A Europa verde (go local)
“A Comissão Europeia adotou em maio de 2019 uma nova Estratégia de Biodiversidade, com o objetivo de trazer a natureza de volta às nossas vidas, e a Estratégia do Prado ao Prato, em defesa de um sistema alimentar justo, saudável e amigo do ambiente. As duas estratégias reforçam-se mutuamente, reunindo a natureza, os agricultores, as empresas e os consumidores para trabalharem em conjunto com vista a um futuro sustentável e competitivo.” in http://www.agronegocios.eu/noticias/a-estrategia-de-biodiversidade-e-a-estrategia-do-prado-ao-prato/
Na semana de 19 a 22 de outubro o Europe Direct Algarve promoveu na CCDR Algarve, a visualização conjunta de alguns eventos da #EUGreenWeek, procurando dar voz aos agentes locais e aos cidadãos na discussão destas estratégias. Publicamos nesta série os contributos recebidos agradecendo aos autores que aceitaram partilhar as suas sínteses ou reflexões!
Carta Aberta ao Presidente da Câmara Municipal de Faro Projeto de requalificação da mata do liceu
Após a análise do projeto, as reuniões tidas com a Câmara Municipal (CM) de Faro e os esclarecimentos prestados pela autarquia questionamos o executivo camarário sobre os seguintes aspetos e apresentam-se as seguintes propostas:
1 – Ocupação do espaço da Mata do Liceu
Conforme afirma a CM “A requalificação da Mata do Liceu pressupõe a implementação de uma nova ocupação programática do espaço, onde a componente desportiva, que tem caracterizado a utilização da Mata sobretudo nos últimos anos, e assim assumisse uma maior preponderância”.
No entanto, e tal como reconhecem, a Mata já é utilizada para a prática desportiva e existem igualmente outros espaços na cidade dedicados a essa prática – os relvado junto ao Forum Algarve e no Parque de S. Francisco, o Parque Ribeirinho e o Complexo Desportivo Municipal de Faro.
Assim sendo, seria expectável que a opção base do projeto fosse a de reforçar o pulmão verde que a Mata do Liceu representa, ao invés de reduzir esse espaço verde promovendo uma nova “ocupação programática” que vai impermeabilizar áreas e reduzir a área verde da cidade.
2 – Disponibilidade de estrutura verde urbana / habitante
De acordo com vários autores, cada habitante de uma cidade tem uma necessidade de, pelo menos, 40 m2 de estrutura verde urbana i. Apesar de não termos obtido dados atualizados, de acordo com o Relatório inLUT ii, “a cidade de Faro disporia, em 2015, de 8,8 m2/ de estrutura verde / habitante”iii.
No projeto aprovado para a Mata, apesar de afirmarem que grande percentagem das árvores a abater estão mortas, outras estão assinaladas para abate apesar de estarem sadias e a contabilidade final indica que a Mata ficará com menos 168 árvores: atualmente contabilizam-se 981 árvores; após a intervenção restarão 813, ou seja, 83% do número inicial.
A eliminação de 17% do espaço verde da cidade é agravada com o facto de 200 dessas 813 árvores passarem a ser árvores jovens, a plantar durante a intervenção. Os benefícios das árvores adultas, em termos de evapotranspiração, captação de CO2 e disponibilização de oxigénio, não é comparável com os das árvores em início de vida, facto que se agrava com a necessidade de água que estas novas árvores vão exigir durante anos.
Concluímos assim que ficaremos sem parte dos exemplares de árvores adultas da Mata e que teremos que aguardar vários anos para obter todos os benefícios das árvores a plantar no âmbito da presente intervenção. Constatamos igualmente que na cidade de Faro a área de estrutura verde urbana por / habitante representa apenas 22% do desejável e que a execução da “Requalificação da Mata do Liceu” vai agravar ainda mais esta situação.
Face ao acima exposto propomos que, em fase de obra, se encontrem soluções para manter o máximo de árvores existentes e para garantir que no final do projeto a cidade poderá dispor, pelo menos, da mesma quantidade de árvores que a Mata do Liceu tinha antes do projeto; além disso deverá ser encontrada um alternativa ao pavimento de betão desativado proposto para o caminho principal, por exemplo usando saibro estabilizado (tipo de material que foi utilizado nos caminhos do Parque Ribeirinho) que é mais natural e permeável.
Salientamos que o Algarve é a região do país onde mais se fazem sentir os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente pela atual situação de seca severa iv e respetivas perspetivas de agravamento da mesma.
Nesse contexto, a redução de 17% da área arborizada da Mata, a impermeabilização de parte da mata pela execução do plano de acessibilidades, o abate de árvores adultas existentes e a implantação de um relvado vai implicar o aumento dos consumos de água, numa altura em que se deveriam estar a maximizar as poupanças de consumo.
Neste entendimento, instamos a Autarquia a encontrar soluções em obra, que evitem os impactos negativos expectáveis desta intervenção na deterioração da qualidade de vida dos cidadãos farenses.
O GlocalFaro
i Segundo Tzoulas e outros (2007), o valor global desejável para a estrutura verde urbana é de 40m2 /habitante, ratio necessário ao equilíbrio do ecossistema urbano e à saúde da população (Bernatzy, 1996). Padrões referenciados pela DGT3 de – estrutura verde urbana de 40m2 /habitante
iii Relatório InLUT – Sapientia 2015
iv Set 2020 – https://www.ipma.pt/pt/oclima/observatorio.secas/
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