Ao longo das gerações, investir em ouro tem sido considerado uma maneira segura de aplicar dinheiro. Desde libras e joias transmitidas de pais para filhos até barras de ouro guardadas em cofres, ou mesmo investimentos em fundos e ações de empresas mineiras, existem várias formas de envolvimento financeiro com este metal precioso.
O ouro sempre foi associado à riqueza, e a história está repleta de episódios em que este metal contribuiu para a prosperidade de nações. No entanto, também há momentos em que a febre do ouro, impulsionada pela ganância, resultou em morte, guerra e exploração. Em pleno século XXI, surge a pergunta: por que a “quimera do ouro” ainda persiste? Investir em ouro continua a ser uma opção viável? Saiba agora mais com a ajuda do Ekonomista.
Aparentemente, e com base nos valores atingidos em 2020, a resposta é sim. A pandemia elevou os preços para níveis historicamente elevados, ultrapassando os dois mil dólares por onça.
Em tempos de incerteza, investir em ouro parece ter-se consolidado como uma opção sólida e confiável. Aqueles que já haviam investido nesse metal viram seus investimentos valorizados, como foi o caso das reservas de ouro do Banco de Portugal.
Prós e contras
Embora o investimento em ouro possa parecer relativamente consensual, a realidade é que existem opiniões divergentes sobre as suas vantagens. Warren Buffett, o multimilionário, não era inicialmente favorável a este metal precioso. Argumentava que o ouro não gerava rendimentos, como dividendos, e preferia investir em ativos com preços mais baixos.
Contudo, no verão, a Berkshire Hathaway, empresa de Buffett, surpreendeu o mundo financeiro ao investir na Barrick Gold, uma empresa associada à mineração de ouro – uma abordagem que difere da simples compra de ouro físico. Este movimento destaca duas importantes conclusões: existem várias formas de investir neste metal, e é crucial diversificar a carteira de investimentos, mesmo que esta inclua ações de empresas como a Apple e a Coca-Cola.
Um dos argumentos contrários ao investimento em ouro é a sua limitada utilidade em situações de emergência, onde não pode ser facilmente trocado por bens essenciais. Apesar de ser considerado um ativo que, em teoria, não desvaloriza, não possui um valor constante. O seu valor pode variar significativamente em curtos períodos, apresentando um risco que os investidores devem ter em consideração.
Investir em ouro como reserva de valor
Este metal, como mencionado anteriormente pelo Ekonomista, é uma reserva de valor clássica, sendo utilizado tanto para as pequenas economias de um indivíduo como para constituir uma reserva nos cofres de nações em todo o mundo.
Além disso, a política adotada pelos bancos centrais tem sido a de reforçar suas reservas de ouro, em vez de liquidar as existentes. Isso, por si só, é um indicador que sugere ser uma opção segura.
Investimento anti-crise
É um facto que o ouro tem sido tradicionalmente visto como uma proteção contra recessões e inflação.
Daí o seu papel como um “investimento de confiança”, uma ideia que parece ganhar força sempre que ocorre uma queda no mercado de ações ou um colapso no setor imobiliário.
Tendência permanente de valorização
O ouro é um metal presente em quantidades limitadas. A escassez desse recurso, com uma prospeção limitada, tem a tendência de aumentar o valor do ouro já em circulação no mercado.
Dessa forma, a oferta é inferior à procura, o que representa uma boa indicação para um investimento sólido.
O ouro é de aceitação universal
Pode ser comercializado a qualquer momento e em qualquer lugar do mundo, o que é considerado uma vantagem, mas também pode representar o oposto.
Em situações extremas, ao necessitar de trocar ouro por um bem de primeira necessidade, é provável que perca parte significativa do seu investimento. Isso fica evidente em momentos de dificuldade financeira, quando a venda de ouro para obter liquidez resulta em perdas substanciais.
O que faz variar o preço do ouro?
O valor deste metal flutua ao longo do dia e é expresso em dólares por onça troy (31,3 gramas). Portanto, sempre que o dólar norte-americano experimenta variações positivas ou negativas, o preço do ouro sofre oscilações.
Além disso, o ouro é cotado numa espécie de bolsa, situada em Londres, que estabelece os preços dos metais preciosos, como ouro, prata ou platina. Assim como na bolsa convencional, na LBMA (London Bullion Market Association) há um preço de abertura às 10h30 (GMT) e um de fecho às 15h00.
O valor é determinado por 15 entidades financeiras: Bank of China, Bank of Communications, Citibank N.A. London Branch, Coins ‘N’Things, Goldman Sachs, HSBC Bank USA NA, Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), StoneX Financial Ltd, Jane Street Global Trading LLC, JP Morgan Chase Bank N.A. London Branch, Koch Supply and Trading LP, Marex Financial Limited, Morgan Stanley, Standard Chartered Bank e The Toronto Dominion Bank.
Posteriormente, a oferta e a procura, condicionadas por fatores sociais, económicos e políticos, influenciam o valor do ouro em determinado dia.
A médio e longo prazo, o preço do ouro também é afetado por fatores como as taxas de juro. Se estas estiverem baixas, muitos particulares podem optar por comprar ouro em vez de o depositarem no banco. Com o aumento da procura, o preço do ouro tende a subir.
Que impostos tem de pagar se investir em ouro?
Sob uma perspetiva fiscal, investir em ouro apresenta vantagens em comparação com outras formas de aplicação financeira.
A aquisição de ouro para fins de investimento, nomeadamente barras de ouro e determinadas moedas, está isenta de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). No entanto, esta isenção não se aplica se optar pela compra de joias e outros artefactos, os quais estão sujeitos à taxa máxima deste imposto.
No momento da venda, não é exigido o pagamento de mais-valias.
Como investir?
Barras de ouro
Optar por adquirir barras de ouro ou moedas representa a maneira mais direta e simples de investir em ouro. Contudo, este método apresenta alguns inconvenientes, especialmente relacionados com os custos associados à compra e ao armazenamento desses ativos.
A opção de guardar esses objetos em casa não é aconselhável, devido ao risco aumentado de roubo. Para uma segurança mais eficaz, a alternativa de armazenamento num banco é, sem dúvida, mais segura, embora implique o pagamento de uma comissão pelo aluguer do cofre.
Joias
A aquisição de joias pode ser atrativa se tiver a intenção de usá-las, mas como forma de investimento, pode não ser muito compensadora, a menos que se trate de uma peça rara ou com valor histórico que aprecie ao longo do tempo.
Em circunstâncias normais, o valor que despende na compra, incluindo o IVA, pode ser inferior ao montante recebido aquando da venda, uma vez que apenas o peso do artigo deve ser considerado.
Fundos e ETF
Este tipo de investimento demanda algum conhecimento sobre o funcionamento dos mercados. No entanto, dado que a gestão é conduzida de forma profissional, a intervenção do investidor é mínima. Basta alocar o dinheiro e aguardar para observar o comportamento do mercado.
Os fundos que direcionam investimentos para empresas relacionadas com o ouro, como as de mineração, oferecem uma maneira de aplicar o seu dinheiro sem a necessidade de adquirir barras ou joias. No entanto, tal como acontece com o ouro físico, os investidores beneficiam sempre que a cotação deste metal aumenta, uma vez que as empresas se valorizam.
Os ETF (Exchange-Traded Funds) são transacionados em bolsa semelhante às ações e incluem produtos especializados em ouro. Os ganhos crescem à medida que a cotação do ouro aumenta.
Adquirir contratos de futuros
Os contratos de futuros, também denominados contratos forward, representam um instrumento financeiro derivado que possibilita acordar, no momento presente, o preço de uma mercadoria para uma data futura.
O investidor obtém lucro ou prejuízo conforme o preço efetivamente verificado na data futura seja superior ou inferior ao valor estabelecido no contrato para uma quantidade específica de ouro. Se o preço do ouro aumentar, o investidor receberá a diferença; no entanto, se diminuir, deverá depositar a diferença para manter a mesma quantidade.
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