos vários artistas em residência aqui no Algarve”.
“Nós queremos chamar à atenção a forma como a arte se pode relacionar com a sociedade. A arte contemporânea não é de todo elitista. A arte contemporânea é uma forma de expressão por parte dos artistas que têm uma preocupação sobre o mundo e que, muitas vezes, através das suas próprias urgências querem falar sobre questões que são muito quotidianas a todos nós. Alguns falam de amor, outros de política, outros de beleza, paisagens… Todos estes artistas têm sempre algo a dizer”.

A curadora do projeto refere que “nós queremos fazer chegar aquilo que é uma arte mais experimental ao Algarve. Este festival pretende fazer com que durante este período se faça uma festa à volta daquilo que é apresentar espetáculos, peças, sessões, concertos que têm um discurso bastante crítico e que querem afetar as pessoas”.
Duas estreias mundiais
Um dos destaques do festival é a estreia mundial do projecto “In Between” de Paulina Sz, uma performance de 20 minutos entre a artista polaca e um espectador. O projecto coloca duas pessoas de costas com costas sem olhar para trás e aborda questões como honestidade, presença, encontro e a relação com o outro. Recorde-se que a artista desenvolveu esta performance no âmbito do laboratório Shock Lab – Práticas Criativas em Contextos Periféricos, realizado em Faro e Loulé, em 2018. Este espetáculo foi apresentado no dia 17 de Outubro no Cine-Teatro Louletano.
A outra estreia mundial decorre no dia 27 de Outubro, no Cine-Teatro Louletano. “A Laura Quer!” é um projecto de Sílvia Real em co-criação com o Grupo 23: Silêncio! e Francisco Camacho. Uma peça de dança e teatro, com adolescentes e crianças, voltado para o futuro e dirigido a todos os públicos a partir da pergunta: “Mas que futuro será este, ancorado nas incertezas deste intenso agora?”.
Formato bienal com duas co-produções
Em 2018, o Verão Azul abriu um novo ciclo e adoptou o formato bienal. Nos anos intercalares, dedica-se a trabalhar a sua intenção artística de descentralização com artistas convidados, promovendo residências de criação, laboratórios de pesquisa e co-produções, cujos resultados serão apresentados em cada edição do festival.

É o caso de Raquel André que, para “Colecção de Artistas”, uma das duas co-produções da edição de 2019 do festival, realizou duas residências artísticas no Algarve, em Faro e em Loulé. O espectáculo, que estreou no dia 14 de setembro, no Teatro Nacional D. Maria II, foi apresentado no dia 19 de outubro, no Cine-Teatro Louletano. Trata-se de uma colecção que se ocupa de cada artista, das suas práticas e ferramentas de trabalho, bem como dos seus pensamentos e biografias. O Verão Azul apresenta ainda “Colecção de Amantes” a 1 de Novembro, às 21:30 horas, no Centro Cultural de Lagos. Estes dois trabalhos integram a tetralogia intitulada “Colecção de Pessoas”.
Outra co-produção desta edição do Verão Azul é “Entre Cães e Lobos”, do artista brasileiro Gustavo Ciríaco, que desenvolveu uma performance inspirada numa colecção de relatos e descrições de paisagens que apenas ficaram guardadas nas memórias de anciãos e de outras imaginadas e desenhadas por crianças. Para a criação de “Entre Cães e Lobos”, o artista realizou duas residências, uma em Lagos onde colaborou com um grupo de crianças e outra em Loulé com um grupo de séniores.
Projectos no espaço público para envolver a comunidade
Cátia Pinheiro leva às ruas de Loulé e de Lagos (1 e 2 de Novembro) “The Walk#2”, um percurso-áudio site-especific que se serve da cidade e das pequenas ficções dela extraídas para conduzir os espectadores numa viagem única e pessoal. Em Loulé, o início do percurso faz-se a partir do Convento do Espírito Santo e em Lagos, da Messe Militar de Lagos. As saídas serão individuais, com intervalo de quatro minutos entre cada espectador e os bilhetes podem ser adquiridos no Cine-Teatro Louletano e no Centro Cultural de Lagos. “The Wlak #2” foi desenvolvido no âmbito de uma residência realizada pela artista no Algarve.

O colectivo chileno MilM2 (mil metros quadrados) vai percorrer as ruas de Faro (19 e 20 de Outubro) e Quarteira (26 e 27 de Outubro) com o “Proyecto Pregunta”, um dispositivo que pretende incentivar a participação cívica, promover o debate no espaço público sobre questões sociais e que contará com a colaboração de um grupo de voluntários da comunidade local.
“Burn Time”, do coreógrafo e performer André Uerba, é uma performance que vai contar com a participação de 10 pessoas da comunidade local que serão selecionadas numa audição limitada a 25 participantes, no dia 17 de Outubro. O espectáculo foi apresentado no dia 24 de Outubro.
Exposição de André Príncipe e várias sessões de cinema
O Verão Azul conta com a exibição de três filmes: “Braguino”, de Clément Cogitore (22 de Outubro) um documentário sobre duas famílias que vivem na floresta siberiana, isoladas, de forma auto suficiente e sem falarem entre si; “Raving Iran”, de Susanne Regina Meures (23 de Outubro e 30 de Outubro, 21:30 horas, no Galeria LAR, em Lagos), um filme sobre dois amigos DJs que vivem diariamente sob a ameaça da censura no Irão, num mundo secreto e underground, mas com uma vontade imensa para viver e realizar os seus sonhos; e “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora (31 de Outubro, 21:30 horas, Galeria LAR, em Lagos), que resulta do convívio de anos que os realizadores tiveram com o povo krahô no Norte do Brasil. Em 2018, o filme recebeu o prémio especial do júri da secção Un Certain Regard do Festival de Cannes.
Artistas algarvios actuam nos pontos de encontro do festival
Uma das novidades desta edição do Verão Azul passa pela criação de dois pontos de encontro, no Gimnásio Clube de Faro e Auditório do Solar da Música Nova (Loulé), que vão contar com actividade programática de entrada gratuita, como concertos, conversas e encontros informais entre público e criadores.
Actividades paralelas
O Verão Azul propõe um conjunto de actividades paralelas, como workshops de dança, com Gustavo Ciríaco (26 e 27 de Outubro, na Academia Iluminarte, em Loulé), e de Improvisação Musical, com Gabriel Ferrandini (26 de Outubro, na Mákina de Cena – Associação Cultural, em Loulé). Os valores dos workshops variam entre os 20 e os 10 euros, respectivamente.
Estão ainda previstas duas masterclasses gratuitas. No dia 26 de Outubro, na Casa da Cultura de Loulé decorre uma masterclass de fotografia com André Cepeda. No dia 2 de Novembro, na Galeria LAR em Lagos, realiza-se a masterclass de teatro, orientada por Raquel André.
Para incentivar a crítica nas artes performativas, será criado um grupo de crítica, constituído por espectadores que vão analisar os espectáculos, entrevistar artistas e produzir material que poderá ser publicado no site do Verão Azul. Esta actividade é aberta ao público em geral e será orientada pela curadoria do festival.
As inscrições para as actividades paralelas podem ser efectuadas AQUI.
Sessões para escolas
A programação do festival contempla dois espectáculos dedicados exclusivamente à comunidade escolar. “Antiprincesas – Clarice Lispector”, de Cláudia Gaiolas é um espectáculo inspirado na vida da escritora brasileira, que foi apresentado no dia 25 de Outubro, no Parque Municipal de Loulé, e a 30 de Outubro no Parque da Cidade, em Lagos.
No dia 31 de Outubro, às 10:30 horas, no Centro Cultural de Lagos, vai decorrer “Por esse Mundo Fora”, de Márcia Lança e Nuno Lucas, um espectáculo sobre como a curiosidade nos pode levar a superar os nossos limites.
Produzido pela associação cultural casaBranca, o Verão Azul afirma-se, mais uma vez, como um evento de características únicas na região dedicado à promoção e difusão da criação contemporânea. Desde a sua primeira edição em 2011 em Lagos, o festival estendeu-se também ao sotavento algarvio, fidelizando públicos e construindo parcerias com um número cada vez maior de agentes e instituições – destacando-se as parcerias de co-produção com o Cine-Teatro Louletano e Teatro das Figuras e a integração no programa 365 Algarve.
Para consultar a programação completa do festival clique AQUI.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)