A agricultura no Algarve tem atravessado um processo de adaptação nas últimas décadas, motivado pelas alterações climáticas, escassez de água e necessidade de diversificação económica. Tradicionalmente associada a culturas como a laranja, a alfarroba e, mais recentemente, o abacate, a região tem procurado alternativas sustentáveis e com maior valor acrescentado. Este fruto, mais conhecido como “fruta do dragão” devido ao seu aspeto peculiar, começa a ganhar terreno nas explorações agrícolas do Algarve.
Neste contexto, novas apostas agrícolas têm surgido, impulsionadas tanto por projetos de investigação como pela iniciativa de pequenos produtores.
Apesar de não ser novo em território nacional, o cultivo da pitaia — também conhecida como “fruta do dragão” — tem vindo a ganhar visibilidade no Algarve.
Em 2024, o tema esteve em destaque nos media regionais e nacionais, impulsionado por projetos de investigação e experiências em pequena escala.
De origem tropical e pertencente à família dos cactos, a pitaia tem vindo a ser estudada por investigadores da Universidade do Algarve, em especial no campo experimental instalado nos arredores de Vila Nova de Cacela, concelho de Vila Real de Santo António.
O projeto, financiado pela União Europeia, tem por objetivo avaliar a viabilidade da cultura em estufa e ao ar livre, tendo em conta a escassez de água e as condições climáticas do sul do país.
Adaptação ao clima e interesse crescente
Segundo o professor Amílcar Duarte, responsável pelo projeto, esta é uma cultura com forte potencial adaptativo ao clima quente e seco do Algarve, desde que as plantações não estejam expostas a geadas.
A planta, originária da América Central, destaca-se por exigir poucos recursos hídricos e por ter um ciclo produtivo ajustado às condições locais.
Recomendamos: “Ouro verde”: espanhóis rendidos ao fruto exótico muito produzido no Algarve que ‘dá’ anos de vida
Apesar de já existir em território nacional há vários anos, só recentemente a produção da pitaia começou a ganhar dimensão económica.
Em declarações à agência Lusa, o investigador sublinhou o interesse crescente dos agricultores locais e a aceitação progressiva por parte dos consumidores portugueses, que inicialmente olhavam para o fruto com alguma estranheza.
Qualidade local versus importação
A agrónoma Ana Rita Trindade, também envolvida no projeto, destaca a qualidade superior do produto nacional face à fruta importada, sobretudo devido ao momento ideal da colheita, mais próximo do consumo.
Essa frescura, aliada ao sabor e valor nutricional, tem permitido ao produto alcançar preços até oito euros por quilo em mercados locais como o de Olhão.
“Agora, após cinco anos, posso dizer que é uma cultura economicamente atrativa”, referiu Trindade em setembro de 2024.
Em abril de 2025, a tendência mantém-se, com novos pequenos produtores a apostar nesta cultura, incentivados pela procura crescente e pelo valor de mercado estável.
Valor nutricional e versatilidade
A pitaia apresenta benefícios nutricionais reconhecidos, sendo considerada um alimento nutracêutico. Rica em antioxidantes, fibras e vitamina C, é especialmente apreciada nos meses de verão, quando o seu sabor doce e refrescante a torna uma opção leve e hidratante.
A versatilidade do fruto permite o seu consumo ao natural, em sumos, sobremesas ou até saladas.
Com um mercado interno ainda em crescimento e possibilidades de exportação, este fruto poderá representar, nos próximos anos, uma resposta concreta aos desafios da sustentabilidade agrícola no Algarve, sobretudo num contexto de escassez hídrica e necessidade de diversificação produtiva.
Leia também: Adeus carta de condução: conheça a idade máxima para continuar a conduzir esta categoria