O Sindicato dos Jornalistas (SJ) adiantou hoje ter recebido, nos últimos dias, várias denúncias de profissionais da comunicação social que estão a encontrar obstáculos ao seu trabalho, por “falta de colaboração das entidades oficiais”, de acordo com um comunicado.
Na nota, hoje divulgada, o SJ explicou que, “com a ativação dos planos municipais de emergência e proteção civil, muitos presidentes de Câmara assumiram o comando das operações, numa lógica de vedar a informação, ou, nalguns casos, de escolher os jornalistas a quem facultam dados, numa violação clara da lei e do direito à informação”.
O sindicato dá depois vários exemplos, como em Pombal, onde o presidente da Câmara “decidiu fazer um ‘briefing’ diário com os órgãos locais, escolhendo apenas três jornalistas para as ‘entrevistas’ (como lhes chamou) – gravadas em vídeo e só mais tarde partilhadas com os restantes órgãos de informação locais e regionais”.
O autarca foi depois alertado “para a ilegalidade da decisão” e decidiu “convocar todos os jornalistas dos órgãos regionais e nacionais para conferências de imprensa via Skype”.
Já em Ourém, “quando confrontado pelos jornalistas com a necessidade de adoção de algumas medidas de segurança (distanciamento) nas conferências de imprensa semanais, o presidente da câmara decidiu simplesmente cancelar os encontros com jornalistas”, criticou o SJ.
A estrutura sindical referiu ainda o caso de Leiria, em que o autarca “optou por prescindir dos jornalistas, gerindo ele próprio a informação diretamente para as redes sociais”.
Por fim, em Viana do Castelo, depois de uma reportagem do Jornal de Notícias referindo que “não havia material de proteção no hospital, no dia seguinte os profissionais de saúde receberam um manual de boas práticas que inclui a suspensão de contactos com a comunicação social”, criticou o SJ.
O sindicato fala mesmo em ‘lei da rolha’, que afetou muitos jornalistas da imprensa regional e correspondentes da imprensa nacional e que registou “episódios diversos a norte (em Fafe), a sul (Faro) e no Oeste, com as entidades de saúde pública a colocarem uma espécie de garrote na divulgação da informação, centralizada na Direção-Geral da Saúde”, lê-se no comunicado.
O SJ dá ainda conta de dificuldades em “confirmar dados junto dos serviços de saúde pública” e alertou para o facto de que as reuniões de Câmara, “que, até aqui, eram abertas, vão ser feitas por videoconferência, mas sem que os jornalistas tenham acesso”.
“Convém lembrar que as reuniões das autarquias são tão importantes para a imprensa regional como as sessões do parlamento são para a imprensa nacional”, sublinha o SJ.
“Os jornais, as rádios e as televisões regionais não podem ser meras caixas de ressonância dos órgãos locais. Em tempo de crise como o que atravessamos, é imperioso que os media existam para mostrar o retrato do país, e isso só se consegue com jornalismo”, salientou o SJ, recordando que “o jornalismo faz-se com perguntas e não com comunicados em que apenas prevalece uma versão dos factos”.