Medicamentos e comida. Para quem quer ajudar os feridos e os refugiados da Ucrânia enviando bens, neste momento são esses os mais necessários. Não tanto roupa. Os medicamentos são aqueles que se usam nos feridos, mas também todos os outros, pois, com a guerra, neste momento muitas farmácias ucranianas encontram-se basicamente vazias.
Foi esta a mensagem imediata mais importante que o Expresso recebeu durante a visita que fez esta terça-feira à associação oficial Ukrainian Refugees UAPT, sediada na zona da Picheleira, em Lisboa. Formada em tempo recorde – uma manifestação junto à embaixada russa na passada sexta-feira levou a um encontro no sábado em Benfica: “um encontro de fundadores”, diz Olha Yeremenko, uma das responsáveis.
“A associação dos ucranianos em Portugal foi realmente pró-ativa”, conta. “Convidaram toda a gente que queria contribuir e começámos a trabalhar”. Algumas das pessoas já tinham participado na primeira manifestação, que teve lugar do domingo, 20 de fevereiro.
A associação – que “para já está sediada em Portugal”, explica Yeremenko – ocupa um espaço, cedido por um cidadão ucraniano, de que metade é constituída por um armazém onde se acumulam caixas de cartão prontas a ser expedidas para a Ucrânia, via Polónia.
Mais acima na rua, num rés-do-chão, há uma série de salas onde trabalham talvez duas dezenas de pessoas, na sua grande maioria jovens. Uma das salas, com uma mesa ampla, é ocupada pela equipa tech e pela administração, diz Yeremenko, noutra funciona o call-center, que recebe constantemente chamadas a pedir e a oferecer ajuda.
Há quem ofereça autocarros para ir buscar pessoas
Yeremenko, cujo marido é português, conta que tem vivido em Portugal de forma intermitente. Regressou no verão passado e está em teletrabalho para uma empresa de outro país que não Portugal ou a Ucrânia.
Na associação recém-criada, os dias têm sido intensos. “Há imenso trabalho e muito com que lidar. Estamos a receber chamadas a toda a hora [para o número 913 074 319]. As sete pessoas que atendem estão sempre ocupadas. Temos de fazer uma triagem e pôr as pessoas em contacto, receber doações, financiar o que é preciso financiar, como ajuda humanitária”.
A resposta tem sido extraordinária, diz. Os portugueses não são a maioria dos que ligam para ajudar, mas são bastantes. Além dos géneros, dos medicamentos e das roupas, disponibilizam alojamento. “Houve mesmo quem oferecesse autocarros para ir buscar pessoas”, revela. Para não falar do camião TIR, que deverá partir na noite desta terça-feira ou de manhã cedo nesta quarta-feira, carregado de ofertas.
“Um país pacífico e funcional, não destruído”: o desejo de todos
Quando lhe perguntamos sobre o que acha que vai acontecer nos próximos tempos, responde: “Espero que a guerra não dure, pois temos família e amigos na Ucrânia, e todos queremos viver num país pacífico e funcional, não destruído”.
Para já, enquanto isso não acontece, diz que a resposta tem sido incrível. Tanto a proteção civil como várias câmaras municipais estão a colaborar com a associação [em Lisboa há uma hotline: 800 910 111) e há sinais de que os processos habituais do SEF serão alterados para ajudar os refugiados a receber, que Yeremenko prevê atingirão milhares.
“O nosso trabalho é o de facilitar esse processo o mais possível e apoiá-los, pois já estiveram em condições terríveis”, conclui, notando que a associação tem uma pessoa no SEF a facilitar a comunicação com esse organismo.