O controlo orçamental representa uma dimensão fundamental do processo de financiamento da União Europeia (UE), assegurando que os recursos financeiros da UE são geridos de forma eficaz, transparente e em conformidade com os objetivos estabelecidos. Trata-se da defesa do uso apropriado do dinheiro dos contribuintes europeus. Neste contexto, o Parlamento Europeu desempenha um papel central, atuando como guardião dos interesses dos cidadãos e garantindo a correta utilização do orçamento.
Como já expliquei nesta coluna, o orçamento da UE, estruturado pelo Quadro Financeiro Plurianual (QFP) e pelos orçamentos anuais, aloca recursos para áreas estratégicas, como inovação, coesão, agricultura e pescas, ambiente, migração e segurança e defesa. Este investimento é fundamental para impulsionar o desenvolvimento económico, a resiliência social e a autonomia estratégica da Europa. No entanto, tendo em conta a distribuição de fundos por diversos programas e múltiplas estruturas governamentais – tanto a nível europeu, nacional como local – torna-se essencial realizar uma análise rigorosa e continuada, não só da forma como estes são atribuídos, mas também da sua eficácia e eficiência no cumprimento dos objetivos propostos.
A execução eficiente do orçamento exige um sistema robusto de monitorização e controlo, que envolve a cooperação de várias instituições. A Comissão Europeia é responsável pela gestão e implementação do orçamento, enquanto o Tribunal de Contas Europeu (TCE) assume a função de auditor externo, avaliando, meticulosamente, a regularidade e a legalidade das despesas. O Parlamento Europeu, através da Comissão de Controlo Orçamental, realiza uma fiscalização detalhada sobre as contas anuais da UE e decide, fundamentando-se nos relatórios do TCE, se aprova ou não os relatórios de contas da Comissão Europeia e das demais instituições, organismos e agências da União. Este processo anual é crucial, pois permite ao Parlamento avaliar o cumprimento dos objetivos, identificar eventuais irregularidades e exigir correções, reforçando, assim, a transparência e a responsabilização das organizações que recebem e gerem fundos da UE.
O Parlamento Europeu tem, igualmente, a responsabilidade de supervisionar o uso de fundos por parte das várias agências e programas da UE, que incluem iniciativas tão diversas como o Horizonte Europa, Erasmus+ e InvestEU. Estes programas, que representam um investimento significativo em áreas fundamentais como a inovação, educação, emprego e competitividade, estão sujeitos a uma avaliação rigorosa para garantir que os fundos são aplicados de forma eficaz e em consonância com os objetivos propostos. Em casos de utilização indevida, má gestão ou fraude, o Parlamento Europeu colabora com o Gabinete Europeu de Luta Antifraude (OLAF) e com a Procuradoria Europeia (EPPO) para assegurar que são tomadas as medidas necessárias para prevenir e corrigir irregularidades, protegendo assim os interesses financeiros da UE.
A gestão do orçamento da União apresenta desafios significativos, principalmente devido à sua complexidade e dimensão, operando em grande parte sob um regime de gestão partilhada entre a Comissão Europeia e os Estados-Membros. Neste modelo, os Estados-Membros são responsáveis pela implementação da maior parte do orçamento, aplicando os fundos em projetos que contribuem para os objetivos comuns da União – desde a coesão territorial até à transição ecológica e digital. Embora a Comissão Europeia mantenha a responsabilidade última pela administração financeira, os Estados-Membros desempenham um papel fundamental na gestão dos programas, realizando auditorias e apresentando relatórios regulares sobre a utilização dos fundos.
Contudo, um dos principais desafios na supervisão orçamental reside na fragmentação e complexidade dos instrumentos financeiros, particularmente quando se trata de instrumentos híbridos – que combinam fundos da UE com recursos provenientes dos Estados-Membros ou outras de fontes – criados para responder a situações de crise, como a questão migratória ou a recuperação pós-pandemia. Para enfrentar estes desafios, a UE tem implementado medidas de simplificação e promovido maior flexibilidade orçamental, permitindo uma gestão mais ágil dos recursos, em resposta a crises emergentes. Esta flexibilidade, no entanto, deve ser equilibrada com mecanismos de controlo rigorosos que assegurem a integridade e responsabilidade na utilização dos fundos, garantindo que cada euro investido contribui significativamente para os objetivos da União e para o bem-estar dos seus cidadãos.
Em conclusão, o controlo orçamental da UE, sob a liderança do Parlamento Europeu, constitui um pilar fundamental para a salvaguarda dos interesses financeiros da UE e dos contribuintes europeus e para o fortalecimento da confiança pública nas suas instituições. Ao assegurar que os recursos são aplicados de forma responsável e eficiente, o Parlamento contribui decisivamente para a construção de uma Europa mais coesa e resiliente, onde a gestão do dinheiro dos contribuintes se pauta pelo rigor e transparência, promovendo uma União alicerçada em valores e objetivos partilhados.
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