A Delta Plus é uma variante nova? Não, é a Delta mais a mutação K417N, daí o nome Delta Plus ou em português Delta Mais. Ou seja, é uma mutação da variante indiana, mais conhecida como mutação nepalesa. Em Portugal, há pelo menos 24 casos da Delta Plus, confirmou a ministra da Saúde esta quarta-feira.
Até agora, a Delta Plus já foi identificada em dez países, segundo o relatório da Public Health England sobre as variantes do novo coronavírus divulgado na última sexta-feira. Além da Índia e de Portugal, também já circula nos Estados Unidos, China, Japão, Nepal, Rússia, Reino Unido, Suíça e Polónia. O relatório aponta ainda que Portugal é o terceiro país com mais casos comunicados da Delta Plus, depois dos EUA (83) e do Reino Unido (36).
Portugal é, aliás, o país da União Europeia com mais casos reportados da mutação nepalesa, como corrobora um outro relatório do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC) que cita os dados da Public Health England, publicado esta quarta-feira. O ECDC também adianta que “a proporção da variante B.1.617.2 + K417N [Delta Plus] é atualmente muito baixa nos países da UE/EEE”.
Apesar de a Índia estar a alertar agora para esta nova variante, ela já era conhecida em Portugal mas com outro nome: mutação nepalesa, mutação essa que supostamente esteve na origem da saída de Portugal da ‘lista verde’ de viagens do Reino Unido no início de junho, recorda o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.
“A variante Delta tem um conjunto de mutações que a caraterizam como um todo” e dentro dela há três linhagens importantes, sendo a segunda a mais perigosa em termos de transmissão e a que está a dominar em Portugal. “Dentro da variante ponto dois da Delta existe uma ‘sub-linhagem’ que tem uma mutação muito particular que está ligada ao Nepal”, explica o especialista ao Expresso.
“Chamamos em Portugal a mutação nepalesa”, confirma Tiago Correia, especialista em Saúde Internacional. Para já, é difícil saber se a Delta Plus vai representar um maior risco para Portugal. “Ninguém pode antecipar o que vai acontecer”, por isso, “para Portugal neste momento nada mudou”, responde.
“O que as autoridades indianas estão neste momento a estudar, e não têm conclusões sobre isso porque ainda é cedo, é se além de ser mais transmissível, a Delta Plus pode provocar um aumento da severidade da doença”, diz Tiago Correia. E segundo o investigador sénior no Global Health and Tropical Medicine, há alguns dados preliminares (sublinhando preliminares) que podem apontar para um agravamento do estado de saúde.
Mas para Manuel Carmo Gomes, também professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a “mensagem principal” é a de que a variante Delta como um todo é “perigosa porque é muito transmissível”. “Temos de nos concentrar na variante Delta globalmente, porque quer tenha a mutação do Nepal ou não, é 50 a 70% mais transmissível do que a britânica”, sublinha.
A ministra da Saúde já se pronunciou sobre esta mutação, pedindo “prudência”. “Temos partilhado com toda a honestidade e transparência os resultados quer das estimativas, quer das próprias sequenciações”, disse Marta Temido esta quarta-feira, à margem da apresentação do Relatório Primavera 2021 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde. E continuou: “As mutações dos vírus são fenómenos expectáveis e naturalmente temos de agir com prudência e observação”.
TER O ESQUEMA VACINAL COMPLETO É AINDA MAIS IMPORTANTE NA VARIANTE DELTA
Para evitar que a Delta Plus – ou qualquer variante do novo coronavírus, na verdade – ganhe representatividade em Portugal, é importante testar, vacinar e respeitar as medidas de saúde pública, como usar máscara e cumprir o distanciamento, concordam os dois peritos ouvidos pelo Expresso.
Mas, neste caso, reforçar a vacinação completa (com as duas doses) ganha outra importância pois como explica Carmo Gomes, “sabemos que a proteção que uma dose da vacina dá contra a Delta é inferior à que uma dose da vacina dá contra a variante britânica”, agora conhecida por Alfa. Por outras palavras, é importante conseguir rapidamente que as pessoas tenham o esquema vacinal completo, pois aí “a proteção é muito mais alta”, esclarece.
Completar o processo vacinal é importante para qualquer variante, não só para a Delta, salvaguarda Tiago Correia. “Confirmando que a variante é mais transmissível (todos os dados estão a apontar para isso), isso faz com que a circulação do vírus seja mais rápida do que a nossa capacidade de vacinar“, sustenta.
O Reino Unido optou por dar a primeira dose ao maior número de pessoas, descurando a segunda toma, Portugal felizmente não fez isso, salienta ainda o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Carmo Gomes.
Segundo os dados divulgados esta terça-feira pela task force do plano de vacinação contra a covid-19, 29% da população portuguesa (quase três milhões de pessoas) já concluiu a vacinação. Por outro lado, cerca de metade da população (46%, o que perfaz quase 4,7 milhões de pessoas) já tomou pelo menos uma dose da vacina.
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