As instalações estão ultrapassadas pelo tempo e escassez de médicos. É o retrato do SNS na região mais a sul do país, avançado pelo Expresso.
José, de 72 anos, deu entrada nas Urgências do Hospital de Faro em meados de janeiro. Doente oncológico há anos, tinha sofrido uma convulsão e precisou de ser internado. Mas, em vez de ser colocado no serviço de Oncologia, ficou numa maca, nas Urgências, à espera de vaga.
“Na altura, explicaram-nos que havia cerca de 60 pessoas nas mesmas condições, por falta de espaço nas diversas especialidades”, conta uma filha. A agravar a situação, como um tumor lhe afetava um nervo, José não conseguia mexer o braço direito e, por isso, estava incapaz de se alimentar sozinho.
A pedido do hospital, por falta de pessoal, foi a mulher e a filha que lhe deram o almoço e o jantar durante os dois dias que José esperou até ser colocado numa cama no serviço de Oncologia. “Nada a dizer das pessoas que trataram o meu pai, foram espetaculares, mas aquilo não tem condições”, conclui a filha.
O episódio com José ajudará a explicar a maior falta de confiança que os moradores da região Sul de Portugal têm no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em comparação com o resto do país.
Poucos médicos em diversas especialidades, escassez de pessoal e instalações envelhecidas, sem espaço suficiente para os utentes, são problemas há muito identificados no Centro Hospitalar e Universitário do Algarve — que administra os hospitais de Faro e Portimão e a extensão de Lagos. Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão (eleita pelo PS), que desde setembro preside também ao Conselho Consultivo do hospital, diz “perceber” a descrença dos algarvio no SNS.
Para a explicar, destaca “os constrangimentos dos últimos anos e a fusão dos hospitais no centro hospitalar [em 2013], sem que fosse acautelada a resolução dos vários problemas”.
A autarca, que durante anos se manifestou contra essa fusão, admite que, agora, “já não fará sentido voltar a separar os hospitais”. Mas defende que é importante “repor a dignidade dos serviços no Hospital de Portimão”. E sublinha a “necessidade de ser construído um novo hospital, central, como já foi reconhecido pelo primeiro-ministro”, noticia o Expresso.