A demógrafa Maria Filomena Mendes, da Universidade de Évora, alertou hoje que, para Portugal evitar o que aconteceu com a gripe espanhola de 1918, quando “morreu muita gente”, é preciso “respeitar as regras para travar” a Covid-19.
“O mais parecido com este tipo de pandemia que estamos a viver é a gripe espanhola [ou a pneumónica] que tivemos em 1918. E quem se lembra de ouvir falar nela são talvez os mais velhos, que ouviram relatos dos seus avós ou bisavós que viveram nesses tempos. Nessa altura morreu muita gente e ninguém sabia como é que esse vírus se transmitia”, comparou.
Segundo a professora de Demografia, do departamento de Sociologia da Universidade de Évora (UÉ), “entre os mais novos não há memória de uma situação” como a do coronavírus responsável pela atual pandemia da Covid-19.
Esta pandemia, até “como se está a ver em vários outros países”, implica “uma mortalidade muito elevada”, o que pode provocar alterações demográficas em Portugal.
“Éramos um país com uma esperança de vida elevada, nos homens e particularmente nas mulheres, e, se não tomarmos estas medidas de segurança para travar este vírus, corremos o risco de nos acontecer o mesmo que em 1918, à escala da população e da situação que temos agora”, destacou a investigadora da UÉ.
Maria Filomena Mendes reconheceu que “é um esforço muito grande” fazer com que “as pessoas mudem os seus comportamentos”, mas, se não se aprender “com o que está a acontecer aos outros, não há nenhum serviço de Saúde no mundo que consiga dar resposta” a esta pandemia.
No fim da Grande Guerra, a pneumónica, também conhecida como gripe espanhola, dizimou dezenas de milhares de vidas, tendo sido, até hoje, a maior pandemia mundial, causando mais mortes que a peste negra ao longo de vários séculos.
Segundo informações do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, a pneumónica atingiu o país em maio de 1918 e, em cerca de dois anos, gerou uma crise demográfica grave, com algumas zonas do país a perderem cerca de 10% da população.
Em Portugal, o número oficial de mortos devido à gripe espanhola é superior a 60 mil. Em três ondas, a pneumónica matou principalmente jovens e atingiu pessoas de todas as classes sociais.
O combate à doença, liderado pelo médico, investigador e higienista Ricardo Jorge, passou pela adoção de medidas de contenção, como o encerramento de escolas, a proibição de feiras e romarias e a requisição de dezenas de locais públicos e particulares para a improvisação de hospitais.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, começou na China, em dezembro de 2019, e já infetou mais de 200 mil pessoas em todo o mundo, das quais 82.500 recuperaram e mais de 8.200 morreram.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 642, mais 194 do que na terça-feira, tendo o número de mortos no país subido para dois