Segundo um estudo realizado pelo Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO), os predadores das medusas que vivem no Mediterrâneo Ocidental estão a escassear, o que levou ao aumento da população da espécie. Como consequência, a quantidade de anchovas e sardinhas reduziu em grande escala.
As medusas aproveitam os locais onde as anchovas desovam para ingerir os seus ovos, sendo esta uma das razões para a diminuição a que se assiste. Os dados do estudo mostram que houve uma diminuição de 45% de sardinhas, fazendo cair em 10% as capturas. Nas anchovas, a população diminuiu 42% e as toneladas capturadas sofreram uma redução de 63%.
Outra das razões para a diminuição constatada é o facto de as medusas se alimentarem de plâncton, roubando o mesmo alimento às sardinhas e anchovas, o que as deixa desnutridas.
Mas este não é o único cenário negro para estas espécies, já que elas são também umas das principais vítimas da pesca excessiva. Para somar à lista negra, as alterações climáticas afetam a sua dieta, tal como os microplásticos lhes afetam a saúde.
Tendo em conta o mesmo estudo, que foi publicado na revista “Estuarine, Coastal and Shelf Science”, o número de capturas destes peixes desce significativamente nos anos em que há maior presença de medusas.
Durante a investigação, foi descoberto que desde 2001 o número de anchovas e sardinhas diminuiu significativamente, bem como o seu tamanho e qualidade. Atualmente, é quase impossível encontrar um animal destas espécies com sete ou oito anos, que é a sua esperança média de vida. Na verdade, segundo estudo do IEO, é difícil encontrar um com 2 anos, porque são pescados antes de conseguirem passar do primeiro ano de vida.
De forma a encontrar as razões para a diminuição das referidas espécies, os cientistas aproveitaram as campanhas marítimas do IEO, e percorreram o Mediterrâneo em embarcações científicas. Em simultâneo, recolheram amostras nos principais mercados de peixe durante 18 meses. Assim confirmaram as quatro razões para a diminuição de ambas as espécies: o declínio na qualidade da sua alimentação; as alterações climáticas; a pesca excessiva e os microplásticos.
Segundo o jornal “El País”, o papel das medusas foi descoberto mais tarde. O investigador José Carlos Baéz observou medusas encalhadas na costa, acontecimento natural durante o verão, mas que já está a acontecer também no inverno, o que mostra que existem em excesso. Segundo o investigador, isto é exlicado pelo aumento da temperatura do mar e a sobrepesca, que levam a um ambiente perfeito para a sua multiplicação.
Para Báez a principal solução é a recuperação do ecossistema. Ou seja, é prioritário reduzir a sobre-exploração dos predadores de medusas, como o atum, tubarão e o espadarte, assim como recuperar o número de tartarugas.
Outra resposta deve ser a redução da contaminação dos oceanos e da pesca excessiva.
Ainda assim, o estudo indica que as medusas têm um papel importante nos mares: “elas podem ser um importante inibidor para a recuperação de populações de peixes em ecossistemas empobrecidos”.
O estudo teve início com o projeto PELWEB, tendo sido financiado pelo Ministério da Ciência e Inovação. Foi dirigido pelos investigadores Marta Coll (Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona) e José María Bellido (do IEO-CSIC).
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL