A Ponte da Misarela, situada em Vieira do Minho, Braga, é um dos mais emblemáticos exemplos da ligação entre o património cultural e as lendas populares de Portugal. Esta ponte, também conhecida como “Ponte do Diabo”, ergue-se sobre um desfiladeiro impressionante, rodeada por uma vegetação densa e por uma cascata exuberante, criando um cenário digno de um conto de fadas.
A sua história remonta à Idade Média, tendo sido posteriormente reconstruída no século XIX. O que pode tornar esta ponte ainda mais fascinante é a lenda que lhe está associada. Conta-se que, numa época distante, os moradores das aldeias de Frades e Vila Nova decidiram construir uma ponte para ligar as duas povoações, facilitando a comunicação e o trânsito de pessoas e animais. Contudo, quando a ponte foi concluída, no dia seguinte, ela desabou inexplicavelmente.
Mesmo após várias tentativas de reconstrução, a ponte continuava a cair, o que levou os aldeãos a especularem que tal poderia ser obra do Diabo. Foi então que ouviram uma voz misteriosa dizendo: “nunca conseguireis segurá-la de pé”.
Desesperados, os moradores pediram ajuda ao padre da freguesia, que, após ouvir o relato, afirmou: “voltai a reconstruí-la, porque desta vez não cairá.” O sacerdote acompanhou o grupo na reconstrução da ponte e, no momento de colocar a última pedra, quando a estrutura ameaçava ruir, ele lançou um pão benzido sobre ela e pronunciou palavras sagradas: “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” Com isso, o Diabo, apressado, abandonou o local, mas a sua presença deixou uma marca: a ponte ficou ligeiramente torta, como se o ombro do próprio Diabo tivesse deixado a sua impressão nela.
No entanto, para além da lenda associada ao Diabo, a Ponte da Misarela também é um símbolo de fé e fertilidade. Antigamente, acreditava-se que mulheres que tivessem perdido um filho e estivessem grávidas de novo deveriam ir até à ponte, à meia-noite, acompanhadas de duas pessoas. Durante a sua espera, ninguém poderia atravessar a ponte, sob pena de o milagre não se concretizar.
Quando uma quarta pessoa passava, a mulher era considerada abençoada e a criança que trazia na barriga recebia um batizado simbólico, com o padrinho ou madrinha a realizar a cerimónia com um ramo de oliveira e um jarro de água do rio. O batizado, segundo a VortexMag, era sempre feito com as palavras:
“Eu batizo-te
em nome do Pai,
do Filho,
e do Espírito Santo.
Se fores rapaz, o
teu nome será Gervás;
e se fores rapariga, o
teu nome será Senhorinha.”
Estas tradições, profundamente enraizadas na cultura cristã, dão à Ponte da Misarela um caráter místico e simbólico que atrai tanto os curiosos quanto os devotos. A ponte foi classificada como imóvel de interesse público em 1993 e continua a ser um local de visita muito popular . A sua beleza natural e o mistério que envolve a lenda fazem dela um lugar que cativa quem a visita, seja pelo encantamento da paisagem ou pela força das histórias que a cercam.
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