“A menina do mar” é um dos mais conhecidos textos de Sophia de Mello Breyner Andresen para a infância e foi editado pela primeira vez em 1958, somando desde então mais de 40 reedições, ilustrado por vários artistas, como Luís Noronha da Costa e Fernanda Fragateiro.
No entanto, a primeira edição do conto teve desenhos da artista Sarah Affonso, numa edição da Ática há muito esgotada.
A obra, que faz parte do Plano Nacional de Leitura, conta a história de um menino, que vive numa casa branca voltada para o mar, que um dia encontra uma menina, pequenina e de cabelos azuis, a dançar com um polvo, um caranguejo e um peixe.
Em várias entrevistas, Sophia de Mello Breyner Andresen revelou que a ideia de escrever para crianças nasceu da necessidade de contar histórias aos filhos. E o primeiro conto foi inspirado numa história incompleta que a mãe lhe tinha contado, sobre uma menina que vivia nas rochas.
“Como a coisa que eu mais adorava na vida era tomar banho de mar, essa menina tornou-se para mim o símbolo da felicidade máxima, porque vivia no mar, com as algas, com os peixes… Então eu comecei a contar a história a partir disso”, afirmou a escritora, numa entrevista citada na página `online` da Biblioteca Nacional de Portugal, que lhe é dedicada.
Sarah Affonso (1899—1983) é considerada uma das mais notáveis e desconhecidas artistas modernistas portuguesas, e apesar de a sua obra já ter sido várias vezes dada a ver em exposições individuais ou coletivas, ainda é pouco conhecida do grande público.
A artista, última aluna de Columbano Bordalo Pinheiro, é principalmente conhecida por ter sido mulher de José de Almada Negreiros.
Em 2019, por ocasião de uma exposição em Lisboa e coincidindo com os 120 anos do nascimento, foi publicado o livro “Sarah Affonso — Os dias das pequenas coisas”, que revela os diferentes domínios em que a artista trabalhou, nomeadamente desenho, pintura, bordado e alguma ilustração para a infância.
É neste livro que se lê que Sophia de Mello Breyner Andresen, em 1957, numa viagem ao Minho, convidou Sarah Affonso para ilustrar o seu primeiro conto.
Para o livro, “Sarah cria um conjunto de oito desenhos que vão ao encontro dos desejos da escritora e nos quais dialogam a tradição popular e as influências de Matisse, na criação de um universo cativante, gizado a lápis de cor”, lê-se em “Os dias das pequenas coisas”.
Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das mais distintas vozes literárias do século XX português, nasceu no Porto, em 1919, e morreu em Lisboa, a 02 de julho de 2004.
Para a infância, publicou ainda “A fada Oriana” (1958), “A noite de Natal” (1959), “O cavaleiro da Dinamarca” (1964), “O rapaz de bronze” (1966), “A floresta” (1968), “A árvore” (1985), “A cebola da velha avarenta” (1986) e, a título póstumo, “Os ciganos”, obra completada pelo neto, Pedro Sousa Tavares.
Além de “A menina do mar”, Sarah Affonso também desenhou para outras obras para a infância, nomeadamente “Mariazinha em África” (2915) e “As aventuras de Mariazinha, Vicente e companhia” (1935), ambos de Fernanda de Castro, e “O crocodilo e o passarinho” (1975), de Madalena Gomes.