O presidente do Farense, João Rodrigues, pediu na quarta-feira “desculpa” aos adeptos pela descida à II Liga de futebol, consumada após a goleada sofrida com o Santa Clara (4-0), na derradeira ronda da I Liga.
“Peço desculpa a todos os farenses. É tempo de reflexão”, escreveu o dirigente, numa curta mensagem divulgada nas redes sociais do emblema algarvio.
A equipa orientada por Jorge Costa, que para escapar à despromoção tinha obrigatoriamente de vencer na 34.ª ronda, acabou por ser derrotada na deslocação aos Açores, com golos de Cryzan (33), Morita (45), Allano (59) e Carlos Júnior (63).
O Farense, que tinha regressado à I Liga após uma ausência de 18 anos, terminou a época no 17.º lugar, com 31 pontos e voltou à II Liga acompanhado pelo Nacional (18.º), as duas equipas promovidas na época passada.
Relembrar quem é João Rodrigues
O POSTAL relembra o testemunho recolhido em janeiro de 2020 por Isabel Gonçalves, na altura presidente do Rotary Club de Faro, para a homenagem que foi realizada a 30 de janeiro a João Rodrigues no Hotel Eva, em Faro, distinguido com o prémio Mérito de Carreira.
João Carlos Barão Rodrigues, nascido em 1961 (10.09.1961) em Faro. É filho de António Louro Rodrigues e de Laurinda Barão Rodrigues.
Com tenra idade, em 1964, imigra para a África do Sul, com os pais e a irmã.
Voltou a Faro para fazer os dois últimos anos da Escola Primária, na Escola de São Luís, tendo ficado órfão de mãe nessa altura.
Regressa à África do Sul onde ingressa no ensino normal.
Volta a Faro cinco anos depois e faz os dois últimos anos do liceu João de Deus.
Tem como colega de carteira José Apolinário (secretário de Estado das Pescas), Carlos Rodrigues (CCAM) e João Afonso (Sonae), entre outros.
Dessa época existem vivas as memórias de trabalho de Verão na Praia de Faro, na esplanada Santa Maria. Tempos únicos, em que o Verão, os amigos, os turistas, o ganhar bom dinheiro e as miúdas, são condimento para que a adolescência fosse tempo de aprendizagem e de abertura ao novo mundo.
Regressa à África do Sul com 17 anos e começa a trabalhar, com uma passagem muito breve pela KFC e de seguida começa a trabalhar numa cadeia de supermercados, onde atinge rapidamente lugar de algum relevo, com uma promissora carreira pela frente.
Com a idade de 19 anos é pai da sua primeira filha.
Nesse momento, pondera o seu futuro e decide prosseguir a sua preparação académica e matricula-se na Universidade de Joanesburgo, mantendo o trabalho necessário para gerar proveitos para si e para a família, entretanto aumentada.
E ainda encontrou tempo para jogar à bola, sendo dessa época a alcunha “Suburbs” – Subúrbios.
Concluiu o curso de Gestão Financeira na Universidade de Joanesburgo e torna-se assim um dos primeiros portugueses licenciados na África do Sul com este curso.
Com o curso concluído, vai trabalhar como Gestor Financeiro para uma empresa industrial, mas pouco depois, com a idade de 27 anos, é convidado para trabalhar como diretor financeiro da Transafrik.
- Razões? Falava português e inglês, tinha adquirido competências académicas e experiência.
O NASCIMENTO DO EMPRESÁRIO E UM POUCO DE HISTÓRIA DA TRANSAFRIK
Em 1992, quando já era o diretor financeiro da Transafrik, um dos três grupos de sócios decide que quer sair da empresa. Os sócios irlandeses que tinham o expertise da aviação, quiseram também sair. O outro terceiro sócio era a banca.
Nessa altura o Diretor Financeiro – João Barão Rodrigues – e o Diretor de Manutenção – Erich Koch – reúnem-se em Londres e fizeram a proposta de ficarem com 49% da companhia. O banco Meridien ficou com o restante.
Em 1997 fizeram uma operação MBO (Mannagement Buy Out) e chegaram a acordo com o banco, tendo ficado a deter 100% da Transafrik.
A Transafrik é, ainda nos dias de hoje, o segundo maior operador civil mundial de carga pelos aviões civis Lockeed 100, os Hércules L-100 e que na versão militar são conhecidos como os C-130.
A posição estratégica da Transafrik, como companhia de aviação civil de transporte de carga, numa fase de guerra civil em Angola 1992 a 2002, em que tudo era necessariamente levado por ar, por causa das estradas minadas, fez crescer a companhia.
E quando a guerra terminou houve que fazer chegar aos territórios devastados pela guerra, as forças das Nações Unidas, que como missão de paz, eram transportadas por meios civis e não por meios militares.
A intervenção da Transafrik manifestou-se ainda em diversos cenários de conflito, em que foi necessário fazer chegar meios e mantimentos e forças de paz aos locais. Camboja em que houve a colaboração com a Cruz Vermelha durante 4 anos, Iraque, Afeganistão, Somália, Congo, Etiópia e outros.
Em 1994 foi a Transafrik que retirou europeus do Ruanda, aquando do conflito armado que opõe hutus e tutsis, e que mataram quase um milhão de ruandeses.
- O filme com o nome Hotel Ruanda, em que Paul Rusesabagina, gerente do Hotel des Milles Collines, na capital do país, toma a decisão corajosa de abrigar sozinho mais de 1.200 refugiados, e em que as forças militares fazem escolta aos estrangeiros desde o hotel ao aeroporto, dá-nos conta da realidade em que alguém está a mobilizar meios e esforços para que o avião chegue e faça os 4 a 5 voos necessários para retirar as pessoas.
A Transafrik chegou a deter uma frota de 27 aviões, com DC8, Boeing 727, os Hércules L-100, Electras, Jet Star, mantendo atualmente 7 aviões, dos quais alguns estão para abate.
Em 2002/2003, com o fim da guerra e a necessidade de recuperação das infraestruturas, identificaram os acionistas da Transafrik a oportunidade de incrementarem os seus negócios para áreas que despontavam e foi então constituída a BrafriKon, empresa de construção e que, por exemplo, construiu o 1º prédio com piscina superior em Luanda.
- BRAFRIKON – Engenharia e Obras Públicas Limitada é uma empresa de Direito Angolano. Detém alvará para actuação nos vários âmbitos das obras públicas e privadas nos graus máximos permitidos. Vocacionada para os ramos de construção de edifícios e residências, estradas, gestão imobiliária, produção e montagem de postes de alta tensão, a Brafrikon é especializada em alcançar áreas específicas de mercados, através de processos inovadores tecnicamente comprovados.
- A Brafrikon atualmente tem 560 colaboradores.
Nesse mesmo período de 2002, vieram a estabelecer ligações com o Brasil, tendo estado a analisar investimentos relacionados com a Varig e a empresa de manutenção.
Essa situação não ocorreu, tendo, todavia, gerado a oportunidade de entrada no negócio de cabeças de gado, em que investiu de 2002 a 2012 e detiveram 17.000 cabeças de gado no Estado de São Paulo, em localidade distante a 130Km de Ribeirão Preto.
Ainda em Angola e numa vertente agrícola, mantêm uma exploração agrícola de 5000 hectares que produz milho.
OS ÚLTIMOS 10 ANOS
A partir de 2009 passou a vir mais vezes a Portugal e enquanto empresário veio à procura de vinha.
Adquiriu a propriedade vitivinícola Herdade do Couteiro-Môr, com 300 hectares, que já estava em operação na parte da vinha em 130 hectares e que tem vindo a modernizar.
Mais recentemente, adquiriu uma propriedade de 50 hectares na margem do Guadiana, em Almada de Ouro, Azinhal, em que já está a produzir vinho com a marca Uádi-Ana.
UMA PASSAGEM PELO PAPEL
O espírito empreendedor leva-o a estar atento às oportunidades e veio a investir no ano de 2012 na empresa AMS BR Star Paper, sediada em Vila Velha de Ródão, e com projectos de investimento na renovação da capacidade produtiva de mais de 40 milhões de euros.
A AMS era a 2ª empresa de papel e tinha os seus três sócios em conflito societário. A disponibilidade financeira e a visão, permitiu a aquisição da empresa, que 3 anos depois, em 4 de Junho de 2015, e conforme agência Lusa, foi vendida à Portucel, produzindo o que é a gama Navigator Tissues.
O HOMEM E A CIDADE QUE O VIU NASCER
Palácio Belmarço – Imóvel de conceituado valor patrimonial para a cidade de Faro, estava em avançado estado degradação. Em 2014 foi adquirido à ESTAMO – Instituição detentora do Património do Estado, em hasta pública. Os custos de aquisição são conhecidos – 445 mil euros – mas os da sua recuperação não foram divulgados. Todavia pode-se dizer que se trata de um acto de amor – e o amor não tem preço.
Para além de investimentos pontuais, presentemente tem em curso um investimento em Faro, na Avenida Calouste Gulbenkian, que pretende que seja um referencial para a cidade.
O HOMEM SOCIAL/FILANTRÓPICO
Foi um seu “padrinho” na África do Sul, que, ainda jovem e em Cape Town, lhe mostrou como DAR DE SI, de forma discreta e orientada a causas a que se ligam.
Uma das ligações que mantêm viva está ligada a apoios à infância; o apoio aos órfãos em Angola e o apoio e patrocínio à Casa dos Rapazes de Faro – a um dos pavilhões foi dado o nome de Laurinda Barão Rodrigues.
Foi eleito Presidente do Sporting Clube Farense e desde essa altura tem vindo a promover a interacção do clube com os cidadãos de Faro.
O fomento que o Clube está a promover, no apoio ao desporto e às camadas mais jovens, é realidade que já se faz sentir, mas cuja história o tempo e a memória dos homens tratarão de tornar viva.
Em 2018 foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito de Grau Ouro pelo Município de Faro.