Dezenas de pessoas homenagearam ontem em Lisboa a jovem Beatriz Lebre e todas as outras mulheres vítimas de violência.
“Transformar o luto em luta” foi um dos cartazes que foram escritos na tarde de hoje e afixados junto da entrada do ISCTE, em Lisboa, instituição onde a jovem estudava psicologia.
A ação foi organizada pelo movimento feminista “Por Todas Nós” e serviu também para “retornar à rua”, porque com a quarentena imposta devido à doença covid-19 muitos temas “foram quase esquecidos”, explicou à Lusa a fundadora do movimento, Patrícia Vassallo.
“É importante voltar à rua, voltar à luta, adaptando-nos à situação”, defendeu a responsável, acrescentando que são os números de violência contra as mulheres que o obrigam.
“Temos de trabalhar muito mais este problema”, defendeu. E quando questionada sobre o facto de a violência contra as mulheres não parecer diminuir considerou que é também verdade que hoje há mais informação e que as vítimas já não ficam caladas, como ficavam no passado.
Beatriz Lebre, 23 anos, estudante universitária de psicologia foi morta a 22 de maio por um colega da faculdade. O suspeito foi ouvido em tribunal na semana passada e ficou em prisão preventiva. Rúben Couto, 25 anos, confessou que matou a jovem, segundo fonte policial à Lusa.
O movimento “Por Todas Nós” diz que Rúben Couto estava obcecado pela jovem e não aceitou “um não como resposta”. O bastão utilizado na morte da jovem foi encontrado. Acrescenta o grupo que só no ano passado foram assassinadas 20 mulheres e houve 27 tentativas de femicídio em contexto familiar ou de intimidade.
“Isto é uma guerra contra as mulheres. Gritamos: Nem mais uma!”, diz o movimento. Outras frases inscritas em cartazes eram: “O machismo mata”, ou “Que nós, as que podemos, usemos a nossa voz, e não nos calemos”.
A ideia, também anunciada nas redes sociais, era deixar no local mensagens de homenagem e pelo fim da violência de género. Patrícia Vassallo disse que as mensagens ficarão no local, onde outras pessoas, nos próximos dias, podem colocar mais mensagens, ou outros objetos de homenagem (como flore ou velas, por exemplo).
Por ontem foram apenas mensagens e dois pequenos girassóis, colados à parede, ao lado de uma fotografia da jovem. E também algumas pessoas, duas dezenas, vigiadas de perto pela polícia, que ainda antes de começar a iniciativa já perguntava quantas pessoas se iam juntar.
Patrícia Vassallo disse que, com todos os cuidados, é preciso “voltar à rua” e “fugir do ativismo das redes sociais”.
E isso, pelo menos, fez-se com o uso generalizado de máscara, e uma mesa com álcool e gel para que quem escrevia uma frase nas cartolinas disponibilizadas pudesse desinfetar as mãos.
“Alertar, Apoiar, Educar, Denunciar” encheu uma dessas cartolinas, e outra, com uma longa mensagem, terminava com um lamento: “Desculpa não te termos conseguido salvar Beatriz”.
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