“Só nos primeiros dois dias, 410 corpos de ucranianos assassinados foram encontrados nas zonas libertadas da região de Kiev – Bucha, Irpin e outras cidades e vilas. O número de vítimas exato dos ocupantes russos, infelizmente, será muito mais alto.”
Estas palavras foram escritas este domingo pelo Ministério da Defesa da Ucrânia, um dia depois das tropas ucranianas terem recuperado o controlo de toda a região de Kiev – incluindo dezenas de cidades e vilas nos subúrbios da capital que tinham sido tomadas pelas forças armadas da Rússia.
As primeiras imagens captadas ontem mostram várias pessoas mortas em casas e nas ruas destas cidades, sendo que algumas foram deixadas em valas comuns. Muitos destes civis tinham as mãos atadas atrás das costas e sacos na cabeça, enquanto outros tinham sido baleados na cabeça e nos joelhos, como mostram vídeos das forças ucranianas. Estas provas indicam que as forças armadas russas terão executado civis antes de baterem em retirada – cometendo assim crimes de guerra à luz do direito internacional.
Face ao surgimento de novas provas durante este domingo, a comunidade internacional foi rápida a denunciar as ocorrências: Emmanuel Macron, presidente francês, considerou as imagens da cidade de Bucha “insuportáveis” e demonstrou “compaixão pelas vítimas” e “solidariedade para com os ucranianos”. “As autoridades russas devem responder pelos crimes”, disse Macron no Twitter.
Por sua vez, o chanceler alemão exigiu esclarecimentos sobre o que apelida serem “crimes cometidos pelo exército russo”. “Devemos esclarecer esses crimes cometidos pelo exército russo”, disse Olaf Scholz em comunicado, exigindo que os autores dos crimes sejam “responsabilizados”. “Isto é um crime de guerra que não pode ficar sem resposta“, afirmou ainda Robert Habeck, vice-chanceler e ministro da Economia da Alemanha, prometendo sanções mais apertadas contra a Rússia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que estava “chocada” com os relatos dos “horrores indescritíveis” nas áreas de onde as tropas russas foram obrigadas a retirar-se. A responsável europeia disse ainda que é urgente fazer-se uma investigação independente, uma ideia replicada por Charles Michel, presidente do Conselho Europeu: “Estou chocado com as imagens assombrosas das atrocidades cometidas pelo Exército russo na região libertada de Kiev”, sublinhou, referindo-se ainda ao “massacre de Bucha”.
Por cá, António Costa também condenou os ataques: ” É chocante a brutalidade das imagens que nos chegam de Bucha. Condenamos veementemente estas atrocidades contra civis. Uma barbaridade inaceitável que tem de ser veementemente punida pela justiça internacional”, escreveu o primeiro-ministro no Twitter, também referindo o “massacre de Bucha.”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, diz que está “profundamente chocado com as imagens de civis mortos em Bucha”. “É essencial que uma investigação independente permita encontrar os responsáveis”, acrescentou o ex-primeiro ministro português.
À CNN norte-americana, o secretário-geral da NATO disse que as imagens de Bucha mostram “uma brutalidade contra civis que não víamos na Europa há décadas.” Para Jens Stoltenberg, a morte de civis é “horrível e absolutamente inaceitável”.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, falou num “murro no estômago” e exigiu que os agressores sejam responsabilizados. Além disso, o responsável garantiu que os EUA vão contribuir para ajudar a “documentar” potenciais crimes de guerra que estejam a acontecer na Ucrânia – um esforço que o Reino Unido também se comprometeu a fazer, lembrando que o Tribunal Penal Internacional já está no país a investigar as ações militares russas.
Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, reagiu com mais emoção às imagens que têm saído de Bucha, Irpin e outras localidades: “As mães dos militares russos deveriam ver isto. Vejam os bastardos que criaram. Assassinos, ladrões, carniceiros”, afirmou o governante no Facebook.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL