
Avaliar o nível de ameaça e traçar medidas para melhorar a preservação das aves e vegetação das ilhas barreiras da Ria Formosa é o objetivo do projeto LIFE, hoje apresentado em Olhão.
“O objetivo é promover a conservação das ilhas barreira de modo a proteger as espécies e os ‘habitats’ nelas existentes” revelou à Lusa Joana Andrade, coordenadora do projeto LIFE Ilhas Barreira, que terá a duração de quatro anos.
O projeto, apresentado hoje no Centro de Educação Ambiental de Marim, em Olhão, no distrito de Faro, teve início em setembro de 2019 mas só agora vai para o terreno para levar a cabo a caracterização das áreas de vegetação e de zonas de erosão das cinco ilhas.
A ideia, adiantou a bióloga, é perceber “como tem sido a evolução ao longo do tempo”, mas também “intervir e potenciar algumas ações de conservação” deste ecossistema que se estende por cinco concelhos algarvios.
Para tal, vão “identificar os fatores de pressão” que estão a causar o desaparecimento dos ‘habitats’, para perceber como serão capazes de “acompanhar os atuais cenários de alterações climáticas e subida do nível do mar”.
As ilhas barreira são um conjunto de cinco ilhas – Barreta (conhecida como Deserta), Culatra, Armona, Tavira e Cabanas – e duas penínsulas, do Ancão e de Cacela, que, como o nome indica, formam uma barreira entre o mar e a Ria Formosa.
Este sistema, com mais de 18.000 hectares, é um importante refúgio para algumas aves marinhas, cuja estrutura “está constantemente a ser redefinida” pelos agentes naturais de dinâmica costeira.
A ilha Deserta, no concelho de Faro, é “o único local” do país onde nidifica a gaivota-de-audouin, sendo que as restantes ilhas albergam, igualmente, populações importantes de andorinha chilreta, ilustrou Joana Andrade.
O LIFE Ilhas Barreira irá estudar “o estado das populações destas espécies”, bem como a dinâmica entre as gaivotas e as dunas, bem como avaliar a “necessidade de medidas de conservação”, referiu a bióloga.
As capturas acidentais de aves em artes de pesca é outra das preocupações do projeto, que “vai procurar trabalhar com os pescadores” para testar soluções que permitam evitá-las.
O objetivo é avaliar o impacto destas capturas e perceber, por exemplo, como este problema está a afetar uma das espécies de aves criticamente ameaçadas na Europa, a pardela balear.
As espécies invasores são consideradas como uma das maior ameaças à biodiversidade e, por isso, pretende-se fazer um controlo de algumas plantas, como o chorão e a acácia, para que as dunas possam ter as espécies nativas destes ‘habitats’.
No final dos quatro anos do projeto, que envolve 25 especialistas, pretende-se perceber quais as melhores técnicas para “recuperar as dunas” onde seja necessário e caracterizar toda a vegetação das várias ilhas.
Outro dos objetivos é ter uma “melhor informação sobre as populações nidificantes” da gaivota-de-audouin, da qual “ainda se sabe muito pouco”, acrescentou a coordenadora do projeto.
Joana Andrade adiantou que estão programadas ”centenas de atividades” com escolas e a instalação de câmaras para que alguns os ninhos possam ser seguidos em direto, “aproximando as pessoas dos valores naturais que caracterizam as ilhas barreira”.
O diretor regional do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) no Algarve, Joaquim Castelão Rodrigues, afirmou à Lusa que este é mais um projeto que vem “acrescentar conhecimento científico”, envolvendo a sociedade civil na “salvaguarda e proteção dos valores naturais na Ria Formosa”.
O Projeto LIFE Ilhas Barreira é cofinanciado pela Comissão Europeia e coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em colaboração com o Centro de Investigação e Recuperação de Animais Selvagens (RIAS), Animaris, ICNF e as universidades do Algarve e de Coimbra.