Brian Thompson, diretor-executivo de uma das maiores seguradoras de saúde norte-americanas, a UnitedHealthcare, foi assassinado a tiro no passado dia 4 de dezembro à porta de um hotel em Manhattan, Nova Iorque. Apesar da gravidade do crime, a sua morte não gerou a comoção habitual, com muitos a reagirem com indiferença ou até sarcasmo. O que explica esta reação? Saiba mais neste artigo que conta com a colaboração do Notícias ao Minuto.
O CEO de um gigante da saúde
Com 50 anos, Brian Thompson era uma figura proeminente no setor da saúde norte-americano. Há mais de duas décadas na UnitedHealthcare, assumiu a direção executiva em 2021. A empresa, avaliada em 560 mil milhões de dólares, é a quarta maior dos Estados Unidos em vendas e representa um conglomerado que presta serviços a milhões de pessoas. Contudo, para muitos norte-americanos, a UnitedHealthcare é vista como um símbolo das falhas do sistema de saúde privado do país.
A falta de empatia: um reflexo do descontentamento
As reações nas redes sociais à morte de Thompson foram, em grande parte, marcadas por trocadilhos e críticas ao sistema de seguros de saúde. Comentários como “Lamento, mas é necessária autorização prévia para pensamentos e orações” ou “Ele tem um historial de tiroteios? Cobertura negada” destacam o ressentimento de muitos americanos em relação às práticas das seguradoras.
De acordo com dados do ValuePenguin, a UnitedHealthcare teve, em 2023, a taxa mais alta de recusa de pedidos de indemnização entre seguradoras privadas: 32%, o dobro da média do setor (16%). Estes números alimentam a percepção de que a empresa não está ao lado dos consumidores, mas sim contra eles.
Raiva contra o sistema
Jia Tolentino, jornalista da New Yorker, descreveu a reação pública como uma manifestação de raiva acumulada contra um sistema de saúde que muitos consideram injusto. Segundo Tolentino, “para a maioria dos norte-americanos, uma empresa como a UnitedHealthcare representa menos a prestação de cuidados médicos do que um obstáculo ativo à sua receção”. A recusa de indemnizações pode significar falência ou até mesmo a morte para aqueles que dependem dos serviços de saúde.
Por sua vez, Arwa Mahdawi, colunista do The Guardian, escreveu que a reação à morte de Thompson reflete a profunda frustração dos americanos. “Num país onde a elite raramente enfrenta consequências, Thompson tornou-se o rosto de um sistema que tramou milhões de pessoas”, sublinhou.
Quem foi o responsável?
O autor do crime, Luigi Mangione, de 26 anos, foi detido cinco dias após o homicídio, num McDonald’s na Pensilvânia. Estudante de elite, Mangione teria como motivação a política da seguradora. Após cometer o crime, fugiu de bicicleta elétrica em direção ao Central Park, onde foi avistado pela última vez antes de ser localizado.
Um símbolo de um problema maior
A morte de Brian Thompson levanta questões sobre as profundas desigualdades do sistema de saúde norte-americano. Num país onde o acesso aos cuidados médicos depende muitas vezes de seguros caros e de decisões arbitrárias das seguradoras, a raiva contra figuras como Thompson é menos sobre a sua pessoa e mais sobre o sistema que ele representava.
Enquanto os Estados Unidos continuam a debater reformas no setor da saúde, este caso é um lembrete do impacto humano de um sistema considerado insustentável por muitos. A morte de Thompson, ainda que trágica, é vista por alguns como uma consequência de uma injustiça estrutural que o país tem vindo a ignorar há décadas.
Leia também: Conheça o arroz muito consumido em Portugal que é bastante contaminado por agrotóxicos