Há quatro anos, um muro de entulho bloqueia a estrada que liga as aldeias de Janeiro de Cima e Ademoço, dificultando a mobilidade da população local. Esta situação insólita ocorre perto de Armadouro, a terra natal do cantor Tony Carreira, que já recordou a sua aldeia como um local perdido na Beira.
A obstrução da estrada deve-se a decisão da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra, liderada por Jorge Custódio (PSD), que optou por interditar a via por razões de segurança. O corte ocorreu após o desprendimento de pedras, tornando a estrada perigosa para os utilizadores.
Esta estrada municipal, aberta em 1983, era essencial para os habitantes das aldeias vizinhas, reduzindo em cerca de 16 quilómetros as deslocações entre Janeiro de Baixo e Ademoço. O seu encerramento obrigou os condutores a percorrer rotas mais longas, prejudicando tanto moradores como comerciantes locais.
Segundo a ZAP, João Barreto, residente em Janeiro de Baixo, tem sido uma das vozes mais ativas contra esta situação. “Com o encerramento deste troço, as centenas de pessoas que ainda vivem no interior têm que fazer desvios de quilómetros, quando podiam fazer em poucos quilómetros”, lamentou.
A alternativa imposta pelo encerramento da estrada aumentou o percurso de 3,7 km para 19,6 km, atravessando várias localidades. Além disso, a região não é servida por autoestradas nem por itinerários principais, agravando ainda mais as dificuldades de mobilidade.
Questionado pelo Diário de Coimbra, o presidente da Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra negou que o problema se arraste há quatro anos, afirmando que “são apenas dois e tal”. Acrescentou ainda que a solução requer colaboração entre os concelhos de Pampilhosa da Serra e Oleiros e apoio governamental.
A advogada Rita Garcia Pereira, consultada pela TVI, afirmou que a utilização de entulho para barrar a estrada é ilegal. “A Câmara tem sinalização própria para interditar a estrada, como baias e impedimentos de passagem, mas não entulho”, esclareceu.
O presidente da câmara justificou a decisão alegando que a sinalização inicial não impedia a passagem de veículos, levando à necessidade de uma medida mais drástica. “Optámos por uma solução mais drástica, que é colocar ali uma série de inertes de entulho, precisamente para dificultar a passagem dessas pessoas”, explicou.
Apesar de reconhecer a importância da reabertura da estrada, Jorge Custódio sublinhou que a obra teria um custo estimado de 1,2 milhões de euros, um valor elevado para um município com um orçamento reduzido. A TVI revelou que, nos últimos meses, a câmara gastou 260 mil euros em eventos como fogo de artifício e uma pista de gelo.
Sem previsão para a resolução do problema, o autarca atira a responsabilidade para o Governo: “Se fosse por minha vontade ou intenção, era ontem. Se não tivermos ajuda da tutela, muito dificilmente conseguimos fazer esta obra e, portanto, estar a dar um dia ou uma agenda é claramente errar e eu não quero fazer isso”.
Leia também: Deixou de ser praia: este areal no Algarve já foi concorrido e hoje é desaconselhado